O Facebook registrou lucro líquido de R$ 26,7 bilhões no segundo trimestre deste ano, o dobro do mesmo período no ano passado. Definitivamente, a pandemia subverte a percepção das pessoas em todas as partes do mundo e mesmo diante da crise moral pela qual a plataforma atravessa, a empresa supera as próprias expectativas, apesar da saída de grande anunciantes mesmo antes da chegada da Covid-19. Esse crescimento se deve em muito à inserção mais ativa de milhares de pequenos negócios que encontraram nesta e outras mídias sociais uma alternativa acessível e eficaz para manter firme o relacionamento com seus consumidores e ainda ampliar seu poder de alcance.
Sou favorável ao controle sobre excessos e discursos de ódio em nossas redes sociais, mas acima de tudo, acredito que a construção desses canais, decorrente de todo o avanço tecnológico que tivemos nos últimos 30 anos, não deve ser tolhida por manipulação ou restrições impostas por mera interpretação. Temos que aprender a seguir leis e fiscalizá-las quando necessário. Regulamentar é uma coisa. Aceitar que esse discurso cambie para a censura é algo que não podemos permitir. Lembro também que educar é o primeiro passo para termos pessoas comprometidas com a cidadania e o respeito ao outro. Quem não respeita o outro na rua ou em qualquer ambiente físico, não respeita também no virtual.
Muitos falam de um novo normal após a pandemia. E falam como se esse contexto simplesmente se autoconstruísse a partir da própria reorganização celular, como se, livres do vírus, simplesmente nos reestruturássemos em um novo modelo social, regenerados. Entendo que a transformação segue seu processo natural, mas também não podemos simplesmente crer que “sempre os seres humanos irão viver e progredir para uma vida maior, mais ampla e mais completa”, conforme escrito por William Du Bois, em 1957. Muitas vezes a superação envolve aspectos estruturais e uma boa dose de entrega, além de verdade e propósitos.
Frentes de financiamento e atração de investidores, redução da carga tributária, desburocratização e o enxugamento da máquina pública serão essenciais e devem pautar planos de governo e campanhas eleitorais nos próximos meses. Mas não pode ser apenas discurso de campanha. A expectativa do eleitor é receber informação estruturada para que possa tomar as suas decisões em cima de dados e fatos. Políticos de tribuna, perspicazes em oratória, devem construir seu repertório com projetos tangíveis e capazes de revigorar a auto estima de seus eleitores e de um grande número de indecisos.
Embora possamos contornar algumas restrições impostas pelo vírus e nos locomover por aí com máscara e álcool gel, entender que a rede social é palco para exposição de pensamentos, propostas e até devaneios, nada mais é que a consolidação de uma sociedade livre, democrática e múltipla. Medo da rede social deve ter quem não tem o que dizer e usa o poder para restringir aqueles que dependem de canais alternativos para dizer o que pensam. O próprio Du Bois também nos lembrou que o processo para se alcançar uma sociedade mais justa segue incompleto. Segundo ele, caberia às gerações futuras (nós, no caso) acreditar na vida e contribuir para concretização do ele chamava de “florescimento humano”. As redes sociais nos oferecem espaço para isso. Cabe aos que se assumem capazes, ir lá e fazer.