A doença das notícias negativas

Opinião

Adair Weiss

Adair Weiss

Diretor Executivo do Grupo A Hora

Coluna com visão empreendedora, de posicionamento e questionadora sobre as esferas públicas e privadas.

A doença das notícias negativas

Lajeado

Se os meus estímulos forem “bombardeados” durante muito tempo por notícias negativas, obviamente, meu cotidiano se acostumará e logo estará envolto de tragédias e problemas. Nem sempre e nem todos se dão conta desta arapuca.

A pandemia do coronavírus trouxe aprendizados e, em alguns casos, desnudou a própria imprensa. Acostumada a pautar sua audiência em fatos mais negativos do que propositivos, a mídia em geral errou na dose. Alguns canais ampliaram o clima apocalíptico para tentar “matar dois coelhos com uma cajadada só”, mirando a popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Deram na trave.

Embora alguns discordem, muitos brasileiros – antes ligados, maciçamente, em um único canal de televisão -, mudaram de preferência. O “controle” da imprensa, literalmente, funcionou, com um simples toque.
A percepção do exagero em relação a algumas notícias acerca da covid-19 alcançou todas as classes. Foi a sensação de ser “bombardeado” apenas com informações negativas – o tempo todo e todos os dias – fez o espectador dar-se conta do elemento tóxico da desesperança.

Ainda que as mídias sociais também carreguem notícias tóxicas, elas serviram para desnudar os “arautos da opinião pública” que, repentinamente, se tornaram vulneráveis às críticas e aos julgamentos, tal qual como acostumaram fazer com os outros.

É fato que a tragédia vende mais do que a ação positiva. Ao longo de décadas, jornais, rádios e televisões pautaram sua audiência na cobertura de notícias “bombásticas”. Alguns construíram verdadeiros impérios em detrimento à desgraça alheia. A manipulação foi relativamente fácil, pois o acesso limitado às informações completas dificultava compreensões mais reais.

Com a era digital, o consumidor de notícias ganhou liberdade. Apesar da citação coerente do escritor Umberto Eco – a internet deu voz a um bando de imbecis –, as redes sociais democratizaram o acesso. Assim, dificultaram o controle ou o monopólio do conteúdo e da análise.

De repente, pequenos jornais, rádios ou canais digitais desconhecidos se tornaram relevantes e muito acessados pelo público. E a capacidade de atender nichos acelerou a comunicação no mundo.
Hoje, apesar de muita desinformação e inutilidade disponíveis na rede, há, por outro lado, acesso a bibliotecas e fontes jornalísticas de vários continentes com alguns cliques. Esta é a parte positiva.
A negativa resiste na falta de discernimento ou atenção de quem consome as notícias. Os “guetos” provocados pelas redes sociais, aliados aos robôs das fake news, tende a aumentar a crença em “falsas verdades”. E isso deturpa a informação crível.

Assim como um canal de mídia tradicional pode moldar seu editorial a interesses escusos de grupos ou acionistas, um sistema de manipulação em massa facilmente é criado nas redes sociais. Narrativas mentirosas bem articuladas estabelecem “novas verdades”. É, portanto, um expediente perigoso e tóxico ao qual o cidadão deve redobrar sua atenção. E pior: esta falsa verdade pode tanto vir com uma narrativa negativa como positiva, sobre algo ou alguém.

O presente comentário não quer recomendar esta ou aquela plataforma. Busca tão somente despertar os leitores para uma checagem racional, sem paixões e nem preconceitos. Quanto mais abertos e desconfiados em relação aos estímulos intermináveis que recebemos, melhor informados e mais livres de equívocos estaremos.

O futuro da imprensa profissional é a relevância. Sempre foi. Ainda assim, a curadoria será reconhecida pelo leitor, ouvinte ou telespectador, se o canal compreender que “não é dono da verdade”.
Fazer jornalismo exige – mais do que nunca – transparência, verdade e humildade para receber críticas e corrigir quando se erra. Tão fundamental é contribuir para que a sociedade possa se informar, aprender e crescer com o conteúdo, que ele sirva e faça diferença para algo melhor.

Os “arautos da verdade” derreteram como manteiga em brasa. Manipulação e desinformação nunca foram tão fáceis de se desmascarar. Basta desconfiar e checar.

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