Amor incondicional para superar barreiras

DIA DAS MÃES

Amor incondicional para superar barreiras

Da gestação ao convívio, o ato de ser mãe muitas vezes reserva histórias de dificuldades até a chegada da felicidade. Também, em tempos de pandemia, mostra a capacidade das famílias em se reinventar sem perder os laços. Conheça as trajetórias das mães Ana Paula Stacke Mertz e Theresa Altair Berté

Amor incondicional para superar barreiras
Ana Paula e Fábio com os filhos: Matias e Mateus têm uma diferença de pouco mais de um ano. Um deles foi adotado. Créditos: Gabriel Santos
Vale do Taquari

Uma história que daria um livro. Palavras da própria Ana Paula Stacke Mertz, 40. Há 14 anos, logo após casar-se com Fábio Mertz, ela iniciou uma longa trajetória para ter o seu primeiro filho. Uma espera que duraria cerca de uma década, encerrada em 2016 após o nascimento de Matias. Mas foi um período de dificuldades e, principalmente, incertezas.

Incertezas estas que levaram ela e o marido a entrar na fila de adoção, no começo da década. O que nem Ana Paula, nem Fábio poderiam imaginar é que ela engravidaria justo quando estava perto de completar os cinco anos na espera. E que, no ano seguinte ao nascimento do filho “de sangue”, seriam contemplados com a chegada de Mateus, o bebê adotivo que se tornou tão amado pelo casal como se tivesse sido gerado por eles.

Ana Paula e Fábio residem no Centro de Marques de Souza. Ela atua como enfermeira na Prefeitura de Lajeado no turno da manhã e, à tarde, ajuda o marido na fruteira da família. Atualmente, dedica mais o turno inverso à profissão aos cuidados com os filhos, que não estão freqüentando a creche devido à paralisação da rede municipal de ensino.

Entre o drama e a emoção

“Comecei a tentar engravidar logo após o casamento. Mas fomos percebendo dificuldades. Procurei um médico aqui na região e depois, em Porto Alegre. Fiz três fertilizações in vitro e não obtive nenhum resultado. A quarta tentativa não concluímos porque não teve uma boa evolução. Conforme a orientação da médica, devido a um problema de saúde, eu não teria a possibilidade de engravidar”, relata Ana Paula.

Após anos de tentativa, e em meio a um tratamento, ela desistiu da fertilização. Mas não deixou de sonhar em ser mãe. Por isso, no fim de 2011, o casal partiu para a fila de adoção. “Encaminhamos os papéis, fizemos o curso que todos devem fazer para estar aptos a adoção e aguardamos. Até que, em 2015, veio a notícia de que eu estava grávida”, lembra.

De início, Ana Paula custou a acreditar. “Eu iria começar um tratamento para endometriose. Marquei um exame de rotina com a ginecologista e, enquanto conversávamos numa boa, ela olhou para mim e disse: “Paula, você está grávida”.

Assustada, Ana Paula foi orientada a procurar um laboratório para fazer o teste. “Saí de lá e disse que não iria fazer. Não consegui dormir e, no dia seguinte, decidi fazer. Pedi para me mandar o resultado por e-mail e não li todo. Só a parte que dizia “negativo”. Só que eu não menstruei, e no dia 23 de dezembro, fiz um por conta, de urina, e deu positivo. Na hora não acreditei”, lembra.

Ainda desconfiada, fez mais um teste até ter a certeza de que estava grávida. Foi, como ela, diz, um presentão de Natal. A gestação, tranquila, resultou na chegada de Matias, em 17 de agosto de 2016.

A segunda “gravidez”

A chegada de Matias ocorreu em meio à espera na fila de adoção. E tão logo a gestação foi concluída, Ana Paula e Fábio decidiram que continuariam com o processo.

Na manhã do dia 9 de setembro de 2017, Ana Paula recebeu ligações do Fórum de Lajeado. Mas não viu o seu celular tocar. “Quando olhei e vi que era do Fórum, pensei que era sobre a adoção. Logo eu falei para as minhas colegas de trabalho que seria mamãe e elas ficaram sem reação, achavam que eu estava ficando louca”, comenta.

O bebê nasceu no dia 10 de setembro. Ligaram novamente para Ana Paula no dia seguinte. Teriam que buscá-lo em Lajeado no dia 12, no Hospital Bruno Born. O horário combinado era 17h. “Queríamos comprar uma roupa nova para ele. Mas quando era 11h30min, ligaram novamente dizendo que deveríamos estar às 13h. Nem conseguimos comprar nada. Fomos ao Cartório de Registro Civil, e depois no hospital”, recorda a enfermeira.

