Um em cada cinco eleitores da região tem filiação partidária

participação política

Um em cada cinco eleitores da região tem filiação partidária

No Vale, a proporção de eleitores com vinculação a partidos políticos é quase o dobro que a média nacional. Especialistas avaliam, porém, que alto número de filiações não representa vinculação ideológica com as siglas

Um em cada cinco eleitores da região tem filiação partidária
MDB é o partido com maior número de filiados na região, seguido pelo Progressistas. PDT, PSDB, PTB e PT fecham a lista dos maiores
Vale do Taquari

Mesmo com os partidos políticos passando por uma crise de representatividade em nível nacional, a presença das siglas nos municípios do Vale do Taquari ainda é significativa. Desde as últimas eleições municipais, realizadas em 2016, a região ganhou 4,7 mil eleitores. No mesmo período, foi registrada uma redução de 1,6 mil filiações, o que representa 3%.

Ainda assim, os partidos são proporcionalmente maiores no Vale do Taquari que no Brasil. Na região, um a cada cinco eleitores, ou 19,5%, integra alguma sigla. São 286,5 mil eleitores ao todo e 55,9 mil deles são filiados.

No país, são 147,9 milhões de eleitores e 16,5 milhões de partidários. O número representa um a cada nove eleitores, ou 11,5%.

Os número são de levantamento feito pelo reportagem do A Hora a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que são de acesso público.


Cultura do associativismo

Para o sociólogo Renato Zanella Filho, o fenômeno tem explicação por um aspecto cultural da região. “Tem a ver com a nossa cultura associativa, cooperativa e comunitária. É uma cultura regional. Mais de 80% da nossa população do Vale é associada a alguma cooperativa ou entidade.”

Zanella acredita que boa parte do contingente é de pessoas filiadas há bastante tempo. “Muitas pessoas se filiaram e nem se lembram. Antigamente se fazia movimentos de filiações. Era uma questão formal e de poder de barganha eleitoral”, diz.


Crise de representatividade

Historiador e coordenador do curso de História da Univates, Mateus Dalmaz avalia que há um desgaste na imagem dos partidos de forma geral, o que se reflete nos novos nomes das agremiações.

“Há um fenômeno oposto ao que ocorreu na redemocratização. Usar a palavra partido era sinônimo de uma volta da democracia. Agora, vemos o movimento de retirar a palavra “partido”, de se desvincular de uma imagem que se desgastou nos últimos 30 anos”, avalia


Dez maiores se mantêm

O partido com maior número de filiados na região – e no país – é o MDB, com 13,1 mil eleitores no Vale. Em segundo lugar, vem o Progressistas, com 10,1 mil. Em terceiro, o PDT, com 8,9 mil.

Comparando as maiores siglas de 2020 com as de quatro anos atrás, as dez primeiras do ranking se mantêm.
Dalmaz destaca que a liderança de Progressistas e MDB tem origens no período da ditadura militar e do bipartidarismo. Ele recorda que já nos anos 1960, Arena e MDB travavam disputas ferrenhas nos municípios do Vale.

“São partidos que tiveram diretórios espalhados pelos municípios antes de todos outros, desde os anos 60. Isso representa quase três décadas de vantagem em relação a partidos como PSDB, PT, Democratas”, afirma.

Para o historiador, o terceiro maior partido da região, o PDT, tem suas raízes vinculadas aos ideias do trabalhismo, de Alberto Pasqualini e Leonel Brizola. “Não à toa, são nomes que cruzam a cidade, a avenida e a BR-386. Isso é muito significativo simbolicamente”, conclui. “O crescimento foi natural em função do Bolsonaro, pois foi o partido pelo qual ele se elegeu. O pessoal que é muito adepto do Bolsonaro criou esse partido na região”, avalia.


PSL e o fenômeno Bolsonaro

Partido pelo qual Jair Bolsonaro se elegeu presidente, o PSL foi o que mais ganhou integrantes nos últimos quatro anos. O partido tinha apenas oito filiados nas eleições de 2016. Em quatro anos, ganhou 606 novas assinaturas.

Em muitos municípios, a criação é recente. É o caso de Estrela, onde a sigla se formou em abril de 2019 a partir da saída de um grupo do PR. Presidente da sigla no município, Eduardo Wagner atribui o crescimento diretamente à afinidade com o presidente.

“O crescimento foi natural em função do Bolsonaro, pois foi o partido pelo qual ele se elegeu. O pessoal que é muito adepto do Bolsonaro criou esse partido na região”, avalia.

Após eleito, o presidente deixou a legenda. Sem partido, ele articula a criação de uma nova sigla, ainda sem assinaturas suficientes. “Com a saída do Bolsonaro do PSL, pode haver uma migração de seus adeptos para o novo partido. Acredito que a Aliança será o maior partido do Brasil em dois anos”, diz.

Em Estrela, maior partido não tem vereador

Com 40 anos em Estrela, o PDT já teve cerca de 2 mil integrantes. “É um trabalho da fundação, onde o pessoal tinha muita afinidade com o Brizola. Hoje, as pessoas já não têm muita afinidade com partidos, não se preocupam com a ideologia”, afirma o presidente municipal Paulo Argeu Fernandes, que é filho do fundador José Walmor Fernandes.

Em relação à pouca representatividade nos cargos eletivos, Fernandes cita uma frase atribuída a seu correligionário Alceu Collares: ‘time que não joga perde torcida’.

“O partido não concorreu na majoritárias em algumas oportunidades e não se preparou para as eleições. Deixamos a desejar em função de não termos candidato”, afirma. Para este ano, ele afirma que a sigla deve voltar a ter candidato a prefeito.

32 partidos no Vale

O Brasil tem 33 partidos políticos registrados no TSE. A única agremiação que não tem representação regional é o PCB.

Em relação ao pleito municipal de 2016, a região ganhou três novas siglas. Entre elas, está a UP (Unidade Popular), com apenas uma pessoa filiada na região. Além deste, o PMB também tem apenas um representante. Os dois partidos existem apenas em Lajeado.


Aumento em Lajeado

Município com maior número de eleitores, Lajeado é também o que apresentou crescimento mais significativo no número de filiados. Os dados do TSE apontam que 527 pessoas se vincularam a partidos nos últimos quatro anos. Ao todo, são 7.130 mil filiações no município.

Os Progressistas lideram com 1408 filiados, entre eles o prefeito Marcelo Caumo e cinco dos 15 vereadores. O segundo maior é o PDT, com 1051. O maior crescimento registrado na cidade foi do MDB, que ganhou 185 integrantes.


Redução em Taquari

Em Taquari, observa-se fenômeno inverso. Desde 2016 até o atual momento, 979 pessoas deixaram a participação partidária.

A sigla que teve a maior redução foi o MDB, que perdeu 598 membros. Presidente municipal do partido, Roberto Guimarães se diz surpreso com o número. “Me pegou de surpresa. Não tivemos nenhum movimento de desfiliações”, afirma. Ainda assim, segue sendo o maior partido da cidade, com 1.585 integrantes.

Acompanhe
nossas
redes sociais