O dia 2 de junho ficará na memória do aposentado Nélio João Noll, 54. Ele tinha acabado de almoçar. Por volta das 13h saiu no pátio para comer uma bergamota e passou as primeiras horas da tarde parado em frente a sua residência no bairro Bom Pastor.
“Estava na dúvida. Queria tomar banho, fazer a barba e ir até o mercado comprar pão. Mas daí começou a movimentação dos vizinhos. Eram os tiros da polícia”, relata.
Quando percebeu a movimentação atípica, Noll caminhou pelo pátio para compreender melhor a situação. Pela cerca, avistou a abordagem da Polícia Rodoviária Federal que resultou na morte de Marco Antônio Blau. “Um dos tiros me acertou de raspão, no lado esquerdo do peito. Foi um susto muito grande. Tive muita sorte”, afirma.
Baleado, Noll ainda conseguiu caminhar alguns metros até uma borracharia próxima na esquina das ruas Eugênia Mello de Oliveira Kircheim e Airton Inácio Schmitz. Ele foi encaminhado até o Hospital Bruno Born pela equipe da CCR Viasul e recebeu alta às 21h de terça-feira.
“Todos os vizinhos estavam descendo a rua para ver a abordagem. Eu fui ver o que estava acontecendo e acabei sendo acertado de raspão, estava a uns 200 metros do local. Sem saber muita coisa, poderia morrer no pátio da minha casa”, diz Noll ao descrever a cena.
“Uma vida simples”
Assim que Noll define a sua vida à reportagem. Morando no Bom Pastor há mais de 30 anos, cria algumas galinhas, dois cachorros, cultiva algumas árvores frutíferas e mantém uma pequena horta com aipim e batata doce.
A casa é simples, um quarto, uma cozinha e um banheiro. “Vim morar aqui muito cedo. Mas nunca acompanhei algo assim como a última terça-feira. O susto foi grande”, repete.
Noll tem recebido o auxílio e acompanhamento da família. Em casa, ele ainda guarda a camisa rasgada, ainda com as manchas de sangue, que estava usando no dia da ação policial.
O caso
Após reagir à abordagem com facão, Marco Antônio Blau, 45, foi morto por agentes da PRF na última terça-feira, dia 2. A morte aconteceu na entrada do bairro Bom Pastor, às margens da BR-386.
A ação policial é investigada pela Polícia Rodoviária Federal e pela Polícia Federal. Internamente, os órgãos avaliam conduta dos agentes envolvidos na abordagem. “Foram ouvidos os policiais que participaram da ação e outras duas pessoas”, segundo nota encaminhada à imprensa.