Ensino remoto desafia pais e filhos a uma nova rotina

Educação e pandemia

Ensino remoto desafia pais e filhos a uma nova rotina

Mesmo com a possibilidade de volta das aulas presenciais nas próximas semanas, atividades a distância permanecerão. Adaptação dos lares e das rotinas se faz necessária para garantir o aprendizado

Ensino remoto desafia pais e filhos a uma nova rotina
O estudante João Vitor está no 7º ano da EMEF Léo Joas, em Estrela. Na casa dele, a cozinha foi transformada em sala de aula / Crédito: Gabriel Santos
Vale do Taquari

Passados mais de cinco meses de suspensão das aulas presenciais em todo o país, a reabertura de creches e escolas começa a se desenhar no Estado.

Em meio a tantas controvérsias sobre os planos e estratégias a serem adotados em cada município, uma coisa é certa: as atividades remotas permanecerão, ao menos para parte dos estudantes, pelos próximos meses.

O Estado definiu um sistema híbrido. Mesmo com a volta dos estudantes às escolas, os pais terão o direito de escolher se consideram seguro ou não mandar seus filhos para a escola ou se preferem manter as atividades a remotas.

Com dificuldades no acesso à internet e de acompanhar os filhos na educação remota, pais e professores vivem momento de adaptação desde a suspensão das aulas presenciais.

Sem computador e com internet precária

A pandemia colocou uma série de obstáculos no ensino remoto dos estudantes Marley e Maria Luiza Sanches, de oito e dez anos, respectivamente. Ambos são estudantes do ensino fundamental da Escola Estadual Moinhos, em Estrela, que teve as aulas suspensas em março.

O ensino remoto escancara a desigualdade e as dificuldades enfrentadas pelos estudantes e professores de colégios públicos, como o acesso limitado à internet, falta de computadores e espaço em casa, além da baixa escolaridade dos familiares. São estes os problemas relatados pela mãe, Amanda Sanches.

As atividades são retiradas na escola a cada duas semanas. A família possui apenas dois celulares, um deles doado por familiares após a enchente de julho. Sem computador, os obstáculos são ainda maiores. Mesmo assim, a mãe afirma fazer o que pode para garantir a educação dos filhos.

Apesar das dificuldades, Amanda, que é gestante e pertence a grupo de risco, é cautelosa em relação às aulas presenciais. “O ano já está perdido, pouco se aprendeu. Se os números voltarem a subir, acredito ser mais prudente retornar no próximo ano”, pensa.

 

Sem computador nem internet, Amanda retira os materiais impressos na escola e acompanha os filhos na realização das tarefas / Crédito: Gabriel Santos

A cozinha virou sala de aula

João Vitor Padilha, de 12 anos, é estudante do 7º ano da EMEF Léo Joas, no Bairro das Indústrias, em Estrela. Em casa, a mesa da cozinha virou classe de sala de aula. Ali ficam os cadernos, o estojo e o computador para acessar a plataforma digital onde a escola posta todos os conteúdos.

Na geladeira, uma folha mostra a rotina diária do aluno. A manhã é destinada aos estudos e tarefas enquanto que a tarde é reservada para o lazer. “O desafio é simular um ambiente escolar dentro de casa com uma rotina parecida”, reforça a mãe, Juliana dos Santos, que também teve a sua rotina alterada.

O trabalho de massoterapia, será transferido de uma sala alugada para a residência, para auxiliar o filho nas atividades escolares.

O contato com a escola agora ocorre pelo Whatsapp ou pelas plataformas digitais criadas em julho. “A casa virou uma sala de aula”, diz Juliana ao mencionar também as dificuldades de manter a concentração do filho dentro de casa.  “Torço para que as aulas sejam retomadas. As plataformas digitais e aplicativos não substituem o professor. Isso é perceptível”, avalia.

Procurando sinal

Para os irmãos Gabriela, 14, e Pedro Henrique Helff, 12, estudar a distância tem sido uma aventura. Sem sinal de internet em casa, procuram um ponto elevado com conexão 3G para o celular.
Essa é a realidade de muitos alunos que vivem em áreas rurais. Conforme levantamento de escola estadual de Boqueirão do Leão, 20% dos alunos não têm acesso à internet em casa.

“Na lavoura aqui perto tem sinal e, quando é algo mais rápido, faço dali mesmo. Quando é um trabalho maior, aí vou à casa de amigos”, conta a estudante do 8° ano. Apesar das dificuldades, ela consegue acompanhar as aulas remotas. “O que mais sinto falta é dos professores”, acrescenta.

O celular antes usado para jogos, agora é ferramenta de estudo para Pedro Henrique. “Tem algumas horas do dia que a internet é mais rápida, até consigo assistir vídeos para entender melhor as aulas”, comenta.

Ainda conforme a mãe, Lorena Hellf, 38, faz muita falta a presença do professor. “Tenho pouco estudo e isso limita muito na hora de ajudar os filhos nas atividades”, desabafa.

“Parece que o estado vai fornecer chip para acessar internet, mas pouco adianta, pois não tem sinal aqui em casa”, acrescenta Lorena.

O pai Jeferson Helff, 40, busca alternativas para que os filhos possam estudar à distância, em casa. “O custo para ter internet, seja via satélite ou 3G, fica na faixa de R$ 1,5 mil. É uma despesa não prevista e a última safra de fumo não rendeu como eu imaginava”, revela.

 

Em Boqueirão do Leão, na casa dos Helff, só há conexão no meio da lavoura / Crédito: Felipe Neitzke

Colaboraram Felipe Neitzke e Gabriel Santos

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