Taquari confirmou ontem o décimo caso de coronavírus. Destes, oito têm relação com as fábricas de proteína animal. São cinco funcionários da Minuano, a mãe de um deles, um motorista que faz o transporte até a empresa e o caso mais recente, de uma funcionária da BRF de 39 anos.
Em Tabaí, o quinto caso foi registrado ontem, trata-se de uma funcionária da BRF. A paciente relatou ter procurado, na segunda-feira, o médico da empresa e foi orientada a voltar ao trabalho. Com a piora no quadro, na quarta-feira, ela procurou o posto de saúde.
“É absurdo. A letargia que ela estava, dor no corpo, desânimo, perda de olfato e paladar, todos os sintomas. Se for pegar o check list do coronavírus, ela estava com todos”, diz a secretária de saúde do município, Kelli Beatriz da Silva.
A orientação no município é de que todos funcionários da BRF procurem o posto de saúde, com ou sem sintomas. A secretária afirma que enfrenta dificuldades em convencê-los a irem a até a unidade de saúde.
“Eles entraram em contato conosco e disseram que o encarregado orientou os funcionários a não virem ao posto e seguirem trabalhando”, diz.
Frigoríficos preocupam
Os dois frigoríficos são os principais pontos de proliferação do vírus no Vale do Taquari. A situação decorre das próprias características destas indústrias. O ambiente é frio e úmido e propicia aglomeração de trabalhadores, que atuam muito próximos uns dos outros.
No caso regional, a atuação de trabalhadores de diversos municípios nas fábricas favorece a disseminação do vírus.
Ajustamento de conduta
Nessa quinta-feira, a BRF assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho. O termo prevê medidas de higiene e distanciamento.
As equipes das secretarias de saúde do estado e do município passarão a atuar em conjunto no acompanhamento diário do cumprimento das medidas de prevenção e do aumento de casos.
“São possibilidades que podem ser consideradas, como a redução da produção. Em última hipótese, o fechamento, se não houver o cumprimento das medidas ou se o número de casos demonstrar uma curva de crescimento muito aguda”, afirma o promotor Sérgio Diefenbach.
Posicionamento da BRF
Em nota, a BRF se posicionou. Segue o texto na íntegra
“Em respeito à privacidade de seus colaboradores e familiares, a BRF decidiu não divulgar para a imprensa os casos de funcionários com testes positivos para a Covid-19. A Companhia trabalha de forma colaborativa com as autoridades de saúde dos municípios onde possui operação e cidades vizinhas e esclarece que não faz nenhuma orientação aos seus funcionários de não atenderem as chamadas dos órgãos de saúde dos municípios para testagem. A empresa informa ainda que os colaboradores que testaram positivo foram afastados imediatamente de suas funções e estão recebendo o tratamento adequado e serão acompanhados pela área de Saúde Ocupacional da empresa até sua total recuperação. Suas famílias também estão sendo assistidas e orientadas sobre os devidos cuidados durante o tratamento. A BRF salienta que desde o início da pandemia colocou em prática uma série de medidas e procedimentos, com o suporte e orientação do renomado infectologista Dr Esper Kallas, para proteger seus colaboradores e manter o abastecimento ao mercado. Dentre essas medidas estão o afastamento de pessoas do grupo de risco, de todos que tiveram contato próximo com casos suspeitos, a medição de temperatura na entrada das fábricas, a distribuição de máscaras a todos os colaboradores e disponibilização de canais para dúvidas e orientações médicas 24h por dia, 7 dias por semana.”
Interdição da JBS em Passo Fundo
Entre as cidades com maior número de casos confirmados no estado, ao menos quatro possuem frigoríficos de grande porte: além de Lajeado, Passo Fundo, Marau e Garibaldi.
Em Passo Fundo, o Ministério Público do Trabalho confirmou que 19 funcionários de um frigorífico da JBS testaram positivo e outros 15 são considerados suspeitos.
O frigorífico, portanto, foi totalmente interditado, por tempo indeterminado, após fiscalização da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho. O termo de fechamento da empresa foi emitido na tarde desta sexta-feira (24).
Resposta da JBS
A JBS também emitiu nota. Segue o texto na íntegra:
“A JBS refuta as informações do auto de infração em Passo Fundo e está confiante na segurança das medidas adotadas com o objetivo de prevenir o contágio da Covid-19 e proteger cada um dos seus colaboradores.
A empresa esclarece que os seus protocolos atendem em 100% as orientações da Secretaria do Trabalho (Ministério da Economia) para o setor frigorífico. Ao contrário do auto de interdição que extrapola o protocolo da Secretaria do Trabalho, as ações implementadas pela JBS estão totalmente amparadas em laudos e recomendações técnicas dos órgãos de saúde e de especialistas da área médica, incluindo a Consultoria do Hospital Alberto Einstein, contratado pela JBS para apoiar em todas as ações voltadas aos seus colaboradores na área de prevenção e segurança contra a Covid-19, conferindo ainda mais qualidade técnica e segurança aos protocolos implementados pela empresa e que incluem, entre outras ações:
· Desinfecção diária e periódica de todas as instalações da empresa;
· Medição de temperatura de todos os colaboradores antes de acessarem a unidade;
· Afastamento das pessoas do grupo de risco;
· Inclusão de novos EPIs para uso permanente, como introdução de máscaras acrílicas;
· Obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção para 100% dos colaboradores, incluindo a área administrativa;
· Adoção de medidas de distanciamento social;
· Vacinação contra gripe H1N1 para todos os colaboradores, entre outras ações.
A proteção dos colaboradores sempre foi o primeiro objetivo da JBS, desde o início da pandemia da Covid-19. A empresa segue pautada por esse princípio e confia em que as atividades em Passo Fundo serão retomadas brevemente.”
ATUALIZAÇÃO: ÀS 9H15 DE 28/04/2020