Foi tanta correria que o casal nem lembrou de fotografar o bebê recém nascido. Mas o que importa é que as recordações daquele dia estão guardadas na memória. “Até hoje, é muito maravilhoso recordar daquele dia”. O nome do filho, Mateus, foi dado pelo próprio hospital. E o casal decidiu manter, em respeito.

Sem arrependimento

Quando decidiu entrar na fila de adoção, Ana Paula revela que enfrentou um pouco de resistência por parte de familiares. “Mas não era aquela coisa hostil. E isso foi quebrado quando eles viram o Mateus, que é super apegado aos meus pais. Hoje nem falamos nisso mais, pois não tem diferença. Ele é nosso filho, o Mateus e o Matias são irmãos e se dão muito bem”.

O casal não se arrepende de ter encarado um processo tão longo. E a própria Ana Paula recomenda, para pessoas que não podem ter filhos da forma natural. “Para nós, foi muito mágico. É um encontro de almas, não tem explicação. Parecia que a gente já se conhecia. Nós tínhamos que nos encontrar. Não foi de uma forma, mas foi de outra, e tão gratificante quanto. Aconselho muito. Não pensem que são cinco anos, e sim, um projeto”, afirma.

Domingo sem contato físico, apenas virtual

A pandemia do coronavírus (Covid-19), que afeta o mundo e chegou com força à região, transformou a realidade da grande maioria das famílias. Principalmente daqueles grupos familiares onde os pais já são idosos e não residem mais com os filhos e netos, reduzindo drasticamente o convívio.

A família de Theresa Altair Berté, 74, teve que se readaptar à nova realidade, aproveitando as novas tecnologias. Natural de Putinga, ela reside sozinha em um apartamento no bairro Florestal, em Lajeado. Dos seus quatro filhos, três moram na mesma cidade, enquanto a filha mais velha continuou na cidade natal.

Theresa se acostumou a receber visitas dos filhos, netos e amigas. Muito ativa, também gostava de sair, caminhar, jogar cartas e participar de atividades com grupos de terceira idade. E viu tudo isso mudar repentinamente, com a quarentena e a recomendação pelo isolamento social. Devido à idade avançada, não está saindo de casa.

“Sempre fui muito ativa. É uma situação muito triste. Tive que me isolar por ser do grupo de risco. Agora não recebo visitas há dois meses. Quando precisava cuidar de algum dos netos, eles sempre ficavam comigo”, comenta Theresa. Quando necessita de algo, como as compras do supermercado, os filhos vão até o prédio e alcançam as sacolas pela sacada, já que a mãe reside no primeiro andar. O contato é mínimo, mas necessário.

A adoção das chamadas de vídeo

Para não perder o contato, mãe e os filhos Luciana, Andreia, Lucinéia e Maurício conversam diariamente por chamadas de vídeo. Foi a solução encontrada para o momento. Ainda que não substitua totalmente o contato presencial, ajuda a diminuir e amenizar a saudade.

“Nós sempre estávamos juntos. Agora estamos em contato por vídeo e telefone. É uma mudança de rotina, porque me acostumei a ter a visita deles. Mas conversamos seguidamente”, comenta Theresa, que sente muito a falta do convívio com os netos. “Nas chamadas, eles sempre falam: Vó, te cuida. Eles são muito ligados comigo”.

Para não ficar sozinha, Theresa ganhou uma companhia. Os filhos deram uma cadelinha Shi Tzu de presente. O pet, em pouco tempo, conquistou a tutora. “É a Polly, bem amada. Só falta falar, pois entende tudo. É muito dócil e querida”, comenta.

Uma data inesquecível

Passar o Dia das Mães longe dos filhos e netos será uma experiência diferente para Theresa, que acostumou-se com todos ao seu redor. Depois que ficou viúva, decidiu, há 14 anos, trocar a tranquilidade da localidade de Charqueada, interior de Putinga, por um dos maiores e mais movimentados bairros de Lajeado. Tudo isso para ficar mais perto da família.

“A maioria dos filhos já moravam aqui em Lajeado, e eles queriam muito que eu viesse para cá. Depois que meu marido faleceu, fiquei mais três anos em Putinga e me mudei. Já estava aposentada. Gosto muito de morar aqui, gosto muito do bairro e da cidade”, salienta.

Mas como vai ser o domingo? Theresa projeta. “Vai ser uma data inesquecível. Um dia como outro qualquer, com o abraço virtual. ”

“Queria muito poder voltar a reunir a família, ter essa convivência. Mas o momento agora é de ficar isolado. Estou sempre me cuidando, porque quero viver muito ainda”, completa Theresa, não perdendo o característico bom humor.

Acompanhe
nossas
redes sociais