A notícia sobre a suspensão das atividades na planta da BRF em Lajeado caiu como uma bomba sobre o Vale do Taquari. A decisão judicial acatou integralmente o pedido do Ministério Público (MP), no intuito de frear a disseminação da Covid-19 entre funcionários e parentes. Imediatamente após a divulgação do despacho assinado pela Juíza Carmen Luiza Rosa Constante Barghouti, as manifestações de apoio ou repúdio se alastraram pelas redes sociais. Certa ou errada, a medida já causa impactos socioeconômicos.
Desde o início da pandemia, o setor da indústria de transformação animal sempre foi tratado de forma especial. E com razão. Além das questões óbvias, como a nossa própria alimentação, as empresas do ramo são responsáveis pelo escoamento de milhares de famílias instaladas em áreas rurais, e geralmente figuram entre as maiores corporações – com base no Valor Adicionado Fiscal (VAF) – em pequenas ou médias cidades. E é exatamente esse o exemplo das unidades da BRF e da Minuano.
Na quinta-feira, decisão judicial acatou parcialmente o pedido do MP e suspendeu em 50% as atividades na Minuano. Até certo ponto, a medida foi bem aceita por boa parte da comunidade e empresários, mas já denotava um sério problema para o homem do campo. Nessa sexta-feira, a expectativa de uma decisão semelhante para o caso da BRF pairava no ar nas primeiras horas da manhã. Às 9h13min, a dura notícia. A justiça suspendeu integralmente as atividades por 15 dias – 11 dias trabalhados. E os ânimos voltaram a ferver.
Houve repúdio à decisão judicial. Manifestações exaltadas e ponderadas. “Recebemos com tristeza essa notícia”, declarou Marcelo Caumo, o prefeito. Poucos aplaudiram a difícil ação do judiciário. E isso é compreensível. Afinal, é impossível não pensar no tamanho do impacto econômico e social. São mais de 450 mil frangos abatidos por dia só na BRF. E não se iludam. Não haverá espaço suficiente em outras unidades para essa demanda. Ou seja, o prejuízo é incalculável para o produtor, que sempre está na ponta mais frágil da cadeia.
Já na cidade, ou na área urbana, também restam muitas incertezas. São centenas de funcionários que devem ser liberados nessas próximas duas semanas. E diante disso, eis que urge um estranho debate: é mais seguro ficar dentro da fábrica ou em casa? A resposta para essa estranha pergunta é óbvia: é muito mais eficiente combater o novo coronavírus dentro de casa, isolado, e não em um ambiente com centenas de colegas de trabalho. Desde que, claro, esses funcionários efetivamente fiquem em casa. E isolados.
Para finalizar, é imporante reforçar a necessidade de mantermos o equilíbrio. Não podemos pensar em vinganças ou agressões. Estamos em uma briga sem vilões. Há, sim, erros e acertos por parte de quem gerencia este momento inédito, e de quem as ações propostas podem salvar, ou não, vidas. O prefeito não é vilão. A juíza não é vilã. O MP não é vilão. A imprensa não é vilã. O HBB não é vilão. O governador não é vilão. A Minuano, a BRF, o Carmelito, os comerciantes, autônomos e os produtores rurais do Vale do Taquari não são vilões.
Até este momento, todos nós somos uma só vítima.
Estatísticas e a realidade
A terça-feira foi tristemente marcada pelas mortes de pai e filho, de 56 e 32 anos de idade, respectivamente, ambos atingidos pela Covid-19. Se, por um lado, as estatísticas demonstram que a taxa de letalidade deste novo coronavírus é baixa – e tende a ser mais baixa em função da subnotificação de infectados –, por outro, o caso envolvendo os moradores de Lajeado e Cruzeiro do Sul reforça a fragilidade de muitos perante a pandemia. Eram três pessoas da mesma família com a doença. Duas faleceram. Uma está no HBB. É trágico.
CDL e a Câmara II
Ontem escrevi sobre uma possível rusga entre a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e a Câmara de Vereadores. Ocorre que a primeira assinou um documento pedindo redução de custos da segunda – ofício encaminhado pelo Fórum das Entidades. Por ironia, cabe à segunda aprovar ou não recursos públicos para a primeira. Entre esses, R$ 53,7 mil oriundos do Executivo, conforme escrevi ontem. Mas há também outros R$ 100 mil do próprio Legislativo.
Os recursos servem, respectivamente, para custear a tradicional campanha natalina “Lajeado Brilha”, que neste ano completa sua 22ª edição, e também para ajudar na captação de valores do evento da Chegada do Papai Noel. Resta saber se os vereadores aprovarão esses gastos em tempo de pandemia, especialmente após a mesma CDL pedir, em documento público, a redução de gastos do Legislativo. Uma situação, no mínimo, delicada entre as partes.
Energia, telefonia e internet
A presidente do Codevat, Cíntia Agostini, apresentou informações preocupantes. Segundo ela, a cobrança por uma melhora nos sinais de telefonia móvel e internet em áreas mais remotas – ou mesmo em áreas centrais, como na cidade de Imigrante, por exemplo – pode ter sido em vão. “Fomos até onde tivemos força para ir”, resumiu. Isso porque, de acordo com os contratos firmados com as empresas autorizadas pela Anatel, a cobertura está dentro do previsto. Ou seja, apenas um novo edital de homologação pode “salvar” o Vale do Taquari.