Proposta do Estado é rejeitada por 94% dos prefeitos

Educação

Proposta do Estado é rejeitada por 94% dos prefeitos

O plano de uma retomada gradual das aulas presenciais pela Educação Infantil é considerado um risco. É o que aponta pesquisa da Famurs. Para gestores das maiores cidades da região, o modelo mais adequado deveria estipular a volta com alunos das séries mais avançadas

Proposta do Estado é rejeitada por 94% dos prefeitos
Foto: Arquivo A hora
Vale do Taquari

Primeiro o Ensino Superior, em seguida o Médio. Esse é o formato mais viável para o retorno gradual das aulas presenciais na opinião dos prefeitos da região. A própria Associação dos Municípiso (Amvat) inclusive elaborou um documento para ser apresentado ao governo do Estado com essa avaliação local.

Conforme o prefeito de Imigrante e presidente da entidade, Celso Kaplan, os gestores públicos da região defendem que crianças até três anos não retornem às escolas neste ano. A posição da Amvat também é seguida pela Associação dos Secretários Municipais de Educação (Asmevat).

Pela análise das entidades, é preciso retornar primeiro com estudantes mais velhos pelo fato de conseguirem cumprir as medidas de distanciamento. Para Kaplan, também é preciso responder algumas questões antes de determinar data, como o funcionamento do transporte escolar. “Esse é um assunto delicado, pois temos dificuldade de dar segurança a esta volta. Mas entendemos que a Educação Infantil deve ser a última a retornar”, resume o presidente da Amvat.

Essa posição foi apresentada hoje em videoconferência da Federação das Associações dos Municípios do RS (Famurs). Conforme o presidente da organização e prefeito de Taquari, Emanuel Hassen de Jesus, a reunião com as 27 regionais gaúchas terá como mote a elaboração de um documento com sugestões dos prefeitos para uma retomada das aulas.

Na avaliação dele, é preciso que haja uma queda consistente no avanço da covid-19 antes de estipular uma data para reabertura das escolas. Na manhã de ontem, a Famurs apresentou os resultados da pesquisa de opinião sobre a proposta do Estado.

Dos 497 prefeitos, 442 responderam. Deste total, 94% são contra o retorno das aulas no calendário sugerido pelo governo do Estado. Quanto ao cenário do que precisa acontecer para uma volta, 38% responderam que só a partir da vacina, 33% com a redução dos casos e 25% defendem um retorno só em 2021.

Rede pública e particular

Outro detalhe da pesquisa aponta que os prefeitos preverem que as redes públicas e privadas retornem juntas. Essa também é a concepção do Ministério Público gaúcho. Por meio de nota, as promotorias de Justiça Regionais de Educação expressam que cabe ao poder Executivo do RS uma decisão sobre a retomada das aulas presenciais. Porém, destacam a necessidade de garantir acesso à educação de qualidade e de segurança à saúde de alunos e professores.

Os promotores signatários também realçam que não deve haver diferença entre as redes públicas e privadas no que diz respeito à autorização de retorno das atividades presenciais.

Pela pesquisa da Famurs, 86% dos prefeitos defendem a volta das redes no mesmo período, sem antecipação às particulares.

“Precisamos criar evidências”

Diferente da maioria dos municípios, Lajeado tem um projeto para o retorno das aulas para os 3º anos do Ensino Médio das escolas privadas. A sugestão está em análise desde o mês passado no Estado. “Aguardamos uma resposta. Precisamos criar evidências sobre o impacto de uma possível volta”, argumenta o prefeito Marcelo Caumo.

Na avaliação dele, essa experiência poderia servir de referência para ajudar o Estado a tomar uma decisão quanto às atividades presenciais. Pela proposta do governo município, feito com as instituições de ensino, seriam definidas as turmas, com testes em todos os alunos. Antes das aulas e depois de 15 dias dos encontros. Os resultados das amostras balizariam a continuidade ou não dos encontros.


ENTREVISTA

Fernanda Storck Pinheiro, pró-reitora de Ensino da Univates

“O desafio é retomar com a segurança”

Pela proposta do Estado, o Ensino Superior seria o último a retornar. Ainda assim, a Univates já conta com algumas atividades presenciais desde julho, quando foram liberadas aulas em laboratórios. A pró-reitora de Ensino, Fernanda Pinheiro, detalha os movimentos da universidade durante a pandemia.

A Hora – Qual a avaliação da Univates sobre a possibilidade de retorno do Ensino Superior no dia 8 de outubro?
Fernanda Storck Pinheiro – Acompanhamos a discussão e aguardamos uma posição oficial dos governantes. Caso se confirme esta possibilidade, será importante dialogar com os estudantes para organizar este retorno. É importante que se diga que o modelo virtualizado tem se mostrado eficaz e satisfatório para os componentes teóricos e, nesse sentido, podemos pensar em encontros presenciais que não sejam semanais, mas observando uma periodicidade que possa ser definida com as turmas e com os professores.
Ainda, estamos avaliando a possibilidade de transmissão síncrona da aula que estiver ocorrendo no campus, adaptando recursos de tecnologia e de pessoas. Nada disso está 100% definido, mas todas são alternativas possíveis.

Quais as estratégias para receber os alunos?
Fernanda – Desde março temos instituído um comitê local que organizou uma série de protocolos. As mesmas estratégias de cuidados e prevenção que estamos aplicando ao ensino presencial das aulas práticas devemos observar para qualquer outra atividade acadêmica no campus. Há pontos que são fundamentais: higienização rigorosa dos espaços, uso de equipamentos de proteção (especialmente máscaras) e, o mais importante, distanciamento que deve ser, no mínimo, de 2 metros.

O que precisa ser feito em termos de adaptação da estrutura da Univates?
Fernanda – Temos a avaliação da capacidade de todos os espaços, de acordo com o distanciamento necessário. No início de junho foram retomadas as aulas práticas de laboratório e foi um bom piloto para trabalharmos com a circulação de estudantes no campus. As aulas práticas têm sido bem importantes para nos adaptarmos ao momento, atentando para o distanciamento e para as demais normas.

Quais as lições deixadas pela pandemia até então?
Fernanda – Descobrimos novas ferramentas, aplicamos novas práticas. Acertamos e também erramos. Corrigimos rotas e percebemos que a qualidade do ensino e a relação com nossos estudantes se manteve sólida. Percebemos, também, um engajamento coletivo por parte dos alunos, que foram parceiros nessa adaptação, fazendo as observações cabíveis, dialogando com a Univates e assumindo sua postura de estudantes, co-responsáveis por sua formação.
Apesar disso, também nos deixa a lição que a presença física faz falta. Sentimos a ausência dos estudantes no campus, da vida universitária acontecendo nos corredores. O desafio é retomar com segurança e com o cuidado que o momento exige.

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