Certo dia você se percebe solto das amarras e sorrateiramente vai se esgueirando para fora da caverna em que sempre viveu. Logo aprende que as únicas imagens que via da posição em que estava, na verdade, eram sombras, uma verdade simulada com o intuito de estabelecer uma realidade única e manipulada. A Alegoria da Caverna de Platão (427-347 a.C.) refere-se ainda ao dilema do homem ao se deparar com a descoberta do conhecimento: retornar à caverna e compartilhar a verdade e ser taxado de louco pelos amigos ou permanecer alheio a uma realidade mais ampla e complexa? A construção da sociedade pós-moderna tem se baseado na dinâmica da comunicação e no ferramental tecnológico para estabelecer segurança e conformidade aos indivíduos. O fator social, ao mesmo tempo que nos protege e estabiliza, nos coloca em bolhas indevassáveis, de onde vemos apenas nosso próprio umbigo.
“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.” Frase atribuída ao ministro das comunicações nazista, seu conceito moldou a estrutura da propaganda durante praticamente toda a segunda metade do século passado. As diversas crises econômicas da década de 1980 e a efetiva abertura do Brasil ao mercado externo (1990), nos trouxeram a tecnologia da informação e, consequentemente, a internet e um novo olhar sobre o mundo. ‘Consumidores inteligentes com coração e mente’ (Kotler) levaram os profissionais a rever seus conceitos de comunicação até a consolidação do marketing de conteúdo e as novas formas de aprendizado que experimentamos atualmente. Mas nem por isso, muitas vezes, deixamos de nos ater às sombras e acreditar somente naquilo que nos faz bem, mesmo que seja uma informação falsa, fake.
O impacto das informações falsas nas organizações, tema da live do Negócios em Pauta do último dia 17 e também do caderno especial desta edição do A Hora, nos permitiu uma troca de ideias sobre o assunto e também sobre os esforços para a implantação da lei geral de proteção de dados (LGPD). Longe de ver soluções, identifico uma prerrogativa estatizante, que não considera realidades locais nem a capacidade de absorção do pequeno empresário. O tema querer nivelamento e construção da viabilidade por meio de entidades e agentes do setor empresarial.
Quanto à mentira, ela continua solta por aí. Embora o projeto de lei sobre fake news esteja em votação no Senado e o código civil considere crime os atos de injúria, difamação ou calúnia, o que mais pesa a favor da proliferação das notícias falsas é a nossa necessidade de pertencimento enquanto ser humano social. O conceito de alteridade prevalece e o nosso Eu Individual só tem valor mediante o contato com o outro. Ser considerado e aceito nos fortalece e nos individualiza, pois passamos a crer que há por trás de nós um exército de Eu, capaz de nos defender e nos empurrar – sem muitas vezes perceber que estamos à beira do abismo, da falsidade ou da ignorância. Com tudo que acontece ao nosso redor, além das crises sanitária, econômica e política, está na hora de decidir onde vamos morar. Na caverna ou fora dela? Verdade ou mentira? Se não tem certeza, não compartilhe.