Brasil é o último em educação, diz pesquisa

Posição incômoda

Brasil é o último em educação, diz pesquisa

Amostra de competitividade mundial considera avanço na política econômica, mas piora nos índices de ensino e formação da mão de obra

Brasil é o último em educação, diz pesquisa
oktober-2024

Estudo do IMD (International Instituto for Management Development), conhecido como ranking de competitividade, aponta que o país avançou três posições em comparação com o ano passado. O diagnóstico consta no Anuário da Competitividade Mundial 2020, divulgado nessa terça-feira.


Pela análise da instituição, o Brasil agora está na 56ª posição entre 63 países. A pequena evolução se explica nos critérios de desempenho econômico (da 57ª à 56ª), na eficácia do governo (da 62ª para a 61ª) e na infraestrutura (54ª para 53ª). O mais significativo se deu na eficiência dos negócios, subindo da 57ª para a 47ª posição. No entanto, no critério da educação, o país caiu para a última posição.

A conclusão aponta para a necessidade de implementar sistemas eficazes no atendimento em saúde e na educação, junto com maior rigor na fiscalização e proteção ambiental.

O estudo está no 32º ano de realização. Os resultados partem de pesquisa entre empresários dos países feita nos três primeiros meses deste ano, além análise dos dados econômicos e sociais datados de 2019.

Falta clareza nas políticas de educação

Para o professor de História e de Relações Internacionais da Univates, Mateus Dalmáz, é preciso compreender os diferentes métodos de estudo. Junto com isso, analisar o ponto de vista dos responsáveis pela amostra competitiva mundial.

“O instituto que faz o ranking e a Fundação Dom Cabral partem de um ideário econômico liberal e associam competitividade à redução do papel do Estado na economia e ao incentivo à iniciativa privada.”

Para ele, esse ponto de partida impõe uma questão fundamental sobre o resultado da educação nacional. “A pergunta que se impõe é: qual tipo de educação é considerada mais adequada gerar competitividade?”

Dentro disso, há duas vertentes, explica o professor. Uma voltada ao estudo como formador da mão de obra, algo ligado ao empreendedorismo e à produção material. O outro da vertente do iluminismo e da produção intelectual. “Qual concepção o Brasil adota? Penso ser a derivações das duas. Só que aplica mal ambas.

Historicamente, e especialmente na atualidade, o Ministério da Educação não tem clareza e continuidade sobre uma filosofia de educação.”


ENTREVISTA

Mateus Dalmáz
• Professor de Relações Internacionais da Univates

• A Hora – Como tornar o país mais competitivo pela educação?

Mateus Dalmáz – Para agradar o IMD e FDC e figurar bem no ranking, o Brasil poderia adotar o liberalismo ortodoxo na economia e a concepção mercadológica de educação. Contudo, não é ponto pacífico que os critérios do ranking sejam mesmo os melhores para indicar competitividade. Tudo é muito relativo. É possível argumentar que o compromisso do Estado com bem-estar social e uma política de educação que diferencie as concepções sejam bons caminhos para gerar crescimento econômico, inclusão social, formação científica, capacidade de inovação e de empreendedorismo.

Mais que prestar atenção em rankings de institutos, o que também é importante, o país precisaria de clareza no seu modelo de desenvolvimento e na sua política de educação.

• Onde estão os principais gargalos da formação dos jovens, tanto em relação a capacidade de gerar conhecimento (o famoso pensar por si próprio) quanto em aplicar o conhecimento na atuação profissional?

Dalmáz – Na falta de uma filosofia clara de educação, no uso de conceitos conservadores e ultrapassados de tecnologia, na “ideologização” ao invés de um tratamento científico, no desprezo a áreas do conhecimento, como ciências humanas e sociais aplicadas, que podem impactar na criatividade do estudante diante de cenários diversos. Ao invés de hierarquia e disciplina, a educação precisa de investimento e autonomia.

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