A falta de chuva prejudica a economia do estado e da região. Conforme a Farsul, as perdas nas lavouras e nas atividades relacionadas ao agronegócio representam menos R$ 36,2 bilhões em circulação no RS. Esse total representa 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado.
“Esses 7,3% do PIB demonstram, mais uma vez, que temos uma economia altamente interligada entre campo e a cidade. Quando a safra vai bem, a economia como um todo vai bem, por outro lado, quando o agro vai mal, a economia como um todo vai mal”, realça o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz.
Os números comparam os resultados de 2019 e mais a projeção de crescimento para este ano. Em dezembro, havia uma expectativa de que a colheita de grãos injetasse R$ 42,7 bilhões na economia gaúcha, um crescimento de 33%. A frustração devido à seca anulou essa projeção e ainda trouxe um declínio de pouco mais de 1% com relação ao período anterior.
Esse percentual só não foi maior devido à alta na cotação do dólar. Para o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, os danos causados pela seca superaram os efeitos prejudiciais da pandemia no agronegócio.
De acordo com ele, o setor primário não foi penalizado pelas restrições impostas nas cidades, como fechamentos de atividades econômicas. “O problema da colheita em virtude da seca trouxe números desabonadores que tiveram impacto negativo na economia”, afirma.
Na avaliação da entidade, a perda na safra significa mais do que a redução dos produtos ofertados pelo campo, traz impactos nos investimentos dos agricultores na compra de implementos agrícolas, de melhorias na propriedade, compra de insumos e de participação na economia local.
“Não perde apenas a agropecuária, mas indústria e os serviços também. É menos dinheiro circulando. Isso demonstra que os governos devem ficar atentos à fragilidade das economias dos municípios que vivem do agro”, destaca o economista da Farsul.
No Vale do Taquari, conforme a Emater\Ascar-RS, as perdas em decorrência dos meses com chuva abaixo da média ultrapassaram R$ 256 milhões. Para chegar neste valor, foram considerados indicadores sobre as áreas cultivadas e nas que deixaram de ser plantadas em função da estiagem, tendo como base a cotação dos grãos no mercado. O cultivo da soja, por exemplo, teve uma quebra de 47%. Já no milho, 41% da lavoura foi perdida.
Oportunidade perdida
Pela característica do Vale do Taquari, de agricultura familiar, a seca interferiu principalmente no cultivo de milho para o trato dos animais. Trouxe aumento nos custos de produção aos agricultores e retração no volume, em especial do leite.
Ainda assim, são pelo menos 22 mil hectares dedicados à soja, grão que teve alta valorização no mercado internacional. De acordo com o gerente adjunto do escritório regional da Emater, Carlos Lagemann, caso a safra fosse normal, o agricultor do Vale teria no mínimo um lucro de 20% na comparação com o período anterior.
Conforme Lagemann, do Paraná para o centro-oeste do país não houve perdas devido a seca e o resultado foi superior à expectativa quando começou o plantio. Ele lamenta a oportunidade perdida. “A saca antes vendida a R$ 60 ou R$ 70, chegou a R$ 100 devido à alta do dólar. Seria um dinheiro a mais para o produtor, em que poderia investir na propriedade e melhorar as condições para a próxima lavoura”, relata.
Desta nova perda por causa da estiagem, Lagemann realça a importância dos agricultores fazerem o seguro agrícola. Segundo ele, é uma garantia para pelo menos repor aquilo que foi investido na lavoura.
Renegociação das dívidas
O Ministério da Agricultura confirma a renegociação dos financiamentos para agricultores familiares que tiveram prejuízos devido à seca. Pela resolução do Banco Central, os recursos usados partem do Fundo de Terras e da Reforma Agrária.
A partir disso, as instituições financeiras operadoras dos fundos nos municípios que decretaram situação de emergência ou estado de calamidade pública pela seca ou estiagem estão autorizadas a renegociar as parcelas de principal e juros vencidas e vincendas no período de 1º de janeiro a 29 de dezembro de 2020, mantendo os encargos financeiros de normalidade e os rebates e bônus de adimplência pactuados.