Em 13 anos, a frota de veículos da região cresceu quase 45%. Por outro lado, a infraestrutura viária não acompanhou esse movimento. Como consequência, ruas e rodovias se tornam obsoletas. O que pode ser confirmado nas maiores cidades da região nos horários de pico.
O uso excessivo do automóvel, a falta de infraestrutura para bicicletas e a pouca preocupação com a acessibilidade foram os assuntos centrais de mais uma edição do projeto Política Cidadã.
O debate teve participação do analista de sistemas e ciclista, Carlos Kieling, do urbanista e professor da Univates, Augusto Alves, e do secretário de Planejamento de Lajeado, Giancarlo Bervian.
A atração semanal foi transmitida ao vivo pela Rádio A Hora 102,9. Até as eleições, em todas as quartas-feiras, ocorrerá um debate sobre temas ligados à política e à cidadania. Os Debates A Hora – Política Cidadã tem patrocínio da Docile, Indufrio, Mak Serviços, Metalúrgica Hassmann, A Mobília e Compacta.
Cidade preparada para o futuro
Para o professor Augusto Alves, a situação enfrentada por pedestres e motoristas tem como origem a falta de uma política de planejamento urbano ao longo do tempo. “A cidade cresce sem um plano. Sem se preparar para os desafios gerados pelo aumento da população e de densidade das áreas centrais.”
A mobilidade não foi pensada no todo, diz. “As melhorias são pontuais e para o trânsito, sempre dando mais atenção aos automóveis.” Na análise de Alves, é preciso questionar alguns aspectos culturais, como a grande dependência do automóvel. “Ainda estamos engatinhando neste assunto. Temos como hábito o carro, por ser mais cômodo e conveniente. Mas há um preço alto.”
Essa transformação na forma de deslocamento das pessoas se acentuou a partir da metade dos anos 90, relembra o secretário Giancarlo Bervian. Hoje, Lajeado tem a prevalência de 1,5 veículos por habitante, uma das maiores do país, calcula. “São em torno de 72 mil veículos. Deste total, algo em torno dos 40 mil carros.”
O risco de ser ciclista
Com cidades pensadas para o fluxo dos veículos automotores, pedestres e ciclistas acabam enfrentando mais dificuldades. Mesmo com a instalação de ciclovias em Lajeado, o modelo demonstra falta de planejamento, afirma Carlos Kieling.
O analista de sistema começou a usar a bicicleta como principal meio de transporte durante a greve dos caminhoneiros, em 2018. “Tudo o que eu fazia de carro, agora faço de bike”, conta. Ainda assim, conta que são necessários diversos cuidados para pedalar com segurança. “Infraestrutura não existe. É uma realidade brasileira. Temos ciclovias que ligam o nada ao lugar nenhum.”
As calçadas e a Júlio de Castilhos
A rua símbolo do comércio de Lajeado e da região é um dos pontos com maior movimento de veículos. Pedalar é um perigo, afirma Kieling. “São carros estacionando, portas abrindo. Não é propício ao ciclista.”
“Às vezes o gestor precisa tomar a decisão. Tem de fazer o teste para ver como seria. Sem dúvida vai sofrer críticas. Mas se der certo, as pessoas vão reconhecer”, sugere Alves.
Outro problema é a intervenção de serviços tercerizados, como instalação dos postes. “É muita gente mexendo no espaço público sem nenhum critério”, afirma o urbanista e professor Augusto Alves. Quando à manutenção das calçadas, os debatedores acreditam que o maior problema está nos bairros, em especial para pessoas com limitação de movimentos.
Para contar sobre esses desafios, o empresário Ernani André Schuster fez uma participação no debate por telefone. Cadeirante faz oito anos, realça a dificuldade de locomoção. “Placas nas calçadas, dificuldade de acessos aos prédios públicos, locais de estacionamento em lombas e rampas fora dos padrões”, enumera.
Para ele, é importante que os gestores públicos consultem pessoas com deficiência para desenvolver projetos de acessibilidade.
Ouça o Debate na íntegra: