Mãe sempre apoia os filhos, torce para o sucesso, ajuda com conselhos e como pode. Foi assim que a pedagoga Tania Gheno Pitol, 69, auxiliou no crescimento e na carreira profissional dos filhos Delvino Roque Pitol Junior, 37, e Luis Fernando Pitol, 30.
A ajuda veio principalmente a partir dos anos 2000, com o falecimento do marido Delvino Roque Pitol e grande apoiador dos filhos.
Tania comenta que na época em que os filhos jogavam, mulher não era bem vista se frequentasse os gramados. “Pouco acompanhei nos campos os jogos, mas nunca deixei de acender uma vela em cada partida.”
A mãe se lembra dos momentos marcantes que passou com os filhos. Ao lado de Delvino, está a final do Efipan em 1997 está na memória. “O meu marido sempre foi gremista e a final foi justamente um Gre-Nal. Delvino foi campeão com o Inter e ainda foi o destaque da competição.”
Já com Nando, o momento marcante foi passar o Natal no Paraná. “Eles estavam em preparação para a Copa São Paulo e a direção não liberou para voltar para casa. Na véspera do Natal, eles venceram o Athletico e o clube fez uma ceia para todos os familiares.”
Indagada se valeu a pena todo o esforço e dedicação, a mãe afirma que sim. “Mesmo não seguindo a carreira em times profissionais, se tornaram atletas reconhecidos na região. Fico lisonjeada quando alguém tece elogios aos meus goleiros. Você percebe que fez o seu melhor quando vê seus ensinamentos refletindo no caráter dos seus filhos e na educação dos seus netos.”
“É tudo pra mim”
Apesar das brigas e discussões, Delvino Pitol leva a mãe no coração. “Ela representa tudo pra mim, sempre falo para Gabi(noiva), que ela é a mulher da minha vida, porque existe ex-namorada, ex-noiva, ex-mulher, mas nunca ex-mãe ou ex-filho.”
Delvino conta que a mãe é muito supersticiosa e normalmente quando jogam aos domingos, ela vai no espaço onde guarda as santas e por volta das 15h acende uma vela e faz as orações. “Ela fala que fica muito nervosa olhando nossos jogos.”
O filho mais velho de Tania se recorda do esforço da mãe para ajudar na compra das passagens para ir treinar no Internacional, em Porto Alegre, principalmente nos primeiros seis meses quando não recebeu ajuda do clube e tinha que ir quatro vezes por semana na capital. “Recordo-me até hoje desse momento, as caixas de leite, aquelas plásticas azuis, umas 4 ou 5, cheia de galinhas marinando nos temperos, para no outro dia recheá-las.”
Outro momento que ele recorda foi após o falecimento do pai, trabalhou 10, 12 horas por dia para criar e encaminhar a vida dos três filhos. Na época Delvino estava com 17, Ana com 14 e o Luis Fernando com 9. “Esse senso de responsabilidade e compromisso com o trabalho, o respeito com as pessoas, a lealdade com os amigos, o comprometimento quando for fazer algo, são coisas que marcam e, certamente isso moldou meu caráter.”
Delvino comenta que hoje a maior alegria da mãe é ver a família reunida e a casa cheia com os netos Artur, Alice, Valentin e Antônio.
“Está sempre sorrindo”
Já para Nando Pitol a relação com a mãe é de muito carinho e preocupação um com o outro. Mesmo morando com a esposa em Cruzeiro do Sul, mãe e filho se falam todos os dias pelo whatsapp.
Nando destaca que a mãe é muito guerreira e apesar de todas as dificuldades, sempre demonstrou para os filhos o que era certo, errado e nunca deixou faltar nada em casa. “Ela é uma mulher que está sempre com sorriso no rosto.”
Nando relata que apesar de todas as dificuldades que passou, a perda do marido e de uma filha, ela seguiu em frente e amou todos os filhos da mesma forma. “Se eu conseguir proporcionar para o meu filho 50% do que ela me proporcionou eu vou ser um homem extremamente feliz.”
Nando comenta que a mãe sempre os apoiou e brinca sobre o valor investido durante o período que jogou profissionalmente. “Se ela fosse guardar as notas desses gastos comigo dava um carro popular (risos).
Por ficar muito nervosa, pouco acompanhou as partidas. “Ela acompanha de forma EAD”.
Para Nando, o momento mais marcante vivido com a mãe não foi quando jogava, mas sim recentemente, quando nasceu o filho Valentin. “Quando subi da sala de cirurgia empurrando o carrinho com o Valentin, ela parecia uma adolescente chorando. Foi um dos momentos mais marcantes”, lembra.
Luis Fernando Pitol
Sete anos mais novo que Delvino, Luis Fernando, o “Nando”, seguiu a tradição da família. O começo foi na Escolinha Sete de Setembro, mas diferente do irmão que jogava na linha e foi colocado no gol por acaso, Nando iniciou já como goleiro. “Sempre quis ser goleiro pelo fato do Delvino, mesmo os treinadores me colocando em outras posições, insisti e consegui mostrar para todos que poderia ser goleiro também.”
O ano de 2005 foi o divisor de águas para Nando. Na ocasião, o atleta disputou um torneio em Três Coroas. Após se destacar foi convidado para participar do Centro de Formação de Atletas Sarandi. De lá foi para a Chapecoense e após seis meses se transferiu para o Passo Fundo. “Foi a melhor decisão da minha vida, deixei de ir para uma excursão para jogar bola e apareceu a oportunidade.”
A carreira
Em 2007, teve a primeira oportunidade profissional. Foi no Lajeadense que na época era comandado por Gelson Conte.
