O cenário no tradicional ponto turístico da região alta do Vale é o inverso do recomendado mundo afora por autoridades e especialistas em Saúde. Nos fins de semana, o Viaduto 13 e seu entorno recebem grande movimentação de turistas. São centenas de pessoas que vão ao local para passear e, eventualmente, passar o dia, fazer churrasco e pescar.
Nas últimas semanas, moradores publicaram em redes sociais fotos e vídeos da movimentação no viaduto e entorno. As imagens mostram grupos de pessoas circulando pelos trilhos e praticando rapel. Muitas estão sem máscara, cujo uso é obrigatório em todo o estado, desde 11 de maio.
Vespasiano Corrêa não tinha, até o fechamento dessa matéria, nenhum caso confirmado de covid-19. A aglomeração de pessoas vindas de outros municípios preocupa a comunidade.
O município de pouco mais de 2 mil habitantes tem 31,9% de sua população acima dos 60 anos, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Planejamento, Orçamento e Gestão, referentes a 2018.
Moradores em casa, turistas passeando
Na casa de Julia Ramos, a cerca de 2 km do viaduto, a preocupação maior é com sua mãe e sua avó, que são idosas. Julia percebe um movimento maior durante a pandemia.
“A maioria que passa aqui está sem máscara. A gente não sabe quem é, de onde vem, se está trazendo o vírus ou não. Não temos controle”, avalia.
Ela reconhece que o movimento é favorável para quem vive do turismo, mas acredita que falta consciência da maior parte dos visitantes.
“A gente se cuida, não sai de casa, mas as pessoas vêm até nós. As autoridades deveriam pensar em uma atitude em relação a isto”, avalia.
Isolamento sem sucesso
Silvia Zonatto e a sua família estão faz dois meses em quarentena em um sítio junto ao viaduto. Em tempos normais, ela se divide entre o local, que recebe grupos para eventos e cursos, e Porto Alegre, onde faz o trabalho de produção. Decidiu ficar ali para garantir o distanciamento social.
Desde que chegou, notou um movimento crescente de turistas.
“O pessoal procura uma válvula de escape e vem para cá. O problema é que essas pessoas podem ser potenciais transmissores à comunidade local”, avalia.
Silvia estima que o entorno do viaduto chegue a receber mais de 200 veículos por dia nos fins de semana.
Temor de fechamento
Wyllian Piccoli é sócio de um restaurante próximo à cascata. O negócio depende quase totalmente do turismo. Ele lembra que, em 2017, a concessionária impediu o acesso de visitantes e o movimento nos negócios caiu bastante. Wyllian teme que um descontrole na visitação possa acarretar em mais restrições.
“O pessoal tem cuidar essa ânsia de sair de casa. Daqui a pouco, a Rumo vê que tem muito movimento e tranca o viaduto. Para nós, vai ser muito ruim”, avalia.
Prefeito: “Não vejo tanto problema”
Prefeito de Vespasiano Correa, Marcelo Portaluppi minimiza o risco.
“Não vejo tanto problema, porque é um lugar aberto. Não vejo aglomeração”, diz. O prefeito argumenta que o município não tem ingerência sobre o viaduto, concedido à Rumo, e que não há como fechar os acessos, pois estes servem a moradores. “Não temos direito de impedir as pessoas de ir e vir”, conclui.