A retomada e a brasilidade

Opinião

Ardêmio Heineck

Ardêmio Heineck

Empresário e consultor

Assuntos e temas do cotidiano

A retomada e a brasilidade

Lajeado

Sou de uma geração em que as coisas eram difíceis de serem obtidas. Carência de energia elétrica e de confortos como refrigeradores, ar condicionado e televisores. Comunicações, deficientes. Para as gerações anteriores, então, mais pesaroso ainda. Mesmo assim, realizações fantásticas aconteceram. Qual a diferença com os tempos atuais, em que, quanto maior a fartura, maior a permissividade, a insatisfação e o enveredar pelos descaminhos da vida? A adversidade, a espiritualidade, a força dos sentimentos e a união que forjaram as pessoas de antanho? Nestes dias li um texto com a seguinte frase: “…a situação de aperto fará com que você saia de si mesmo e comece a confiar em orientação, ajuda e força de pessoas e de um Ser superior.”

A humanidade historicamente é assolada por guerras e surtos de doenças, seguidos de períodos de fome e de sofrimento. Destes episódios surgem novas eras e períodos melhores, resultantes de novos conhecimentos e tecnologias que alavancam o desenvolvimento. Contudo, dentre os ingredientes fundamentais para que assim aconteça, o despojar do eu, o dar as mãos, o pensar no bem coletivo.

Acontecimentos contemporâneos trazem preocupações quanto a que destino nos levará a caminhada atual de nós brasileiros. Lula assumiu como Presidente, colocando no Planalto a genuína esquerda brasileira. Iniciou num consenso político e cívico visando o bem da Nação. Só destoava a oposição ferrenha da nossa maior rede de comunicações. Até que – por coincidência – houve a renovação da sua concessão. Mal terminara a contagem dos votos do pleito que reelegeu Dilma Presidente, o derrotado Aécio e correligionários juraram oposição implacável. Mesmo com o país debatendo-se na crise econômica mundial iniciada em 2008. Interessava-lhes o poder. E, com apoio da mesma rede de comunicações, o golpe da derrubada da Presidente. Sucede-a Temer, de cuja caminhada nos lembramos, com seus solavancos políticos e econômicos.

Assume Bolsonaro, colocando no poder, após décadas, a direita pura. Mal desceu do parlatório do Planalto, após o discurso de posse e ficou sob fogo cruzado implacável de alguns grupos: – a militância comunista impregnada na mídia de massa das grandes redes e em partidos políticos; – políticos que, derrotados, não se conformavam, já mirando a eleição seguinte; – integrantes do Congresso inconsolados com o término da política do “toma lá, dá cá”; – grandes redes de comunicação, preocupadas com a renovação da concessão e indignadas com os recursos públicos bilionários de que deixaram de usufruir, em publicidades estéreis e desnecessárias.

Pois é neste clima que chegamos no momento crucial do trato com a covid-19: o da imprescindível retomada das atividades econômicas. Novamente vemos, tal qual com Presidentes anteriores, a busca do poder pelo poder. Só que se valendo de uma “peste” que trará na esteira – tal qual as outras – fome, miséria e dor.

A não ser que os opositores contumazes entendam que o momento exige união, despojada do eu e permeada por sentimento de brasilidade ímpar. Avanços tecnológicos e a modernidade das comunicações atuais darão as armas necessárias para a retomada econômica, com a preservação da vida no seu sentido mais amplo. Senão, imperará uma pergunta que me assalta: se derrotado Bolsonaro desse modo, adiantará ao seu sucessor assumir um Brasil destroçado e combalido? Apenas para locupletar-se com o poder? Melhor não seria buscar o Planalto em 2022, no campo das ideias? Até as redes de comunicação seriam mais felizes, deixando de depender das verbas públicas incertas, mantendo-se com anunciantes privados, alavancados com recursos gerados por sucessivos ciclos econômicos virtuosos.

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