Poucos atletas conseguem se tornar referência e capitão de diversas equipes no Brasil durante a carreira. Após um início difícil, o zagueiro Eduardo Brock deu a volta por cima e deslanchou na carreira. Natural de Arroio do Meio, o defensor está no Ceará desde 2018, onde contribuiu para a equipe permanecer na primeira divisão do Brasileirão desde então.
Filho e irmão de jogador, Eduardo Brock deu os primeiros passos na escolinha do Rui Barbosa, em Arroio do Meio. Com nove anos foi para o Grêmio junto com outro dois colegas de escolinha – Diego Marder e Gabriel Spessatto. Com o tempo, vários atletas do Vale foram se juntando a equipe, que em um determinado momento foi formada quase que por jogadores da região. “Entre Lajeado, Arroio do Meio e Encantado, o Grêmio tinha dez atletas. Isso mostra como a categoria 91 daqui era muito forte.”
No Grêmio ficou até 2011, quando uma série de fatores extracampo envolvendo empresários e situações contratuais o tiraram do tricolor. “Não sei se ia conseguir jogar profissionalmente, mas essa briga de empresários me tirou do tricolor.”
Depois do Grêmio, outra frustração. Em julho de 2011 foi para a Romênia, onde ficou por três meses sem receber. Depois da Romênia ficou por mais três meses na Bélgica. “Financeiramente não foi boa essa experiência, mas tive um crescimento profissional e pessoal muito grande. Muito que aprendi uso ainda hoje.”
Brock comenta que não conseguiu se firmar na Europa novamente por problemas envolvendo empresários. “Depois de seis meses decidi voltar para o Brasil e recomeçar. Ainda bem que fiz isso e deu tudo certo.”
Recomeço
O defensor é claro quando fala sobre o choque de realidade que teve ao jogar no Canoas. Segundo ele, quando se faz todo o processo de formação em um clube grande como o Grêmio, o jogador acaba não conhecendo a realidade do futebol do interior, com estruturas precárias e dificuldades financeiras. “Muitos desistem nesse processo pois se apavoram quando veem toda essa situação.”
Precisando recomeçar, encarou a realidade e trabalhou para retornar ao primeiro escalão do futebol nacional. “Botei a cabeça no lugar e vi que precisaria batalhar bastante para ter sucesso na carreira.”
Após o Canoas, passou ainda por Novo Hamburgo, Juventude e Aimoré, até chegar no Brasil, de Pelotas, onde deu o grande salto da carreira. “Agradeço por tudo que os clubes me ensinaram. Com certeza é um lugar que não gostaria de voltar, porque consegui atingir um nível bom e gostaria de ficar neste nível por um bom tempo.
Brasil de Pelotas
O Brasil está no coração de Brock. Ele chegou no clube em 2014 e participou de toda a ascensão do clube no cenário nacional. “Foi um momento muito importante na minha carreira que me fez crescer muito no futebol profissional.”
Comenta que essa ascensão que o clube teve foi impressionante. Todo fim de ano, o Brasil estava comemorando título ou vaga para uma série acima do Brasileirão.
Sobre a façanha de colocar o time entre os melhores do país, Brock comenta que a direção trabalhou muito para que isso acontecesse. Entre as dificuldades enfrentadas no período destaca a distância percorridas para jogar no país. “Conseguimos enfrentar todas essas dificuldades e conseguimos vencer. Entramos para a história do Brasil, de Pelotas.”
Outro grande destaque desse projeto foi o apoio da torcida. Para o zagueiro, o fanatismo dos torcedores é enorme. “Se falarmos em proporção a torcida Xavante é a maior do país.”
Brock destaca que não importava a cidade, sempre tinha torcedores do Brasil. “É algo invejável o fanatismo da torcida do Brasil.”
Paraná
Referência no Brasil, Brock optou por não renovar o contrato e foi para o Paraná no começo de 2017. A ida para o clube paranaense foi por acaso. Durante a temporada de 2016, o Brasil enfrentou o Paraná, na Vila Capanema e o defensor gostou do clima da cidade e da estrutura do clube. Quando acabou a temporada, recebeu algumas propostas e no último dia, quando precisava decidir onde jogaria em 2017, recebeu a proposta do Paraná. “O valor inclusive era menor que as outras propostas, mas como era o Paraná, um grande clube, com uma camisa conhecida, optei por aceitar o convite.”
A decisão foi acertada. Durante a temporada se tornou capitão do time e virou uma das referências no retorno para a primeira divisão após dez anos. “Foi o melhor ano da minha carreira, oportunizou abrir portas que tenho abertas até hoje.”
Mesmo sendo referência, ao fim da temporada, optou em não renovar o contrato e aceitou uma proposta do Goiás, que era melhor financeiramente do que o Paraná ofereceu. “Optei em ir para o Goiás pela grandeza do clube, já pensando no outro ano, que o time poderia brigar para subir à primeira divisão, e foi o que aconteceu.”
