Nascido em Antônio Prado, na Serra, André Versa Damiani tem o empreendedorismo como herança de família. Filho de lojistas, neto e bisneto de pioneiros do empreendedorismo na Serra Gaúcha, aprendeu desde cedo o valor do trabalho e de servir outras pessoas.
No fim dos anos 1980, aos 18 anos, se mudou para Porto Alegre para cursar administração de empresas na Pucrs e iniciar a trajetória profissional. Trabalhou no governo do Estado, na Assembleia Legislative e como bancário e gerente, antes de entrar na primeira sociedade.
Aos 24 anos e sem dinheiro, recebeu a oportunidade de comandar a franquia da Florense em Lajeado. Hoje, a loja é responsável por atender uma área que inclui as regiões de Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Passo Fundo e Santa Rosa. Além de administrar a Franquia, ele divide com outros dois sócios a direção da construtora DNW.
– De onde vem o seu interesse pelo empreendedorismo?
André Versa Damiani – Sempre trabalhei em busca de um propósito e o fato de ser, hoje, também construtor, tem a ver com entregar algo concreto. É tentar conduzir o sonho de alguém. Ouvindo as histórias da minha mãe, hoje com quase 80 anos, percebo essa relação familiar. Na década de 1920, 1930, meu avô transportava os porcos de Antônio Padro, atravessava o Rio das Antas de balsa e levava os animais até Torres, para vender em um frigorífico. Depois, ele teve uma casa comercial e acabava sendo intermediário entre o colono da redondeza e o industrial. Na cultura em que me criei, o servir sempre fez parte do espírito da família. Do outro lado, meu bisavô era muito empreendedor. Ela fundou a vila Versa, em Vacaria, fundou escola, foi vereador e fez igreja.
– Qual a sua formação ?
Damiani – Minha infância foi na cidade de Antônio Prado. Quando terminei o ensino fundamental, com 14 anos, eu pedi para estudar em um internato em Bento Gonçalves. Me formei em técnico de agropecuária. Depois, fiz vestibular para administração na Pucrs e na UCS. Passei nos dois e perguntei para o meu pai se ele me dava oportunidade de morar em Porto Alegre. Ele fez um esforço muito grande para que eu pudesse morar na Capital. Precisava alugar apartamento, conseguir fiador e um mundo de coisas que nem sabíamos. Minha mãe ficou trabalhando na loja e ele foi comigo para resolver tudo. Eu tinha que fazer a matrícula da faculdade e ainda não tinha comigo a avaliação do meu trabalho de conclusão. Saímos de Antônio Prado, passamos em Bento Golçalves no internato para pegar o documento e depois fomos para Porto Alegre. Depois da matrículam fomos atrás do apartamento e aí meu pai se deu conta de que eu iria estudar apenas de noite. Assim começou também a minha vida profissional.
– Como foi o início?
Damiani – A dona Elza Sartori mora bem perto da nossa casa em Antônio Prado. Meu pai tinha o telefone do José Ivo Sartori e na época ele nos recebeu na Secretaria do Trabalho. O pai pediu se ele arrumava serviço para eu não ficar sem fazer nada durante o dia. Ele disse que tinha serviço, mas não trabalho, porque não poderia pagar. Fiquei mais de seis meses trabalhando sem cargo, sem nada, mas foi o compromisso que assumi com meu pai para ficar em Porto Alegre. Logo, o Sartori saiu da secretaria e foi para Assembleia Legislativa. Lá ele tinha um salário para mim. Isso era 1988, antes do Collor. Naquele momento tinha um preconceito com quem trabalhava no poder público. Minha experiência era de tentar outra oportunidade de emprego e não achava, porque as pessoas tinham preconceito com quem trabalhava na assembleia.
– Quando começou a sua relação com o mercado de móveis?
Damiani – Meu primo tinha uma fábrica de móveis em Antônio Prado. Em um período de férias peruntei se poderia aprender sobre como funciona uma indústria. Fiquei três semanas trabalhando lá. Ele fez um roteiro e passei em todos os setores da produção. O último estágio foi analisar os custos e preencher as planilhas. Depois, ele me indicou para um representante de móveis em Porto Alegre, onde eu ganhava muito pouco. Como minha família era de lojistas, ajudei a tocar uma loja. Mas logo arrumei emprego em um banco, com um outro primo meu. Também não gostei daquilo. Teve uma greve e, quando terminou, pedi para sair. Daí, procurei o Zé (Sartori) novamente. Ele disse que eu sempre teria emprego porque trabahava sábado, domingo, de noite, qualquer hora. Fiz uma campanha inteira e, quando terminou, perguntei a um amigo que tinha um negócio de móveis se poderia trabalhar. Ele ia abrir uma nova loja e fechar uma antiga, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre. Eu disse que se ele me pagasse cinco por cento do que for vendido eu abria e fechava a loja, faria entregas e a montagem. Comecei a empreender alí.
