A cheia que alagou diversos municípios do Vale em julho pode ter sido ainda maior do que aponta a medição oficial. De acordo com a Defesa Civil de Estrela, o pico da cheia foi de 27,65 metros. Esta medição foi obtida na régua do Porto de Estrela, no dia seguinte à enchente.
“À 1h, a régua parou e o rio continuava subindo. A gente já não tinha mais acesso do portão para dentro. Quando baixou a água, viemos fazer a verificação e foi constatado que chegou a 27,65”, afirma o agente da Defesa Civil Lindomar de Freitas.
Os agentes tomam por base as marcas da água em alguns locais do porto que costumam ser utilizados como referência, como a cabine ao lado da régua, um galpão próximo e o pórtico de entrada.
Terceira ou quarta maior?
Pela medição oficial, a enchente de julho foi a quarta maior já verificada na história da região. A medição oficial, feita pelo Serviço Geológico do Brasil por meio de satélite foi de 27,39 à 1h e às 2h do dia 9 de julho.
Durante a madrugada, o sistema apresentou falhas e chegou a apontar um nível acima dos 28 metros, o que foi corrigido em seguida.
O dado não é oficial e ainda carece de validação. Se for confirmada esta medição, o pico da enchente terá sido 26 centímetros maior do que o dado oficial. Neste caso, a cheia de julho passaria à terceira maior da história, ultrapassando a de 1946, quando o nível chegou a 27,40 metros.
Régua foi usada por mais de 30 anos
A régua do Porto é a mesma utilizada como medida oficial de 1977 até 2013, quando a medição passou a ser feita pelo CPRM, empresa pública que tem as atribuições de Serviço Geológico.
Na área do porto, há ainda pelo menos outras duas réguas, uma junto ao rio e outra, fora da água, que mede até 23 metros.
Com mais de vinte anos de experiência na Defesa Civil, o técnico Cleto Werle conta que, antigamente, a medição era feita na mesma régua. No entanto, a informação era coletada durante a cheia.
“Nas grandes, por causa da correnteza, eles vinham com a patrola carregadeira, porque ela passa com água alta. De hora em hora, eles faziam a medição. Mas nunca chegou a um nível tão alto”, recorda.
Medição carece de validação topográfica
Para a engenheira ambiental Sofia Moraes, a medição pode estar correta, mas ainda carece de uma validação topográfica. “Teria que ter essa validação para podermos ter 100% de certeza”, diz.
Sofia fez seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre as áreas e edificações atingidas pelas inundações do Rio Taquari. Boa parte dos dados utilizados em sua pesquisa são de medições do porto.
“Desde que foi fundado o porto, em 1977, havia o monitoramento desta régua. Ela tinha leitura feita de seis em seis horas. Essa leitura foi descontinuada ali por 2017, quando o porto parou de operar”, afirma.
Além da referência histórica, o pico é uma informação importante para parametrizar o tempo de retorno. Nas próximas semanas, Sofia vai fazer a verificação topográfica desta e outras marcas da enchente.