A experiência no serrado brasileiro foi boa, mas não durou muito tempo. Após sete meses se transferiu ao Ceará para realizar o sonho de jogar na primeira divisão nacional.
Ceará
Realizando um sonho, Brock chegou ao Ceará em meio a parada do Brasileirão para a disputa da Copa do Mundo. Na zona do rebaixamento, o clube era tido por muitos como uma das equipes rebaixadas, mas a chegada do técnico Lisca e de outros atletas ajudaram o time a permanecer na Série A. Nesse período de recuperação, o defensor era tido como um talismã para o treinador. Todas as vezes que esteve em campo, o time não perdeu. “O que fizemos não será repetido tão cedo. Entramos para a história do Ceará e somos lembrados por isso.”
No ano passado, o time também viveu altos e baixos e conseguiu permanecer na Série A. Em duas temporadas jogando o Brasileirão, Brock foi conhecer a primeira derrota apenas em novembro do ano passado, quando o clube perdeu para o Palmeiras.
Para este ano, o projeto é diferente. Reestruturado financeiramente, o time fez boas contratações como o goleiro Fernando Prass e o atacante Rafael Sóbis. Até a parada da pandemia, o time ainda não havia perdido na temporada.
Brock comenta que o grande objetivo do time neste ano é parar de brigar para não ser rebaixado e começar a disputar vagas para competições internacionais como a Copa Sul-Americana e Libertadores. “Não sabemos o que vai ser do futebol depois da pandemia, mas vamos trabalhar bastante.”
Por falar em estrutura, Brock comenta que o Ceará vem em uma constante evolução dentro e fora de campo, melhorando as estruturas para um aconchego melhor aos atletas e torcedores. “Eles estão trabalhando sério para consolidar o futebol do nordeste no cenário nacional.”
Clássicos
Desde que iniciou no profissional, Brock participou de diversos clássicos regionais como o Brasil de Pelotas x Pelotas, Paraná x Coritiba, Atlhetico-PR x Paraná e Goiás x Vila Nova.
Para ele o mais impactante foi o Ceará x Fortaleza pelo Brasileirão do ano passado, por ter sido o primeiro clássico na Série A depois de 26 anos. “Ter participado desse jogo foi muito importante, foi uma festa enorme e ainda bem que ganhamos por 2 x 0.”
Brock destaca que o estado do Ceará tem duas torcidas extremamente fantásticas e fanáticas que lota os estádios fazendo mosaicos e incentivando os atletas. “Eu não peguei um Gre-Nal no profissional, só na base. É um sonho disputar esse clássico ainda, acredito que seja tão grande como esse que disputei.”
Retorno as atividades
Desde a metade de março quando as atividades foram paralisadas, os atletas entraram de férias e depois disso passaram por treinamentos onlines três vezes por semana. Nos demais dias, os atletas tinham que procurar um profissional de educação física para realizar as atividades. “Consegui manter a forma, claro que não é a mesma coisa que treinar no clube, mas os trabalhos em Arroio do Meio me ajudaram a chegar inteiro na reapresentação.”
O Ceará retornou as atividades no dia 1º de junho. Hoje os atletas estão separados em grupos de quatro a cinco pessoas para não ter contato entre eles. São treinos físicos e com bola. O processo deve durar algumas semanas até os treinos coletivos serem liberados. A previsão é de que a competição retorne no dia 20 de julho.
Sobre o momento vivido pelo país, Brock é enfático em dizer que primeiro tem que se pensar em salvar as vidas antes de pensar em um retorno do esporte. “Espero primeiro que as vidas sejam preservadas para depois pensar no futebol e no dinheiro. Primeiro temos que pensar no lado humano. Espero que as pessoas melhorem muito depois que passar isso tudo.”
Futuro
Com 29 anos, o atleta tem contrato com o Ceará, mas tem o sonho de no futuro jogar no Grêmio ou no Internacional. “Quero muito atingir esse objetivo, principalmente pela minha família, por tudo que significa atuar no Rio Grande do Sul. Iniciei minha carreira aqui e quero encerrar aqui.”
O defensor destaca que antes de encerrar quer ainda crescer profissionalmente no cenário nacional e até internacional. “Trabalho bastante para me tornar conhecido, fico feliz em poder levar o nome de Arroio do Meio para todo o Brasil.”
Ficha Técnica
Nome: Eduardo Schroeder Brock
Idade: 29 anos
Posição: zagueiro
Natural de: Arroio do Meio
Clubes que passou: Grêmio (Categorias de base), Canoas, Novo Hamburgo, Juventude, Aimoré, Brasil de Pelotas, Paraná, Goiás e Ceará