Os resultados preliminares da primeira etapa da pesquisa Testa Lajeado, divulgados nessa terça-feira, 9, apresentam um recorte socioeconômico dos contágios por coronavírus no município. A pesquisa constatou uma prevalência de 3,1% no município de Lajeado e apresentou alguns dados que mostram que a situação não é homogênea no município e tem particularidades.
O vírus que chegou ao Brasil de avião, por meio de pessoas de melhor poder aquisitivo, começa a atingir com mais intensidade as periferias e localidades mais pobres. A situação pode ser verificada em Lajeado, onde os primeiros casos foram registrados no Centro em pacientes que haviam feito viagem ao exterior ou cruzeiro marítimo.
Entre os casos positivos identificados pelo levantamento, a renda média e a escolaridade são menores do que a média dos 450 testados pelas equipes da Univates.
De acordo com a professor Ioná Carreno, que coordena os trabalhos, os dados convergem ainda para os bairros onde vive a população de menor poder aquisitivo.
“Estes bairros mais carentes, onde tem menor renda e escolaridade da população, fecha também com o local onde os trabalhadores dos frigoríficos residem. Ali temos um número maior de casos positivos”, analisa a professora Ioná Carreno.
Trabalhadores de frigoríficos
Além das características de habitação, educação e renda dos bairros mais pobres, a presença de funcionários de frigoríficos contribui com o aumento nos casos. Boa parte destes trabalhadores reside nos bairros Conservas, Morro 25 e Santo Antônio.
“Aumenta a chance de ter o coronavírus sendo trabalhador de frigorífico. E o local de moradia destes trabalhadores são os bairros onde encontramos mais casos”, afirma Ioná.
Condições de habitação
Para o sociólogo Renato Oliveira, o resultado não surpreende e é consequência, entre outros fatores, das condições habitacionais e de locomoção destas localidades. Oliveira pontua que o ambiente em que esta parcela da população vive é mais suscetível à contaminação porque a distância física entre as pessoas é menor.
“Uma coisa é morar com uma família em uma casa de classe média alta com 300 metros quadrados e quatro, cinco pessoas. Outra coisa é morar em uma casa com 20 metros quadrados e várias pessoas”, afirma.
Falta de política nacional
O sociólogo chama atenção para as perguntas do questionário que abordam o cumprimento de medidas de distanciamento. As respostas são semelhantes entre os positivos e negativos. No entanto, Oliveira destaca que a compreensão é subjetiva. Ele defende a necessidade de uma diretriz nacional clara sobre o distanciamento, que leve em conta características regionais.
“Isso não existe no país. Pelo contrário, temos no Governo Federal declarações de ridicularização das medidas e o presidente da República manifestamente boicota qualquer medida de distanciamento”, conclui.