Quando o Lajeadense foi eliminado na competição, Nando foi indicado por Val, goleiro titular do alviazul na época, para fazer testes no Iraty. “Me lembro que para fazer o teste peguei três ônibus. Deu quase 24 horas de viagem. Saí no sábado cheguei no domingo, segunda eu estava treinando na outra segunda assinando contrato.”
A assinatura rendeu outra história peculiar. Menor de idade, teve que pedir para a mãe, que estava em Lajeado, assinar o contrato. “Ela teve que sair correndo da Creche onde era diretora para assinar o contrato, na época eles mandaram por fax, eu nem sabia o que estava acontecendo direito.”
A temporada está na memória de Nando. Na ocasião o time ficou em terceiro lugar no campeonato paranaense atrás do Paraná e Coritiba.
Um ano depois jogou a Taça São Paulo. Em virtude da troca de treinador, iniciou o torneio no banco e jogou apenas uma partida.
Do elenco que jogou a Copa São Paulo, somente Nando e mais dois subiram para o profissional – Bruno Henrique, atual volante do Palmeiras, e Gilvan, atual zagueiro do Atlético Goianiense. Após pré-temporada o auxiliar técnico do time comunicou que a diretoria queria o emprestar, foi quando atuou no Pato Branco. “Nem joguei, passei o campeonato todo treinando.”
Depois do Pato Branco, Nando girou ainda por São Paulo, Farroupilha, Inter, de Santa Maria e Juventus, de Santa Catarina. Foi quando, aos 22 anos optou por dar um basta na carreira profissional. “Os clubes pequenos não tem tanta estrutura e não te dão perspectivas. Já estava com 22 anos e não tinha nada, querendo ou não você começa e refletir sobre o que você vai querer para sua vida, tu já é um adulto e ter que estar dependendo da mãe para tomar um sorvete é complicado.”
Depois de largar a carreira seguiu no amador. Nele teve diversos títulos. Foi campeão nos três clubes sociais do Vale do Taquari – CTC, Sete e Soges. O atleta ainda possui um Regional Aslivata e um municipal de Lajeado no currículo.
Arrependimento
O único arrependimento de Pitol é o fato de não ter tido um padrinho em alguns lugares que atuou e também por acreditar nas pessoas erradas. “Eu queria ter a cabeça que tenho hoje, acredito que poderia ser diferente.”
Delvino Roque Pitol Júnior
A vida de goleiro começou por acaso. Na escolinha do Clube Esportivo Sete de Setembro, o professor Rogério Worn, o “Farelo” viu que Delvino não tinha habilidades para jogar na linha e o colocou no gol. “Ele me testou em todas as posições, quando me colocou de goleiro, logo de cara peguei pênalti, foi amor a primeira vista”, conta Pitol.
Aos 13 anos deixou o Clube Sete de Setembro para dar um passo maior na carreira foi quando optou por defender as cores Sport Club Internacional.
Aos 21 anos, após dois anos de profissional e ganhar vários títulos na base, Delvino optou por desistir da carreira profissional. Os motivos são vários, mas os principais foram o falecimento do pai que era o grande incentivador da carreira, isso em 2000, e também os salários atrasados. “Estava no 2° semestre da faculdade de Ed. Física, e percebi que trabalhando durante a semana, jogando nos finais de semana, ganharia mais que no profissional naquele momento.”
Momentos marcantes
O goleiro aponta dois momentos como os mais marcantes da carreira. O primeiro foi a final do Efipan, onde o estádio estava lotado e o jogo foi narrado por Armindo Antônio Ranzolin. “Ganhamos o Gre-Nal de virada, empatamos no final do tempo normal e viramos na prorrogação 2×1.” O outro momento foi o primeiro jogo como titular. Em 2003, em um empate sem gols contra o São José, em Cachoeira do Sul.
Arrependimentos
Conta que o principal arrependimento foi em 1999, após a conquista da Copa da Paz, no Espírito Santo, onde o Internacional derrotou o Bahia na final, o empresário Orlando da Hora quis levar o jogador para o clube baiano, dizendo que a comissão técnica e diretores tinham gostado das atuações e que o time precisava de um goleiro nascido em 1983. “Como meu pai já estava num processo de idas e vindas do hospital, achei melhor ficar mais perto, decidi ficar no Inter, mesmo sabendo que talvez não fosse jogar tanto naquele ano que era meu primeiro ano de juvenil.”
O goleiro comenta que se fosse começar a carreira do zero, teria aceitado a proposta do Bahia, além de buscar um empresário. “Nos tempos atuais do futebol é quase metade do caminho, se não todo o caminho, porque o que o cara vê de gente fantasiada de jogador por aí não é brincadeira (risos). Hoje em dia o jogador não precisa ser bom é o empresário que precisar ser.”
Vida após o futebol
Ele comenta que o futebol proporcionou e ainda proporciona conhecer pessoas de diferentes cidades e regiões do país, com diferentes níveis socioculturais e socioeconômicos. “É isso que vale a pena, são essas relações interpessoais que nos fazem crescer.”
Depois de parar de jogar profissionalmente optou por seguir no amador, mas também concluiu a faculdade de educação física. Hoje possui pós graduação em fisiologia do exercício e nutrição esportiva. “É gratificante poder ajudar de alguma forma a saúde e o bem estar das pessoas.” Além disso, as atividades na academia o ajudam a ficar preparado para os jogos do amador.
No amador, tem vários troféus importantes na galeria, entre eles o de campeão do Vale do Sampaio e da Super Copa dos Vales, ambos em 2008. Já em 2014 ganhou o Regional Aslivata.
Já no Abertão da Languiru foi campeão em 2015, 2016 e 2018. Em 2018, foi o goleiro menos vazado, não sendo vazado nos sete jogos que disputou, e também foi eleito o craque do campeonato. Além dessas conquistas ele também tem dois troféus no CTC.