“Tenho um sentimento de que a natureza se comunica comigo”

Abre aspas

“Tenho um sentimento de que a natureza se comunica comigo”

Natural de Lajeado, Leandro Lange, 45, descobriu que cuidar da terra lhe faz feliz. Largou o trabalho formal, como técnico em prótese dentária e de representante comercial, para se dedicar à agricultura ecológica. Junto com o cultivo, mantém outra paixão, a música. No paralelo entre a vida no campo e as composições, encontrou na simplicidade uma poderosa fonte de inspiração.

“Tenho um sentimento de que a natureza se comunica comigo”
Lajeado

• Como uma pessoa urbana resolveu se tornar agricultor ecológico?
Sempre gostei das coisas do campo. Eu andava estressado com o trabalho e querendo empreender em outra área. Conversando com um amigo, tivemos a ideia de produzir hortaliças. Em meio a essa construção, resolvemos seguir na onda dos orgânicos. Pois pensávamos: como vamos colocar legumes com veneno na mesa das nossas famílias?

• Como foi esse processo de deixar o emprego formal?
Estou na atividade faz cinco anos. Eu não conhecia nada da produção. Então conseguimos uma terra em Arroio do Meio e resolvemos começar. Cometemos muitos erros, mas fomos aperfeiçoando. Aquela rotina da cidade, de correria, cumprir prazos, metas, estava me fazendo mal. Hoje sou uma pessoa diferente do que era.

• E como conciliar a música com essa nova rotina?
A música sempre fez parte da minha vida. Desde criança. Meus pais, tios, primos. Todos tocam e cantam. Eu de Bico Fino tenho 20 anos de estrada.

• Por que escolheu o blues e o country como os preferidos?
São estilos que me identifico. O som da harmônica, a gaita de boca, me hipnotiza. Gosto dos instrumentos acústicos, do violão, do bandolin, o banjo. Nesses ritmos têm esses sons muito característicos.

• Onde a música encontra o campo?
Há uma palavra, que tanto na música quanto na agricultura que é essencial. A simplicidade. A música pode nos tocar e ter apenas dois ou três acordes. A vida no campo é produtiva, mas é simples.

• Quando trabalha na roça, o que lhe passa pela cabeça?
Uma sensação de alívio e de liberdade. Eu relaxo. Observo a natureza. Vejo os pássaros se aproximar quando ligo o trator para lavrar a terra. Tenho um sentimento de que a natureza se comunica comigo.

• Esse trabalho lhe trouxe mais inspiração?

Sim. Há reflexos. Temos músicas da Bico Fino, como “Back Home”, que surgiu dessas experiências no campo. Ajudou na inspiração. Estamos também gravando outras composições, como “Garotos Sulistas” que conta essa forma de ver e sentir o mundo, a natureza.

• O que essa transformação da cidade para o campo lhe ensinou?
Somos capazes. Podemos não ser perfeitos, mas quando nos esforçamos, conseguimos aquilo que desejamos. É o mesmo processo de alguém que é do campo e resolve viver na cidade. Trabalhar em um escritório, em alguma função urbana. Ele pode ter algumas dificuldades pela falta de experiência, mas vai aprender.Foi o que aconteceu comigo. Nunca tive experiência na terra. Sempre fui uma pessoa urbana. Eu quis muito essa mudança e hoje tenho orgulho de ter sido o primeiro agricultor de Lajeado a conquistar a certificação de produção orgânica. Esse envolvimento, de conhecer outras pessoas, de ajudar a formar um grupo ecológico. Tudo isso me faz muito bem.

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