Foi uma amiga quem me mostrou o perfil da Vó Thereza, uma das personagens da edição deste fim de semana do caderno Você, onde contamos a história de duas mulheres que ressignificaram o conceito de ser avó.
Assim como para a minha amiga, e talvez este também seja o seu caso, meus avós tiveram presença e têm significado muito importante na minha vida. Dois deles não pude conhecer, porque a vida os levou antes, mas posso reconhecê-los todos os dias no rosto do meu pai e no espelho, nos traços que indiscutivelmente herdei.
Por sua vez, a casa dos pais da minha mãe sempre foi minha segunda casa. Fim de semana sim, fim de semana não, lá estávamos nós. A casa da vó era lugar de encontro e de descoberta, tão diferente que era da minha, aqui “na cidade”. Lá a gente dormia ao som das rãzinhas que cantavam no açude e acordávamos com as galinhas.
A casinha azul, que foi lar da minha mãe durante toda sua infância, era lugar de encontrar os primos que, como não são poucos, faziam a casa, que na minha pequeneza de menina, parecia enorme, tornar-se cheia e barulhenta.
Lá era lugar de correr solto no pátio, com os cachorros, atrás dos gatos. Mas só no pátio, porque se corresse dentro de casa, podia derrubar os santos da vó.
Nas páginas da última edição do Você também há uma matéria sobre comida com sabor de afeto. E existe comida mais afetuosa que comida de vó? Eram as férias na casa da vó, quando criança, a única coisa que me fazia ganhar peso. A vó que me esperava com grostoli porque sabia que eu gostava. Mas também tinha bolo, cuca, bolacha, rapadura e amendoim. E tinha também o comentário “é por isso que está magrinha” quando eu recusava a comida.
Se os traços físicos eu peguei da família do meu pai, para equilibrar, foi da família da minha mãe que herdei parte da minha personalidade. O vô, bom, era o típico vô. Pequeno, frágil, adorava a sua cachorrinha e seus porquinhos. Não falava muito, porque a audição já não ajudava, mas era senhor de sorriso doce e fácil.
A vó era como dona Thereza e dona Hedy. Não era influencer digital, mas gostava de casa cheia e era a avó mais ativa que já conheci. Mesmo quando a idade começou a pesar, era impossível pará-la.
Saracoteava para cima e pra baixo. Não gostava de pedir ajudar, preferia fazer ela mesma. Traços que, cada dia mais, reconheço na minha mãe. Mulher de energia invejável e personalidade tão forte quanto a mãe dela. Traços que, cada dia mais, percebo em mim também.
Uma vez li que nossos avós são nossos primeiros pais. E é verdade. Eles são a semente do que seremos. São parte da alma, do corpo, e das nossas memórias mais bonitas.
Os meus já não estão mais aqui. Às vezes um “vocês vão ir na vó?” ainda me escapa, mesmo depois de tantos anos sem eles. Dói, porque dá saudade dos momentos em que a vida era mais simples. Mais uma vez também li que quem amamos nunca se vai. E talvez por isso que eu sempre queira, mesmo que de forma inconsciente, voltar para casa do vô e da vó.
Quem amamos nunca nos deixa, porque são parte da gente.