Eu era criança quando ouvi meu pai e meu avô Albino falando do porto. Eram os anos 1970, tinha seleção canarinho e “pra frente, Brasil”. Meu pai, que estudou em Porto Alegre, lembrava das poucas vindas pra Lajeado durante o ano letivo, pois a viagem era feita de “vapor”. As visitas à família se limitavam aos períodos de férias. “Mas vai ter trem também” exclamou o vô Albino. Nascido na fronteira, servidor público federal, ele viveu os áureos tempos da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima – RFFSA. Por lá, na fronteira e na metade sul, se andava de trem, tinha o “trem húngaro”, que levava passageiros de Porto Alegre até Santa Maria e de lá pra além. E tudo vai juntar com a “Estrada da Produção”, o trigo e a soja que vem do planalto médio pode seguir de navio, de trem ou de caminhão. “E a gente também”, perguntei? Sim, respondeu meu pai, e no aeroporto de Estrela também vão pousar aviões, além dos teco-tecos.
Ainda criança, eu avistava as obras do porto de Estrela, mirando o olhar desde as barrancas do lado de cá e dos belvederes da rua Osvaldo Aranha. Quando inaugurou (acho que foi lá por 1977 ou me corrijam os historiadores), eu já era adolescente e se falava no entroncamento hidrorodoferroviário, ou algo assim, como a junção dos diversos modais de transporte de carga. Trem de passageiro não veio. Navio de passageiro também não. Avião, só os teco-tecos. E a coisa funcionou por um tempo, me parece, mas a paixão do brasileiro por carro e por caminhão foi deixando os trens mais pro lado da nostalgia e do brinquedo de criança. Os navios também ficaram pra trás, talvez pelas dificuldades técnicas, esse negócio de calado, dimensões, tonelagem e de ter que passar pelos limites da eclusa da barragem de Bom Retiro.
A RFFSA, cantada em prosa e verso por Kleiton e Kledir, foi extinta e parte dos seus ativos foram privatizados. Uma tal de ALL assumiu as operações e depois sumiu. Ao que sei, se arrancaram trilhos e desativaram operações. Ao menos por aqui, os trens foram rareando até desaparecerem. O Porto de Estrela parou (ou quase parou) com as idas e vindas de outorgas e de “autoridades responsáveis” pela operação. Agora, o Município assumiu a administração do complexo e se discute como viabilizá-lo. Os especialistas afirmam: trem turístico e passeio de barco não vão pagar a conta toda. Trem de carga e navio de carga necessitam de altíssimos investimentos e com certeza enfrentarão uma oposição velada dos transportadores rodoviários.
Torço para dar certo, para que todo o potencial logístico seja implementado, com crescimento social e econômico. E os aviões? Por enquanto, só nos resta seguir admirando os teco-tecos e os ultraleves riscando os céus do Vale.