Por que as previsões para a enchente histórica no rio Taquari foram equivocadas? O questionamento foi feito no programa Frente e Verso da manhã de hoje.
O trabalho de alerta de cheias e monitoramento das águas da Bacia do Taquari é feita pela CPRM. Em entrevista para a Rádio A Hora, a engenheira hidrológica da empresa pública, Andrea Germano, admitiu que houve falhas nos equipamentos eletrônicos a cheia histórica que teve como pico os 27,39 metros na madrugada de quinta-feira, 9.
Conforme ela, erros registrados na madrugada de quinta-feira (como o nível do rio acima dos 28 metros ou dados mostrando o aumento da cheia quando o rio estava recuando) ocorreram em função de um ruído na transmissão dos dados de satélite.
Andrea afirma que o sistema chegou a sair do ar por alguns períodos. “Foi inerente a nossa vontade. Às vezes os dados apresentam números irreais como 50 mil ou 0. Mas esse número de 28 metros era possível”, relata.
A engenheira também relatou falha inicial na previsão encaminhada pela CPRM nos primeiros boletins. Por volta das 9h de quarta-feira, 8, um boletim da CPRM previa cheia de 23,25 metros e 24,35 no Porto de Estrela. Às 17h, a previsão já era de cheia acima dos 27 metros.
Conforme ela, os problemas foram constatados e os engenheiros da CPRM começaram a calcular por modelos alternativos e encaminhar boletins com previsão de quatro horas. O boletim encaminhado às 21h de quarta-feira previa o pico do rio para à 1h da madrugada de quinta-feira, afirma Andrea.
A CPRM alega ter feito mais de 30 boletins durante o período de cheia. Andrea informa que os dados são encaminhados por e-mail e estão disponíveis no site da CPRM.
O fato da enchente ter sido a maior dos últimos 64 anos também prejudicou as previsões, acrescenta. “Erros acontecem e previsão é previsão, ainda mais num evento inédito. Nunca tínhamos estudado um evento desses”, reforça.
Questionada sobre inexistência de monitoramento em municípios da região, ela afirmou que o sistema melhoraria caso houvessem mais pontos de análise, inclusive em outros afluentes. Entretanto os investimentos em equipamentos e custos operacionais e de manutenção impedem a melhora do sistema.
Ontem, a administração municipal de Lajeado encaminhou nota sobre o assunto (veja na integra abaixo). O coordenador da Defesa Civil, Heitor Hope também participou de entrevista na Rádio A Hora na manhã de hoje.
NOTA DO GOVERNO DE LAJEADO
A respeito da manifestação da engenheira hidróloga do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Andrea Germano, de que a empresa enviou boletins à Defesa Civil de Lajeado, o município informa que nunca negou o envio de informações, mas sim que o sistema havia falhado na coleta e publicação das informações. Houve falha na manhã do dia 08/07, mais precisamente nas leituras das 8h e 9h, e também nas informações da madrugada no dia 09/07, o pior momento da cheia, quando o sistema chegou a informar que o rio havia alcançado mais de 28 metros na madrugada. Inclusive, estes erros foram tema da imprensa regional na madrugada. As informações foram corrigidas pelo menos duas vezes no início da manhã do dia 09.
Além disso, os boletins mencionados pela senhora Andrea Germano apresentavam previsões que se mostraram com grande margem de erro em diversos momentos entre os valores previstos e ocorridos.
Por exemplo, no boletim enviado no dia 07/07, às 19h (quando o rio estava em 15,43m), a CPRM estimava que, dentro de 12 horas, o nível do rio “provavelmente, atingirá valores entre 17 e 18m”, conforme imagem em anexo. Às 7h do dia 08/07, o rio alcançou o nível de 23,03m ou seja, se o município tivesse confiado nos dados disponibilizados pela CPRM, não teria sido necessário retirar ninguém de casa, já que a cota de inundação, de 19,80m, não teria sido atingida. Foi um erro de mais de 5 metros em um momento crítico em que a maior parte das casas seria atingida. Mas, de forma preventiva e acertada, a Defesa Civil municipal agiu cedo e começou a retirar famílias de suas residências a partir das 18h do dia 07/07, o que permitiu que evitou perdas e prejuízos a dezenas de famílias.
Um outro exemplo, já mais próximo do que veio a ser o pico da cheia, ocorreu no boletim enviado no dia 08/07, às 14h (quando o rio estava em 25,78m). Nele, a CPRM previa que o rio Taquari poderia atingir entre 25,90m e 26,30m às 18h em Estrela, mas o nível real alcançado foi de 26,62m. Estes 32cm, com o rio a esta altura, fazem grande diferença para prevenção de danos.
O município reconhece a importância do sistema de monitoramento, porém considera que são necessários aprimoramentos, como a ampliação do número de estações de monitoramento ao longo da bacia hidrográfica. Além disso, como ficou demonstrado, as previsões devem ser melhor calibradas para reduzir os erros, ampliar a precisão dos dados e, assim, se tornar uma fonte confiável de informação. O município já está em tratativas com os órgãos estaduais e federais responsáveis para buscar melhorias para toda a região, de modo que não apenas Lajeado, mas os demais municípios do Vale do Taquari possam melhor prever as respostas a eventos deste tipo.
Em um evento de enchente, o sistema de monitoramento é um elemento relevante, mas que não substitui os serviços, a experiência dos servidores públicos conhecedores da situação, as equipes que ficaram em tempo integral à disposição das famílias para remoção, mesmo durante a madrugada, e o acompanhamento das famílias que foram desalojadas. Em razão deste conjunto de fatores, a maior enchente dos últimos 64 anos ocorreu sem óbitos nem feridos em Lajeado.
Ouça a entrevista completa no link: