• Como a música entrou na sua vida?
Sou de uma família de músicos. Meu pai tem doze irmãos. Os mais velhos já tocavam piano. Tenho tios que são maestros e desde pequeno mostrava alguma aptidão para música.
Com dois anos, meus pais se mudaram para São Paulo e com quatro meu pai me colocou em uma academia de música clássica. Meu primeiro instrumento foi o piano. Hoje toco violão, contrabaixo, percussão e também canto.
• O que lhe trouxe para o Vale do Taquari?
Em São Paulo, meu pai trabalhou de gerente em um mercado. Depois abriu uma padaria. Mas devido a um desentendimento com o sócio, resolveu voltar para o Paraná. Eu tinha uns 11 ou 12 anos. Ficamos mais uns dois anos lá e chegou outra proposta de trabalho para o meu pai. Nos mudamos para Estrela. Foi bem complicado no início, não havia uma academia de música para eu continuar os estudos. Foi ali que comecei a praticar outros instrumentos, como violão, contrabaixo e canto.
• Como e por que se afastou da música? Você sonhava viver da arte?
O sonho de viver da arte sempre me acompanhou. Mas é muito difícil conseguir reconhecimento e as frequentes mudanças da família me fez desisti.
É aquilo, a gente vai crescendo, precisa trabalhar. Não consegue conciliar a música com o trabalho. Querendo ou não, chega uma hora que desanima. Teve momento em que eu disse: quer saber, não vou mais tocar. Parei. Mesmo assim, sempre tive a esperança de voltar a tocar e viver de música. Deus tinha reservado algo para mim.
• E quando voltou a se dedicar a música?
Comecei aos poucos. Mantive-me estudando outros instrumentos. Sem tocar piano fiquei uns dez anos. Tocava teclado, mas piano mesmo, o clássico, nunca mais tinha chegado perto. Sou evangélico e passei a dar aulas na igreja. Também fazia arranjo para orquestras e para corais. Mas seguindo trabalhando como jardineiro e serviços gerais.
O piano pensei que eu nunca mais teria oportunidade de tocar, de retomar os estudos e fazer apresentações.
• Há cerca de um mês, foi filmado tocando em um piano no teatro da Univates. Como foi esse episódio?
Foi solicitado um serviço no teatro. Sabe como é cabeça de músico, pensei: todo teatro que eu conheço tem um piano. Aqui não será diferente. Fui ao banheiro, trocar de roupa e na passagem olhei para o lado tinha um negócio coberto. Era de manhã, levantei a lona e era um piano. Era horário de serviço e fiquei contando as horas para sentar e fazer um som. No almoço, comi rápido e aproveitei alguns minutos do intervalo. Fui chegando perto e pensei: o máximo que pode acontecer é me mandarem parar e me xingar.
Então comecei a tocar algumas músicas que lembrava. Foi algo do Mozart, Tico-Tico no Fubá e um tema gospel. Estava tirando a ferrugem. Nisso, alguns colegas e outras pessoas que estavam por perto ouviram e começaram a filmar.
Eu não tinha visto. Depois publicaram os vídeos nas redes sociais e isso deu muita repercussão. Muita gente veio falar comigo. Foi muito legal mesmo.