Esforço global por uma vacina

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Esforço global por uma vacina

No mundo, há 133 estudos para descobrir uma forma de imunizar as pessoas contra o novo coronavírus. Em outra linha, pelo menos 800 pesquisas buscam medicamentos eficazes para o tratamento dos infectados. A combinação desses trabalhos, dizem cientistas, é fundamental para garantir segurança epidemiológica à humanidade

Esforço global por uma vacina
Créditos: Josué Damacena/Divulgação
Vale do Taquari

A covid-19 coloca o planeta em alerta e une cientistas de diversas nações em busca de medicamentos e alguma vacina eficiente contra o vírus. Algumas descobertas importantes foram confirmadas ao longo das últimas semanas.

Há duas frentes de trabalho em andamento. Uma para desenvolver alguma vacina eficiente e que garanta imunidade, nem que seja temporária. A outra por compostos químicos capazes de tratar os doentes e evitar casos graves de síndrome respiratória aguda.

Do total de 133 pesquisas para encontrar uma vacina, quatro estão em um estágio avançado. Apenas uma cumpriu todas as etapas e começa a ser testada em larga escala. Trata-se do estudo desenvolvido pela equipe de pesquisadores da Universidade de Oxford, da Inglaterra.

Serão dez mil pessoas testadas, sendo dois mil brasileiros. A estratégia faz parte do plano de desenvolvimento global e o Brasil é o primeiro país fora do Reino Unido a verificar a eficácia da imunização contra o Sars-CoV-2.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) frisa que a descoberta tanto da vacina como de um tratamento efetivo são fundamentais. Infectologista e professor da Univates, Guilherme de Campos Domingues, realça que pensar em uma volta irrestrita às atividades sem essas garantias é impossível.

De acordo com ele, há muito mais dúvidas com relação ao desenvolvimento da doença do que certezas. “Não sabemos se a pessoa infectada cria resistência. Algumas pesquisas indicam que, mesmo em casos leves ou assintomáticos, essas pessoas ficam com o vírus nas vias aéreas por mais do que duas semanas.”

Essa situação, diz, indica que muitos organismos não criam anticorpos capazes de frear o avanço do vírus. “Hoje não temos nenhum tratamento comprovado que funcione. Estamos vivendo uma verdadeira corrida científica.”

Em meio a esse esforço mundial, alerta para as estratégias dos países. “Como o governo vai adquirir essas vacinas? O que poderão investir e negociar. São mais de 50 empresas do mundo com potencial de produzir. Há toda uma questão mercadológica e logística por trás.”

Essa situação poderia interferir na entrega de remessas das doses e países subdesenvolvidos ficariam no fim da fila.

Duas pesquisas brasileiras estão na primeira etapa. Na melhor das hipóteses, compostos ficam prontos até o fim de 2021. Tendo uma vacina nacional, Brasil não teria de concorrer com países ricos no cronograma mundial de produção. Créditos: Divulgação/Arquivo Fiocruz

Vacina brasileira

Uma forma de garantir agilidade para imunizar os brasileiros seria desenvolver uma vacina nacional. Há dois estudos em curso. Um deles é desenvolvido pela Faculdade de Medicina da USP e pelo laboratório de Imunologia do Instituto do Coração. O componente está na primeira fase e começa a ser testado em camundongos.

A outra pesquisa é feita pela parceria entre Fiocruz, Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e Instituto Butantã. A previsão é que os resultados gerais dos estudos estejam prontos no ano que vem. Em caso da imunização ser eficiente, pode chegar ao mercado no fim de 2021.

Atendimento intenso e olhar atento aos pacientes

A médica Carla Bruxel atua no pronto-atendimento covid do Hospital Estrela. De acordo com ela, a procura de pacientes com sintomas gripais tem sido intensa. “Como o paciente precisa ficar isolado, longe dos familiares, isso traz dificuldades emocionais. Eles ficam mais sensíveis e precisando de atenção.”

Essa condição faz com que as equipes de saúde precisem atuar de maneira mais empática, conversar e explicar a situação. “Nos esforçamos para tratá-los muito bem para que não sintam ainda mais solidão.”

“A incidência parece estar reduzindo”

Na linha de frente contra o coronavírus, atuando no maior hospital da região, o médico Lucas Mallmann realça a necessidade de manter os cuidados e recomendações para evitar uma nova onda de contaminações e casos graves. De acordo com ele, o pior momento em Lajeado foi no fim de abril e início de maio.

A Hora – O Vale registrou uma redução no número de pacientes graves nas últimas semanas. Esse é um indicativo que talvez o pico por aqui tenha passado?

Lucas Mallmann – Debatemos esse assunto dentro do nosso grupo do hospital. Houve um pico, no fim de abril e início de maio. A incidência parece reduzindo. Com a reabertura das atividades e a maior movimentação das pessoas, há uma tendência dos contágios subirem de novo.

No entanto, o risco de um pico do qual o hospital não pudesse dar conta parece menor. Acredito que a partir de agora as coisas vão andar mais sob controle. Tudo isso, claro, depende da população cumprir as recomendações de distanciamento, de higiene. Se pensar que está tudo liberado, teremos um grande risco de uma alta de novo e todo o esforço feito lá atrás, de fechamento e controle rigoroso, teria sido em vão.

Desde março, quando foi determinada a quarentena no país, o que mudou no trabalho das equipes de saúde?

Mallmann – No Bruno Born, pelo risco de uma demanda maior do que nossa capacidade foram designadas áreas específicas, ampliado leitos e destacada equipes específicas. Mudou muito a rotina de trabalho. Pessoas foram deslocadas com regimes de plantão diferentes do normal.

Vimos colegas com filhos pequenos que precisaram se distanciar. Deixaram as crianças com os pais ou em outras cidades. Se isolaram com medo de infectar outros. Tudo isso provoca impacto tanto físico quanto mental. Na área covid, não temos acesso a outros espaços. Usar todos os equipamentos de segurança dificulta até a respiração. Ficamos as vezes 12 horas até 24 horas, com pequenos intervalos, dentro da unidade. Ficam marcas no rosto, também causam feridas. As precauções são muitas, desde a ida no banheiro, até a alimentação.

É uma situação de muita tensão, pois estamos mais expostos ao vírus. Imagina só, ficar em uma UTI, com cinco pacientes intubados. Por mais que se tome todas as precauções, fica o receio de se contaminar. Felizmente nosso índice de contaminação é muito baixo entre os profissionais.

Quanto aos pacientes. Como é para eles ficarem isolados?

Mallmann – São sentimentos variados. Temos aqueles que demonstram muito medo, quando tem uma piora e precisam usar oxigênio ficam ainda mais ansiosos e com temor de serem intubados. Também há quem nega. Que não acredita estar com a doença.

A covid tem peculiaridades. Pacientes com baixa saturação, com pouco oxigênio no corpo, mas que não sentem isso. Em outros casos, quando há essa baixa oxigenação, as pessoas sentem dificuldade de respirar, ficam com dificuldade de raciocinar.

Com o novo vírus, estamos lidando com pacientes lúcidos, sem a sensação de falta de ar. Então temos de conversar com ele, explicar que vai precisar ser sedado e ir para a respiração mecânica. É um momento crítico, pois o paciente fica inseguro. O paciente aceita o tratamento e pergunta quando vai acordar. Ou mesmo se vai acordar. Isso mexe muito com o emocional e o psicológico dele.

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