“Não acredite em nada, não importa onde você o leia ou quem o diga, a menos que esteja de acordo com a sua própria razão”. O pensamento datado por volta de 500 a.C. está relacionado a um raciocínio comum à filosofia budista e também à Grécia Antiga, que enfatiza a razão como meio de alcançar a felicidade e contradiz as teorias que relacionam amor, proteção, medo e desejos somente às emoções. O medo de sair de casa, de uns, e a vontade de se jogar às atividades, de outros, não são nada mais nada menos que a própria razão nos impulsionando em busca da felicidade, a necessidade de resgatarmos ou mantermos a sensação de segurança e a capacidade de sobrevivência. Num momento como esse que vivemos, agarrar-se às nossas ideias e fincar os pés no porto seguro de nossas crenças é a salvaguarda que tanto precisamos para abrir os olhos pela manhã e levantar-se da cama.
Esses pouco mais de dois meses nos confrontaram com os mais temidos pesadelos que habitam nossos sonhos. Digo isso literalmente e, inclusive, há um estudo sendo feito por um grupo de pesquisadores de diversas universidades brasileiras, recolhendo relatos de sonhos ocorridos durante a pandemia para entender nossos medos e angústias coletivas nesse período. Tudo que estamos vivendo nos levará à construção de uma nova cadeia de valor, que passa pelo modo como cada um está lidando com os fatos, com as limitações. É como se estivéssemos reiniciando o processamento da nossa matéria-prima, que envolve custos e a própria diferenciação que vamos estabelecer para nós mesmos quando tudo isso passar. O novo normal está muito longe do que imaginamos nesse momento. Não se trata apenas de superar a Covid-19 e retomar o fluxo das coisas.
Há algum tempo vimos falando de inovação, quebra de paradigmas, mudança do modelo mental. Olhando agora, parece até um preâmbulo, uma declaração introdutória dos propósitos que estávamos estabelecendo para o desenho irrefutável da mudança. Resiliência deixou de ser palavra da moda e se tornou competência necessária para quem compreender que bater de frente não resolve. Para superar os obstáculos será necessário muito mais que força, será preciso flexibilizar, adaptar-se a conjunturas que ainda não foram testadas. Será preciso entender que erros e acertos fazem parte da nossa experiência de aprendizado e crescimento.
O discurso da mudança, da inovação, do reinventar-se domina 90% das lives que se transformaram no novo horário nobre da comunicação, onde as informações compartilhadas interessam exclusivamente ao seu público, materializando uma segmentação nunca antes vista e fortalecendo os núcleos sociais e profissionais. As novas tecnologias firmaram-se de vez e oferecem a quase todos a oportunidade de descobrir novos caminhos, desenvolver aprendizados e habilidades. E agora, José? Em que me transformo? Para onde vou? A mudança será de dentro pra fora e vai cobrar de nós uma essência para a construção desse novo eu. O caminho é difícil e sem volta. Mas quem ouvir o seu íntimo, se dedicar, for bom e transparente tem chance de sair dessa fortalecido e reinventado. Bom trabalho!