Os impactos econômicos da pandemia são sentidos no mundo e no país. Ainda que haja um retorno gradual das atividades, inclusive com melhorias no mercado internacional, a recessão é uma certeza.
A pesquisa aponta que a renda das famílias tem sido prejudicada pela doença. Isso provoca uma mudança forçada nas despesas. Pelo diagnóstico do Ibope, contratado pela C6 Bank, 89% da população brasileira modificou os hábitos financeiros. A principal foi a diminuição dos gastos.
O economista e professor da Univates, José Eloni Salvi, realça que esse comportamento reflete o momento de instabilidade. “Não podemos dizer que será uma conduta permanente das famílias. Se trata de uma situação na qual estão todos se adaptando.”
Na análise dele, o gastar menos tem várias ramificações. Passam por menos deslocamentos, despesas com lazer, turismo ou atividades culturais e gastronômicas. “Vivemos um período de excepcionalidade. Então é natural que determinados comportamentos sejam adaptados. Vivemos uma mudança forçada, não de consciência sobre o consumo”, frisa.
De acordo com o professor, ainda que muitos tenham adotados medidas de economia e guardado dinheiro, não se pode afirmar que se trata de uma nova conduta das pessoas no pós-pandemia.
A pesquisa aponta que 27% dos brasileiros passaram a guardar devido às incertezas no futuro. O estudo também mapeou as preocupações da população em relação às finanças. Pouco mais da metade (55%) tem medo de não conseguir dinheiro suficiente para atender as necessidades básicas da família.
O segundo maior receio nessa área é depender da ajuda de outras pessoas para fechar as contas, resposta citada por 37% dos entrevistados. Foram ouvidas duas mil pessoas das classes A, B e C. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Recuperação lenta
A queda da atividade industrial, da geração de emprego e renda será drástica e levará anos para chegar aos patamares anteriores, afirma Salvi. “Pelos indicadores atuais, até o fim do ano, talvez o PIB caia ainda uns 6%. Estaremos em um patamar abaixo de sete, oito anos atrás. É certo que teremos mais restrições pela frente.”
Pelos cálculos do economista, seriam necessários no mínimo cinco anos, com crescimento de 3% no PIB para chegar ao mesmo nível de 2013. “O movimento de retomada econômica é sempre mais devagar. O mercado internacional só volta a investir quando há segurança.”
Opção para gerar renda
Durante a pandemia, mais de 327 mil pessoas se tornaram micro-empreendedores individuais, conforme o Portal do Empreendedor. O país tem hoje mais de 10,2 milhões de trabalhadores nessa condição.
“É um reflexo da crise causada pela pandemia. Se torna uma alternativa tanto para o trabalhador quanto para o empresário, pois a carga de impostos para manter funcionários de carteira assinada é muito pesada”, avalia Salvi.
Dados do Monitor Global de Empreendedorismo (GEM, na sigla em inglês) mostra que a taxa de empreendedorismo inicial, que considera os negócios formais e informais teve picos de crescimento tanto na crise de 2008, quanto em 2015.
Na primeira, a taxa saiu de 12%, em 2008, para 15,3%, em 2009, e 17,5%, em 2010. Em 2014, passou de 17,2%, para 21%, em 2015. Devido ao novo coronavírus, a estimativa do GEM é que a taxa salte dos atuais 23,3% para o recorde de 25%.
Detalhes
A pesquisa foi feita pelo Ibope, contratada pelo C6 Bank. Foram ouvidas 2 mil pessoas.
• Estima-se que 89% dos brasileiros mudaram hábitos financeiros;
• Deste total, 51% reduziram despesas;
• Pelo menos 27% passaram a fazer uma poupança;
• 22% dos entrevistaram estão atrasando contas, boletos, financiamentos ou outros compromissos;
• Cerca de 55% das pessoas tiveram perdas de renda;
• Deste total, 66% perderam mais de 25% do que recebiam antes da pandemia.