Moro num sítio onde mantenho alguns animais de estimação. O momento de tratar esta “bicharada” é prazeroso. Tanto pela interação com eles – e não poucas vezes me pego “conversando” com eles – quanto pela hora em que o faço: cedito, dia raiando.
Nessa sexta foi mais especial. Além do espetáculo fantástico de um amanhecer claro, após dias morrinhentos com chuvas e cerração, dois fatos novos me chamaram a atenção: o alvorecer acontecia mais cedo e o cantar de dois pássaros migratórios, próprios da primavera, no capão próximo à casa. Que prenúncio! Finda julho e entra agosto que é o mês da virada. Jamais do desgosto, da desgraça e do azar. Mas da virada de um inverno marrento para uma primavera florida, perfumada, inebriante.
Ainda mais num ano em que a “zica” tá solta e, dentre os infortúnios, sem dúvida, o da covid-19 ganha fácil. Desde janeiro, de forma crescente e com intensidade progressiva, este vírus foi nos afligindo até atingir o ápice em meados de março. Pauta preponderante na imprensa e nas redes sociais, dava-nos a impressão de que o fim do mundo estava por acontecer. Aliás, para o editor do tradicional programa “da virada” que vai ao ar dia 31 à noite, o deste ano será moleza, pois terá poucos assuntos preponderantes além de: coronavírus, Bolsonaro, estatísticas macabras da covid.
Mas nem tudo são flores com o fim do inverno e a chegada da primavera, florida e sorridente. Sei que estamos prá lá do limite para aguentarmos mais, depois destes mais de quatro meses de reclusão, lockdown, distanciamento social e um programa oficial do Governo do Estado – das bandeiras – que acha que a atividade empresarial é tal qual um armário: abre e fecha quando quer. Adicione-se a este caldo, pitadas de um eterno debate político se Bolsonaro é bandido ou mocinho, da tentativa de consagração, como “especialistas”, de anônimos analfabetos nos assuntos que tentam dissecar, além de outros fatos que levaram você quase ao desespero. Mas não podemos “chutar o pau da barraca”, pois, numa simples mudança de estação, a covid-19 não estará morta.
Não se deixe levar pelo cansaço e desgaste emocional, físico e financeiro, que a imprensa macabra, políticos interesseiros e autores bandidos de fakenews provocaram em todos. Seremos vítimas de prejuízo maior se assim procedermos, pois a pandemia ainda está aí para ser enfrentada. Teremos que aprender a conviver com ela, até que as vacinas cheguem a todos, quem sabe no início do próximo ano.
Conhecimento para tal já o temos. Principal convicção: não é hora de afrouxar os cuidados, do contrário, os sacrifícios vividos até agora terão sido insuficientes e o vírus fará os estragos temidos. É hora de os municípios endurecerem no cumprimento das regras de distanciamento, multando a quem desobedecer, viabilizando a atividade econômica de forma segura. De o Governo do Estado rever o programa de distanciamento, permitindo a economia funcionar, em convívio com um controle efetivo e preventivo à covid. De as associações de municípios passarem do debate à ação: a) assumindo os controles do equilíbrio entre prevenção à covid/minimização das perdas econômicas e sociais; b) valendo-se de universidades regionais, abrindo mão da controvertida Ufpel; c) envolvendo entidades classistas, empresas e outras entidades para agilizar e democratizar o acesso aos remédios preventivos e de tratamento efetivo no início da infecção, recomendados por protocolos médicos. Não é hora de afrouxar, mas da continuidade de cuidados e de um convívio com o problema, com a assunção de ações e de responsabilidades por cada um de nós. A simples mudança do inverno para a primavera não vai nos resguardar.