Depois de duas semanas das primeiras suspensões para compra de produtos cárneos pelo governo chinês, o Ministério da Agricultura inicia ofensiva para tentar reverter essas decisões. No fim de junho, a Administração Geral de Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês) atualizou a lista de frigoríficos autorizados a exportar ao país oriental. Uma semana depois, mais unidades brasileiras foram informadas do fim das negociações.
Ao todo são seis empresas que perderam o certificado para exportar à China, entre elas, duas de Lajeado, a BRF e a Minuano Alimentos. O primeiro movimento do Ministério da Agricultura é organizar uma comitiva brasileira e chinesa para visitar as unidades. A estratégia visa convencer os orientais de que os frigoríficos brasileiros conseguiram erradicar o surto da covid-19 entre os funcionários.
Informações extraoficiais dão conta que o plano da ministra Tereza Cristina é convidar o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, para visitar as unidades que estão proibidas de exportar. A justificativa para o fim da compra dos produtos brasileiros se sustenta na tentativa de evitar uma segunda onda da doença.
A China é o maior comprador de carne suína, bovina e de frango do Brasil. Também ampliou a importação de soja brasileira após crise nas relações com os Estados Unidos.
Relação estremecida
O embaixador chinês Yang Wanming, 56, saiu do quase anonimato fora do meio diplomático e empresarial sino-brasileiro e virou personagem da polarização nacional após responder a uma acusação do deputado, Eduardo Bolsonaro (PSL).
O parlamentar brasileiro escreveu no dia 18 de março: “A culpa é da China e liberdade seria a solução.” No mesmo dia, o representante chinês rebateu com diversas mensagens. A que ganhou mais repercussão foi: “Contraiu, infelizmente, um vírus mental, que está infectando a amizade entre os nossos povos.”
Impacto econômico
Na análise da economista e presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento (Codevat), Cintia Agostini, a suspensão traz como resultado aumento da oferta dos produtos para o mercado interno, o que reduziria os preços aos consumidores.
Por outro lado, traria impactos negativos ao campo. Em caso dos frigoríficos que usam granjas próprias, há risco de demissões. No modelo integrado, o agricultor poderá ter redução nos ganhos, pois a margem de lucro cai para a indústria.
Conforme a Secretaria da Fazenda de Lajeado, a BRF e a Minuano Alimentos ocupam o topo entre as empresas com maior retorno de ICMS. A BRF representou em 2019 cerca de R$ 11,2 milhões ao município. Isso representa 20% de toda produção que volta para os cofres públicos.
Já a Minuano Alimentos está na 4ª posição em termos de arrecadação aos cofres públicos. Em 2019 alcançou o montante de R$ 2,5 milhões em ICMS para Lajeado. O total corresponde a 6% do imposto gerado por empresas da cidade.