Comunicação, liberdade de expressão e estragos

Opinião

Ney Arruda Filho

Ney Arruda Filho

Advogado

Coluna com foco na essência humana, tratando de temas desafiadores, aliada à visão jurídica

Comunicação, liberdade de expressão e estragos

Lajeado

Tenho assistido pouco aos noticiários da televisão. Aberta ou fechada, as pautas vão se repetindo, num vai e vem polarizado que chega a assustar. Rádio, jornais e internet têm suprido a minha necessidade de informação de qualidade. Chega a ser engraçado ver as pessoas esbravejando contra as redes de televisão, que desde sempre influenciaram os destinos do Brasil. O que antes era o “Show da Vida” para muitos, hoje é lixo. Alixo, Bêlixo, Cêlixo, tudo é lixo, menos Datena e Ratinho, que como num passe de mágica galgaram simpatias, deixando a amarga posição de sensacionalistas para se tornarem exemplos de imprensa séria. Novos tempos.

Nas redes sociais, onde tudo parecia permitido até pouco tempo, parece que uma pequena revolução está em curso. CPI e inquérito sobre fakenews deram uma enquadrada nos mais afoitos e verborrágicos. Certo ou errado se está em busca de algum limite. Até o Facebook, detentor das plataformas WhatsApp e Instagram, além daquela que leva seu próprio nome, teve que ajustar seu discurso e as suas práticas. A liberdade de expressão como valor supremo virou um problema gigantesco para o gigante das mídias digitais. Fatos recentes, após a morte de cidadão americano George Floyd, uma onda de protestos contra racismo invadiu a rede. O Facebook, que lucra com publicidade, não mudou sua política e continuou aceitando propagandas e divulgações consideradas racistas e ofensivas. Tal atitude gerou críticas contundentes, inclusive dos próprios funcionários que fizeram um protesto virtual. Mas o “impávido colosso digital” seguiu defendendo a liberdade de expressão e, coerente, não poderia intervir nos anúncios, que seriam de responsabilidade dos anunciantes. A liberdade de expressão seria maior que qualquer outro direito ou pauta.

Bem, aí entra em cena um ser supremo, que ninguém jamais viu a olhos nus, mas que todos já ouviram falar em algum momento. O tal mercado, que tudo vê e que em todos manda, jogou no lixo as premissas do Facebook. Coca-Cola, Unilever, Honda, Starbucks e outros poderosos resolveram parar de anunciar, já que a empresa de Zuckerberg não se importava com conteúdo das postagens. Pelas primeiras contas, até o dia 26 de junho, o prejuízo era de bilhões de dólares. Mesmo não fazendo a menor ideia do quanto é isso, me solidarizo com o cara que mandou às favas a antes intocável liberdade de expressão. Doendo no bolso, o Facebook resolveu revisar seus princípios e seus propósitos.

Nas férteis terras banhadas pelo Rio Taquari, não bastasse os efeitos da pandemia, vem uma enchente como nunca antes vista, ao menos pela maioria dos hoje viventes. E como não somos uma ilha, apesar das imagens aéreas sugerirem isso, também produzimos notícias falsas e atacamos pautas inatacáveis. Como não somos uma ilha, somos suscetíveis a reações, quando pautas que nos são caras são esculachadas, seja nas redes sociais, seja na imprensa tradicional. O Facebook teve que sofrer no bolso. Tomara que, por aqui, o exemplo seja suficiente.

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