O Rio Grande do Sul é um dos estados com maior índice de suicídios da nação brasileira. Neste ano, mais de 400 pessoas tiraram a própria vida, quase 50% delas desde o início do isolamento social.
A afirmação é do psiquiatra Ricardo Nogueira, do Instituto de Medicina Vascular Mãe de Deus, de Porto Alegre, que concede entrevista neste sábado, ao programa A Hora Bom Dia, na Rádio A Hora 102.9, às 7h20. Para o psiquiatra, a pandemia da covid-19 lançou discórdia, cizânia, descontrole, desespero, medo, alarmismo e terrorismo sobre a população. “Estamos fazendo um pandemônio no estado inteiro”, diante de um número muito reduzido e isolado de internações e óbitos.
No país, ele enxerga o foco de isolamento urgente e necessário em São Paulo, Rio de Janeiro e alguns estados do norte e nordeste. Diferente do RS, “temos de acabar com o terrorismo e testar os focos isolados, partir para ações concretas e não paralisar cidades inteiras”, dispara.
Nogueira chama atenção para as consequências neurológicas e mentais, uma vez que os suicídios continuam constantes. “De primeiro de janeiro a 05 de maio, tivemos 400 suicídios no RS. No período da quarentena tivemos 180. E isso não é novidade. Durante o HIN1 ocorreu o mesmo”, destaca.
“Aqui no RS estamos bem preparados. Graças a Deus o vírus não se espalhou como temíamos”, observa. O especialista insiste na estratégia de atacar a doença de forma localizada. Testagem é a forma mais eficaz para impedir a disseminação, “pois permite o isolamento dos contaminados e tomar a rédia disso”.
A ansiedade é, na opinião do psiquiatra, o desafio maior. Projeta que o Brasil deve se tornar o país com maior índice no mundo com o advento da covid-19 e seus reflexos econômicos e mentais. Chama atenção para o suicídio de empresários desesperados que não superam as dificuldades da atual depressão econômica.
Afora a preocupação econômica, as pessoas estão tristes e deprimidas pela falta de perspectivas de renda, segundo o psiquiatra. Ele alerta para a segunda onda da pandemia, por conta da mutação do vírus identificada em estudos preliminares na China.
“Este vírus veio pra ficar. Então temos de nos preparar para conviver com ele”. Nogueira também reforça o risco acentuado dos profissionais de saúde, os da linha de frente no tratamento aos doentes. “É destes que temos de cuidar, e não apenas do físico, mas também do psicológico”.
O médico ainda sustenta que o uso de tratamentos como cloroquina é algo comum, sem, no entanto, ser admitido pelos profissionais devido à falta de comprovações científicas.
Às autoridades, recomenda cuidar das equipes. Ao mesmo tempo, não esquecer do problema de saúde mental da população em geral. Defende que o fenômeno da depressão tende a acarretar mais mortes no RS do que o próprio coronavírus, como já verificado até o presente momento.
No caso da covid-19, em Lajeado, recomenda ação forte nos lares de idosos, onde está o foco de óbitos e internações. Cita o exemplo cirúrgico de 2018, por ocasião dos suicídios localizados em um
único bairro de Lajeado, onde havia um enorme número devido à crise social ocasionada pelo desemprego de algumas famílias imigrantes de outras regiões. “Estive aí, isolamos e tratamos estas pessoas. Temos de atuar de forma localizada também com a pandemia”, insiste.
Para uma interpretação mais sensata, é preciso considerar as diferentes nuances envolvidas. Partindo do pressuposto do psiquiatra, cabe cuidar tanto da mente quanto da covid-19. Este é o seu recado às autoridades, sejam políticas, sanitárias ou outras.
Afinal, a depressão econômica provoca ansiedade sem precedentes e, de nada adianta alarmar a população contra o coronavírus, se logo adiante perdermos mais pessoas para a depressão, o alcoolismo ou drogadição. Sabemos que, em muitos casos, estes distúrbios levam ao suicídio ou uma vida com perda de sanidades mentais.
A reflexão é para os negacionistas e sensacionalistas histéricos, principalmente. A razão e o equilíbrio não estão com quem acha tudo uma teoria da conspiração, nem com quem quer trancafiar todo mundo em casa.
É necessário um olhar mais abrangente, com base no histórico das doenças mentais pós-crises, dos suicídios e da pobreza, sem desconsiderar a gravidade da covid-19.
Sensato é olhar para as pessoas próximas e questionar como se sentem. Detectar qualquer distúrbio e confortar, dar esperança e força para a vida, sejam jovens, crianças, adultos ou idosos. E, como recomenda o psiquiatra, parar de distribuir este “alarmismo” entre as pessoas.
Aliás, nas redes sociais, especialmente, existe um grande número de pessoas orientadas a compartilhar tragédias e notícias negativas. Quanto piores, mais prazer e pressa parecem haver.
Na verdade, este desejo quase doentio, além de ignorância, esconde outras fragilidades para justificar próprios desconfortos em detrimento da desgraça alheia.
Definitivamente, se quisermos dar sentido às novas vidas, temos de consumir conteúdos relevantes e propositivos. Menos ronda policial, menos tragédia e menos morte “bombardeando” nossas mentes já é um bom começo.
Leia um livro ou jornal de qualidade, assista a um bom filme, escute uma boa rádio, ou então ocupe seu tempo com qualquer outra atividade que agregue valor à sua vida.
Do contrário, nada vai melhorar. Simples assim, pois sempre é hora de mudar.
Bom fim de semana a todos!