Um dos grandes desafios da política no país ainda é a participação das mulheres nos espaços de poder. Na região, não é diferente. No Vale do Taquari, elas representam 48,5% do eleitorado. Ainda assim, apenas dois dos 38 municípios têm mulheres como chefes do Executivo, sendo que apenas uma delas foi eleita para o cargo.
Em Doutor Ricardo, Cátea Rolante (MDB) está em seu primeiro mandato. Em Anta Gorda, Madalena Zanchin (PP) assumiu o posto após a morte do ex-prefeito, Celso Casagrande (PDT), em outubro de 2019.
Nas câmaras de vereadores, a participação também é baixa. Para cada cadeira ocupada por uma vereadora, há outras cinco ocupadas por homens. Na região, nunca uma mulher foi presidente da Associação de Municípios (Amvat) ou da Associação dos Vereadores (Avat).
A pequena participação feminina na política gera situações inusitadas, como o caso do Partido da Mulher Brasileira. A sigla tem apenas uma filiação na região. E é de um homem.
Em nível regional, os partidos buscam aumentar o número de candidaturas femininas. Pela lei eleitoral, é preciso ter, no mínimo, 30% de candidatos a vereador de cada gênero, o que é ainda é um desafio, principalmente nas cidades menores.
Ainda assim, boa parte das maiores siglas não têm programas ou estratégias bem definidas neste sentido.
Única prefeita eleita
Doutor Ricardo foi o único município da região a eleger uma prefeita em 2016. Cátea Rolante vem de uma família ativa na política. Seu pai, Querino Borsatto, foi vereador por duas legislaturas em Arvorezinha.
Cátea é casada com o ex-prefeito do município, Nilton Rolante, eleito em 2008. O casal participou do processo de emancipação de Doutor Ricardo. Antes de se eleger prefeita, foi vereadora e a secretária de ssistência Social.
“Precisamos incentivar a participação feminina na política pela capacidade, coragem, determinação que nós mulheres temos de se empenhar e buscar o melhor pelas pessoas”, defende.
Baixa participação nas câmaras
Entre as 38 câmaras de vereadores do Vale do Taquari, oito são compostas integralmente por homens. Ao todo, a região conta com 358 cadeiras nos Legislativos municipais. Destas, 61 são ocupadas por vereadoras, elas respondem por 17% das vagas. Para cada vereadora, há cinco homens na mesma função.
Pioneira de Lajeado
Carmen Regina Cardoso foi a primeira vereadora eleita de Lajeado, primeira presidente da câmara e primeira prefeita da cidade. Ela destaca o processo histórico que resultou na discrepância de espaço entre homens e mulheres.
“Ao longo da história, a política foi um espaço privativo do homem. A mulher teve de romper barreiras muito fortes, e até hoje tem certa dificuldade”, afirma. Na sua avaliação, as mulheres conquistam mais espaço na política, mas o crescimento ainda é tímido.
“As mulheres estão se desacomodando e aceitando esses desafios modernos. Cresce a participação feminina em todas as áreas, mas principalmente na política, que sempre foi um espaço machista”, afirma.
Aos 77 anos, Carmen conta que já não é mais muito atuante na política partidária. Ainda assim, de vez em quando, telefona para o seu antigo assessor jurídico e atual prefeito, Marcelo Caumo, para tratar de temas da cidade.
Mais controle sobre “candidaturas laranjas”
Em 2018, as “candidaturas laranjas” estiveram entre os principais temas das eleições, resultando em investigações da Polícia Federal e queda de políticos em nível federal. Em função disso, a Justiça Eleitoral reforçará a fiscalização para o pleito deste ano.
Promotora eleitoral do Ministério Público de Lajeado, Ana Emília Vilanova afirma que a fiscalização se dará ao longo da campanha.
“Como o candidatos devem prestar contas parciais durante o período de campanha eleitoral, será possível verificar se a candidata A ou B está, ou não, efetivamente fazendo campanha ou se a candidatura é ‘pro forma’”, afirma.
A legislação determina que as nominatas de cada partidos tenham no mínimo 30% e no máximo 70% de cada gênero. Alguns partidos incluem nomes de candidatas laranjas para completar as cotas.
Nas eleições municipais de 2012, foram 35 candidatas sem nenhum voto. Quatro anos depois, o número reduziu para oito. A ausência de votos é um dos principais indícios de candidaturas laranjas. Se comprovada a prática, os candidatos do partidos podem ter seus mandatos cassados.
“Caso se verifique a existência de candidaturas fraudulentas, poderá ser ajuizada ação contra todos os candidatos – eleitos ou não – do partido em questão, que poderão responder criminalmente”, afirma.
Como os maiores partidos da região buscam ampliar candidaturas femininas
MDB
De acordo com o coordenador regional, Celso Cervi, o partido superou uma dificuldade histórica de atrair mulheres e jovens para a atividade partidária.
“Lá atrás nós tínhamos muita dificuldade em ter candidata mulher. Hoje, estamos muito felizes porque todas as vagas do MDB Mulher em Lajeado estão preenchidas. Inclusive, temos candidatas sobrando”, diz. No entanto, Cervi afirma que nas cidades do interior, a dificuldade é maior. De acordo com o coordenador, a sigla terá ao menos 18 candidatos a prefeituras, sendo ao menos uma mulher.
PP
O partido promove cursos de formação online e reuniões para incentivar mulheres a participar mais ativamente da política.
“Ano passado organizamos um encontro presencial em Lajeado com 200 mulheres, já pensando nessas eleições. Eu acompanho cada município diretamente, para estar mais próxima das mulheres”, afirma Mareli Vogel, presidente do diretório regional e vice-presidente do movimento feminino do partido.
Para este ano, a sigla deve apresentar três candidatas mulheres aos Executivos municipais.
PDT
Coordenador regional, José Scorsatto destaca que o partido possui, em nível estadual e federal, um grupo chamado Ação da Mulher Trabalhista, fundado em 1981. De acordo com o dirigente, o partido mantém cota mínima de 30% nas executivas. “Quando eu assumi, coordenamos um processo de fazer com que a mulher estivesse mais presente nas executivas municipais”, diz.
O partido projeta ter 14 candidaturas majoritárias, sendo duas com mulheres encabeçando a chapa.
PSDB
Os diretórios nacional e estadual organizam cursos e palestras online para incentivar a participação feminina. “Tem dado certo para nós, está bem positivo aqui na região. Como temos uma vereadora isso contribui para que o público interaja mais e participe”, afirma o presidente do diretório de Lajeado, Carlos Reckziegel.
Ele defende que a legislação deveria garantir 50% das cadeiras para o público feminino para aumentar a participação. A princípio, o partido terá ao menos três candidaturas ao Executivo, nenhuma delas de mulher.
PTB
De acordo com Ederson da Rocha, presidente do diretório de Teutônia, o partido incentiva as mulheres para que se sintam motivadas a perceber sua importância na política. “Elas precisam exercer a sua representatividade e perceber que é possível sim vencer uma eleição e exercer um mandato aos seus princípios”, afirma Ele acredita que partido não terá candidaturas femininas.
PT
De acordo com o presidente do diretório de Lajeado, Auri Hessler, o partido promove discussões e conversas para a formação de quadros femininos. Hessler reconhece que apresentar candidatas é uma dificuldade.
“Elas estão mais ativas, participando dos diretórios, mas não reflete em candidaturas. Não são todas que estão dispostas a enfrentar esse mundo de eleições, que é bastante machista”, avalia.
O partido tem uma regra interna que determina que metade da direção tem de ser composta por mulheres. A sigla projeta de 6 a 8 candidatas à câmara de Lajeado.