Falta de planejamento trava mobilidade

Debates A Hora

Falta de planejamento trava mobilidade

No 11º debate do projeto Política Cidadã, participantes avaliaram potenciais e gargalos para melhoria do fluxo de pessoas e veículos nas cidades. Cultura do automóvel ainda muito presente na comunidade regional faz com que propostas para tornar as ruas mais humanas encontrem resistência

Falta de planejamento trava mobilidade
Infraestrutura viária não acompanha crescimento acelerado do número de veículos na região. Como consequência, ruas e rodovias se tornam obsoletas. Foto: Gabriel Santos
Vale do Taquari

Em 13 anos, a frota de veículos da região cresceu quase 45%. Por outro lado, a infraestrutura viária não acompanhou esse movimento. Como consequência, ruas e rodovias se tornam obsoletas. O que pode ser confirmado nas maiores cidades da região nos horários de pico.

O uso excessivo do automóvel, a falta de infraestrutura para bicicletas e a pouca preocupação com a acessibilidade foram os assuntos centrais de mais uma edição do projeto Política Cidadã.

O debate teve participação do analista de sistemas e ciclista, Carlos Kieling, do urbanista e professor da Univates, Augusto Alves, e do secretário de Planejamento de Lajeado, Giancarlo Bervian.

A atração semanal foi transmitida ao vivo pela Rádio A Hora 102,9. Até as eleições, em todas as quartas-feiras, ocorrerá um debate sobre temas ligados à política e à cidadania. Os Debates A Hora – Política Cidadã tem patrocínio da Docile, Indufrio, Mak Serviços, Metalúrgica Hassmann, A Mobília e Compacta.

Debate na Rádio A Hora abordou a mobilidade urbana, frente aos desafios e obrigações dos próximos gestores para melhorar a infraestrutura das cidades. Foto: Matheus Chaparini

Cidade preparada para o futuro

Para o professor Augusto Alves, a situação enfrentada por pedestres e motoristas tem como origem a falta de uma política de planejamento urbano ao longo do tempo. “A cidade cresce sem um plano. Sem se preparar para os desafios gerados pelo aumento da população e de densidade das áreas centrais.”

A mobilidade não foi pensada no todo, diz. “As melhorias são pontuais e para o trânsito, sempre dando mais atenção aos automóveis.” Na análise de Alves, é preciso questionar alguns aspectos culturais, como a grande dependência do automóvel. “Ainda estamos engatinhando neste assunto. Temos como hábito o carro, por ser mais cômodo e conveniente. Mas há um preço alto.”

Essa transformação na forma de deslocamento das pessoas se acentuou a partir da metade dos anos 90, relembra o secretário Giancarlo Bervian. Hoje, Lajeado tem a prevalência de 1,5 veículos por habitante, uma das maiores do país, calcula. “São em torno de 72 mil veículos. Deste total, algo em torno dos 40 mil carros.”

O risco de ser ciclista

Com cidades pensadas para o fluxo dos veículos automotores, pedestres e ciclistas acabam enfrentando mais dificuldades. Mesmo com a instalação de ciclovias em Lajeado, o modelo demonstra falta de planejamento, afirma Carlos Kieling.

O analista de sistema começou a usar a bicicleta como principal meio de transporte durante a greve dos caminhoneiros, em 2018. “Tudo o que eu fazia de carro, agora faço de bike”, conta. Ainda assim, conta que são necessários diversos cuidados para pedalar com segurança. “Infraestrutura não existe. É uma realidade brasileira. Temos ciclovias que ligam o nada ao lugar nenhum.”

As calçadas e a Júlio de Castilhos

Para Ernani Schuster, são necessários mais projetos de acessibilidade. Foto: Gabriel Santos

A rua símbolo do comércio de Lajeado e da região é um dos pontos com maior movimento de veículos. Pedalar é um perigo, afirma Kieling. “São carros estacionando, portas abrindo. Não é propício ao ciclista.”

“Às vezes o gestor precisa tomar a decisão. Tem de fazer o teste para ver como seria. Sem dúvida vai sofrer críticas. Mas se der certo, as pessoas vão reconhecer”, sugere Alves.

Outro problema é a intervenção de serviços tercerizados, como instalação dos postes. “É muita gente mexendo no espaço público sem nenhum critério”, afirma o urbanista e professor Augusto Alves. Quando à manutenção das calçadas, os debatedores acreditam que o maior problema está nos bairros, em especial para pessoas com limitação de movimentos.

Para contar sobre esses desafios, o empresário Ernani André Schuster fez uma participação no debate por telefone. Cadeirante faz oito anos, realça a dificuldade de locomoção. “Placas nas calçadas, dificuldade de acessos aos prédios públicos, locais de estacionamento em lombas e rampas fora dos padrões”, enumera.

Para ele, é importante que os gestores públicos consultem pessoas com deficiência para desenvolver projetos de acessibilidade.

Ouça o Debate na íntegra:

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