O Dia das Mães é das datas comemorativas mais importantes no Brasil, estabelecida oficialmente pelo Presidente Getúlio Vargas. Surgiu nos Estados Unidos, no começo do século XX. Contudo, historiadores enxergam semelhanças entre esta data e celebrações realizadas na Grécia antiga, com festivais em homenagem à figura materna, como, por exemplo, a celebração para Reia, a mãe dos deuses.
Puxei pela origem histórica mais a título de curiosidade. O que de fato interessa é a sua chegada a cada ano, em que se faz ecoar, coletivamente, o mais puro dos sentimentos recíprocos: o imenso amor e dedicação de uma mãe pelo filho que gerou e criou – ou que tão somente criou – e o infindável amor do filho em relação àquela a que deve sua existência. Sua figura é associada ao amor. O amor que alimenta, acalenta,embala, que acaricia, perdoa, nos encaminha na vida e que sofre. Quantas vezes geramos lágrimas de emoção– alegria e tristeza – nas nossas mães?
Tal qual outros, estou privado da companhia física da minha mãe há décadas, o que não impede que sua presença esteja viva, como se ainda estivesse em nosso meio. Sua luta e privações eram constantes e infindáveis para proporcionar-me a base sólida do cidadão, do amigo e colega, do pai que procurei e procuro ser.
Emociona e me intriga, devido à sua irracionalidade, ver a doação total de uma mãe no reino animal. Ela é constante, fruto do instinto. Concluo, com isto que a relação mãe/filho, na raça humana, em sua essência e pureza, deve ser eivada de algo acima da nossa racionalidade, deixando-se fluí-la instintiva e
emocionadamente.
Fico a imaginar o tamanho da alegria de sua mãe,ao ver alguém que conheci criança, aprumou-se na
vida e gerou sua própria família. Imaginem o gáudio da mítica figura da loba que amamentou Rômulo e Remo, vendo-os, depois, fundar a Roma antiga?
Penso, também, no sentimento da mãe em que o filho trilhou o caminho inverso, da amargura, mas que
por certo, não deixou de amá-lo por isto. Imagino,por exemplo, o sentimento da mãe de um Hitler, caso
tenha assistido em vida as atrocidades cometidas por seu filho. Assim como as de outros tantos genocidas –antigos ou contemporâneos. Chocante, por exemplo é a história de Agripina, mãe de Nero, imperador
romano de 54 a 68 da era cristã. Das figuras históricas mais polêmicas de todos os tempos, suas decisões
políticas, militares e econômicas eram fortemente influenciadas por algumas figuras próximas. Dentre elas, sua mãe. O que mais marcou sua história foi o incêndio que destruiu parte de Roma, atribuído a ele. Logo a cidade que o acolheu como principal mandatário do maior império da época. Pois a história relata
que Nero mandou matar Agripina, sua mãe.
E quanto à nossa segunda mãe, chamada “Pátria amada Brasil”? Gera seus filhos, os acolhe uma vida inteira, os amamenta, proporciona-lhes condições de sustento e de alegrias, emoldurados por geografia, clima e belezas ímpares no mundo inteiro. E, quando eles cumpriram sua jornada em vida, acolhe seus corpos
no seio da sua terra. Um País maravilhoso com um povo maravilhoso, onde, como já previu Pero Vaz
de Caminha, em 1500, ao descrever ao Rei de Portugal a terra recém descoberta: “em se plantando, tudo
dá”. Quantas lágrimas deve verter por seus “filhos Nero” que a vilipendiam, desonram e desvalorizam,
ao não se importarem em matá-la – aos poucos – com suas ações e atitudes, apenas por poder, dinheiro e
dominação dos seus irmãos?
Mas, quanto a nós, que somos quais “Rômulo e Remo”, podemos abraçar emocionadamente nossa “mãe loba” que nos fez gente. Um abraço físico ou espiritual. Mas sempre, um abraço longo e apertado,
permitindo-nos uma lágrima furtiva a rolar pela face.