Esta não foi uma semana fácil, assim como as anteriores. Qualquer um de nós, mesmo aqueles que não se percebem tão sensíveis, podem notar que o mundo está estranho.
Particularmente, 2019 foi um ano difícil, mas 2020 veio para provar que sempre há um obstáculo maior que o anterior e, mesmo quando vencemos, por mais significativa que seja a nossa vitória, ela logo parece pequena diante de tudo que está acontecendo ao nosso redor.
Do alto dos meus privilégios, enquanto me preocupava com minhas questões pessoais, vi as águas que deram vida ao Vale também tirarem dele suas cores e alegrias. Nascida e criada aqui, já cansei de ver estas águas varrerem a cidade. Não pense que essa situação nunca me tocou, é que desta vez foi diferente.
Quando a tristeza se aproxima da gente, ela dói ainda mais.
Ver gente conhecida, gente com quem compartilhamos momentos, pessoas que são queridas aos nossos queridos e quem amamos tendo que reconstruir o que levou anos, décadas, para ser construído, e foi devastado em algumas horas, dói ainda mais.
Na quinta-feira cheguei em casa exausta. E nem foi de tanto trabalhar porque, confesso, foi um dia bem improdutivo. Cheguei exausta de ver tanta tristeza e me sentir de mãos atadas diante dela.
O que me fez dormir naquela noite e acordar com esperança no dia seguinte foram as notícias que recebi quando cheguei. Tanta gente se mobilizando, muitas doações arrecadadas. Não é o suficiente, mas já é grande coisa. E assim como dói ainda mais ver quem a gente conhece ser prejudicado, aquece mais ainda o coração ver os nossos na linha de frente para ajudar quem precisa.
Depois de uma quarentena que não foi quarentena por que muita gente é egoísta demais para ficar em casa, enquanto tantos outros não têm essa opção, achei que já tivesse perdido a esperança no mundo.
Depois desta semana, meu coração se aqueceu um pouco. Ainda há quem olhe para o outro com empatia, quem não consiga ser omisso diante da dor, e fico muito feliz em ver que estas pessoas estão perto de mim.
Ainda há muito por fazer, muito a reconstruir. Se você pode ajudar, nem que seja apenas com o seu tempo e seus braços, junte-se a quem já entrou nessa luta.
Como já disse uma vez aqui, a empatia cura. A solidariedade ainda vai mudar o mundo, nem que seja a pequena parte que representa o mundo de alguém.
Ainda há esperança.