O futebol é pródigo em nos brindar com situações pitorescas. Não só as imagens, mas as declarações dos atletas, que são permanentemente assediados por câmeras e microfones, operados por repórteres ávidos por um “furo”. Ah, a imprensa, sempre a imprensa … São muitas as histórias, algumas reais e outras inventadas. Reza a lenda, que na Copa do Mundo de 1958, durante a preleção, antes do jogo contra a seleção da antiga União Soviética, o técnico brasileiro Vicente Feola, reunido com os jogadores, combinava as estratégias para vencer a partida. Ouvindo atentamente a palestra do professor, que indicava as jogadas pela ponta direita como sendo o caminho do gol, o craque Garrincha questionou: “seu Feola, o senhor já combinou tudo isso com os russos?” Realidade ou ficção, Garrincha é lembrado tanto pelos dribles desconcertantes, quanto pelas tragédias que a vida lhe impôs, como pelas frases de efeito que proferiu.
Mais recentemente, uma história futebolística real deu ao que falar. E ao que rir também. O ano era 2018, o campeonato era o Brasileirão, 25ª rodada. Chapecoense e Internacional se enfrentavam na Arena Condá. O Colorado saiu na frente, tomou o empate, levou a virada e, já nos acréscimos do segundo tempo, aos 50 minutos (?), o árbitro assinalou um pênalti.
Homem da confiança do técnico Odair Hellmann, o centroavante Leandro Damião foi destacado para a cobrança. Num campeonato por pontos corridos, quase na reta final, um empate tem um peso absurdo, se confrontado com uma derrota e Damião sabia disso. Posicionado para a cobrança, o chute parou na defesa do goleiro Jandrei. E o erro custou a derrota ao time colorado. Ao deixar o gramado, visivelmente abalado, Damião foi confrontado pelo microfone da reportagem e, questionado acerca do pênalti perdido, sentencia: só bate quem erra! O calor do momento, a frustração da derrota, deve ter influenciado no equívoco semântico do centroavante. No caso, a ordem dos fatores alterou substancialmente o produto e o jogador foi zoado internacionalmente pela torcida tricolor.
Desde sempre, os gestores são os caras que batem os pênaltis. Tanto na esfera pública como na privada, a decisão de investir, contratar, demitir, associar, abrir, fechar, seguir, parar, é do gestor. Afinal, eles foram destacados pra isso. Mais do que nunca, nesses tempos malucos de pandemia, o pior que qualquer gestor pode fazer é dar uma de Zeca Pagodinho, deixando a vida nos levar, deixando que cada um decida o que fazer. Ele tem que decidir e a decisão, qualquer que seja, vai desagradar a muitos e agradar a outros tantos. No caso do Damião, ele não errou: Jandrei defendeu. No momento atual, sem poder combinar nada com os russos, mais do que nunca, errar faz parte do jogo. E só erra quem bate.