Preço do frango reage, mas ainda preocupa indústria

Economia regional

Preço do frango reage, mas ainda preocupa indústria

Excesso de produto no mercado e consumo abaixo do previsto trouxe instabilidade para a cadeia produtiva. Nas últimas duas semanas, houve aumento no preço da carne de frango para o consumidor

Preço do frango reage, mas ainda preocupa indústria
No mês passado, preço médio do quilo do frango aumentou 4,7% em relação a julho, valorização insuficiente frente aos custos de produção da indústria
Vale do Taquari

Custos de produção elevados, excesso de produto e redução no consumo. Como resultado, a carne de frango com preços baixos para os consumidores, e dificuldade à cadeia produtiva. Essa tem sido uma tônica do mercado desse produto nos últimos meses.
Indústrias do setor se preparavam para um aumento da demanda, tanto no mercado interno quanto à exportação. No entanto, a realidade saiu diferente daquilo que foi planejado.
Com mais carne de frango no mercado, o preço teve forte queda nos primeiros meses do ano e agora começa a se equilibrar. “Para o consumidor é ótimo. Mas o problema é para quem produz. Inclusive há impactos para o Vale do Taquari, um dos maiores produtores gaúchos”, diz a economista Cintia Agostini.
Nos meses de baixa no preço nos mercados, os insumos não seguiram esse movimento. Pelo contrário, devido à seca no RS e a alta do dólar, a ração ficou mais cara. “Isso é muito ruim, pois pressiona a indústria a pagar menos ao produtor. É preciso olhar para todo o cenário, pois essa desvalorização é prejudicial à economia do Vale.”
O presidente da cooperativa Languiru, Dirceu Bayer, reforça essa preocupação. “O quadro não é interessante para a carne de frango. Ainda que tenhamos uma reação nas últimas semanas, percebemos que a alta no preço é mais lenta do que das carnes suína e bovina.”
No país, o nível de abate costuma ficar entre 460 a 480 milhões de frangos. Durante a pandemia, esse número saltou para 520 milhões. Analistas indicam que a suspensão da China na importação de algumas unidades fabris brasileiras elevou a oferta do produto no mercado interno.

Espera por respostas
No fim do mês passado, o governo brasileiro pediu às autoridades chinesas para que apresentem os resultados dos testes laboratoriais que detectaram traços do novo coronavírus em asas de frango exportadas pelo país.
O Brasil afirmou que dará continuidade às gestões nos níveis municipais, provinciais e centrais da China para obter os laudos dos testes, além de outras informações relevantes para o caso.
As alegações de contaminação referem-se a asas de frango produzidas em unidade da cooperativa Aurora em Xaxim (SC). A empresa suspendeu de forma voluntária as exportações para a China após a partir do dia 20 de agosto, enquanto aguarda mais informações sobre a suposta contaminação.
Além da decisão Aurora, há outras seis empresas do país com os certificados suspensos, entre elas, duas de Lajeado, a BRF e a Minuano Alimentos. A China é a maior compradora de carnes brasileiras.

Volta ao mercado
A Dália Alimentos reingressou no mercado de produção de carne de frango no início deste ano. “Os primeiros meses da indústria frango de corte estão dentro da normalidade, pois todo setor produtivo tem oscilações, com alternância entre períodos positivos e negativos” argumenta o presidente executivo da cooperativa, Carlos Alberto Freitas.
De acordo com ele, com a dificuldade em negociar com a China, a estratégia da Dália Alimentos foi de deslocar os produtos para outros países asiáticos. “Por enquanto não sentimos qualquer impacto das suspensões”, afirma.


“Sem retomada do crescimento, continuamos enfrentando problemas”

O aumento nos custos de produção é o principal fator de desarranjo na cadeia produtiva do frango, avalia a professora e economista Fernanda Sindelar.

FERNANDA SINDELAR, economista e professora da Univates

A Hora – Essa relação de mercado, de excesso de produção frente à queda das exportações, em especial à China, impacta de que forma na cadeia produtiva?

Fernanda Sindelar – Por enquanto, a exportação ainda não caiu muito, mas tem-se uma expectativa que nos próximos meses a China reduza a importação devido a um crescimento da produção interna. Isso traria redução das compras do exterior. Quanto ao preço, nas últimas semanas a carne de frango até subiu, mas o custo dela ainda é bem inferior em comparação com as demais carnes. E o crescimento no preço está associado ao aumento do custo de produção, dado os preços de insumos, especialmente da soja e do milho.

Como equilibrar essa balança, para que o produto seja atrativo aos consumidores sem prejuízos à indústria?

Fernanda – Pergunta difícil, especialmente quando temos aumentos nos custos de produção, e neste caso, a variação dos preços não é reflexo de alterações na oferta e demanda, mas dos custos. Logo os consumidores pagarão mais e a indústria não vai verificar rentabilidade. Junto com isso, continuamos enfrentando séries problemas econômicos decorrentes da pandemia. Sem uma retomada do crescimento, continuamos enfrentando problemas associadas à baixa renda

 

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