– Como foi assumir essa responsabilidade?
Damiani – Eu sentava nos fundos para fazer montagens, em cima tinha uma mesinha e atrás várias caixas. Fiquei quase um ano nessa lojinha e esse meu colega arrumava muita coisa diferente para vender, bateria, saxofone, móvel e tudo que era tralha. Era quase um brick. Depois de um certo tempo, resolveram fechar e eu fui para a loja original dele. Isso era abril ou maio de 1991. Eu estava acabando a faculdade, com 21 anos. Fiquei 3 meses naquela loja e ganhei bem. Me formei e comecei a procurar um trabalho para mim. Não queria mais ser autônomo e ganhar só para pagar contas e fazer festa. Até que o pessoal da loja perguntou se eu queria ser sócio. Meu pai vendeu o carro que tinha, comprou um fusca e, com a diferença, ficamos com uma porcentagem pequena da unidade que ficava na Cristóvão Colombo. Naquela época era uma área de muito glamour, o centro moveleiro da cidade. Fiquei como gerente dessa loja por dois anos. Depois eles ampliaram, chegaram a abrir quatro unidades. Eu ganhava por parte de uma loja e trabalhava por quatro, então decidi sair.
– Quando começa a sua relação com a Florense?
Daminani – Nessa época, vendíamos uma linha da Florense e fui na fábrica perguntar se tinha oportunidade de ir para outro lugar com a marca deles. Comecei a negociar para ir para Curitiba, o que era loucura. Eu era um piá, de 24, 25 anos, e não tinha nem dinheiro. Eu dividia apartamento com o Renato e um dia ele me disse que a Florense ofereceu uma franquia no interior. Era meu sonho de consumo ser franqueado da Florense. Isso foi dezembro. No dia 7 de janeiro eu estava franqueado. Nós podíamos escolher Santa Maria e Santa Cruz do Sul, ou Santa Cruz e Lajeado. Fomos para Santa Maria e vi que não teria muito espaço ali. Chegamos em Santa Cruz e gostamos do lugar. Viemos para Lajeado e buscamos um indicador técnico para tomar a decisão. Fui na prefeitura e pedi o guia do IBGE. Quando olhei o perfil da região, baseada em mini-fúndios, falei para o Renato que a gente era colono de Antônio Prado e Flores da Cunha, então aqui estaríamos em casa.Talvez a gente nunca ganhe muito dinheiro, mas não vamos perder, porque o pequeno produtor sempre guarda uma reservinha, então iriam nos pagar. A partir daí montamos a Florense Santa Cruz e, depois de três anos, a Florense Lajeado. Nunca investimos dinheiro, sempre trabalhamos com financiamento. Precisei que as pessoas acreditassem no meu trabalho, no meu esforço e competência. A minha trajetória de estar na Florense, depois na DNW, foi buscar credibilidade para ter crédito.
– Porque a decisão de empreender também na construção civil?
Daminai – É uma coisa antiga, porque meu pai sempre gostou de comprar terreno e eu olhava muito isso. Gostava de entrar e sair de obras e ver o que dava certo. Era uma oportunidade de gerar renda. Naquele momento a minha Florense atendia apenas o Vale do Taquari. Hoje atendemos também o Vale do Rio Pardo e as regiões de Santa Maria, Passo Fundo e Santa Rosa. Já era amigo dos meus dois sócios, o Leandro e o Marcos e tínhamos a mesma característica de querer fazer o melhor. Fomos construindo um negócio junto. Nós testamos fazer duas obras juntos, antes da DNW. Construir é um aprendizado e é apaixonante. Queriamos fazer produtos com custo benefício muito bom para o cliente e fomos construindo. Cuidamos muito para fazer a melhor obra que conseguimos fazer.
Qual a diferença entre trabalhar nessas duas áreas?
Damiani – Na loja de móveis, eu não vendo meu showroom. Se eu passar o mês inteiro fazendo orçamento e não vender nada, só tenho custo. A Florense hoje é a principal marca do Brasil e da América Latina. São só quatro lojas no RS, uma delas em Lajeado. Tem em Porto Alegre, Pelotas, Caxias, São Paulo, Nova Iorque, Chicago. É uma bandeira forte. Mas, se eu for mal, tenho custo. Na construtora, se eu for mal, tenho o imóvel. Tenho um respaldo muito forte da Florense, a garantia de que os clientes vão receber, não importa o que aconteça comigo, mas não tinha garantia de que minha família talvez tem que ter algo. Eu sou um empreendedor com um pé bem fincado no chão. Faço o que consigo de forma segura. O empreendedor precisa aprender todos os dias, porque as coisas mudam a cada instante.