E agora, Jair?

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

E agora, Jair?

Lajeado

“Não tenho como persistir com o compromisso que assumi sem que eu tenha condições de trabalhar, sem que eu tenha condições de preservar a autonomia da Polícia Federal para realizar seus trabalhos. Ou sendo forçado a sinalizar uma concordância com uma interferência política na Polícia Federal cujos resultados são imprevisíveis.” A coletiva do agora ex-Ministro da Justiça Sérgio Moro coloca fogo no Palácio do Planalto. E as palavras “autonomia” e “interferência” passam a assombrar o governo de Jair Bolsonaro.

Em um primeiro momento, Moro foi claro e supostamente honesto. Afirmou que não conseguiria preservar a autonomia da PF, e colocou uma corda no pescoço do “Mito”. “O Presidente me disse mais de uma vez que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele [na PF], que ele pudesse ligar, colher relatórios de inteligência. Realmente não é o papel da PF prestar esse tipo de informação. As investigações têm que ser preservadas.”

Moro não parou por aí. “Imaginem se durante a própria Lava Jato, o ministro, um diretor-geral, presidente, a então presidente Dilma, ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações sobre as investigações em andamento.” E foi além. “Percebendo que essa interferência política pode levar a relações impróprias entre o diretor-geral, entre superintendentes, com o presidente da República, é algo que realmente não posso concordar.”

Por fim, restou até um velado elogio ao governo da ex-presidente Dilma Rousseff. “É certo que o governo da época tinha inúmeros defeitos, aqueles crimes gigantescos de corrupção que aconteceram. Mas foi fundamental a manutenção da autonomia da PF para que fosse possível realizar esse trabalho. Seja de bom grado ou seja pela pressão da sociedade, essa autonomia foi mantida e isso permitiu que os resultados fossem alcançados.”

Horas depois, e após perder muito apoio popular em poucas horas, Bolsonaro falou em coletiva à imprensa. E foi duro. Iniciou com um posicionamento para lá de pessoal. “Uma coisa é admirar uma pessoa, outra coisa é trabalhar e conviver com ela.” Antes disso, avisou aos demais ministros. “Hoje vocês conhecerão aquela pessoa que tem um compromisso consigo própria, com seu ego, e não com o Brasil”, provocou.

Bolsonaro também demonstrou mágoa, e lembrou um encontro casual, antes do pleito. “Fui cumprimentá-lo no aeroporto e ele me ignorou. Fiquei triste. Ele era um ídolo e eu era um humilde deputado.” Mais adiante, voltou a mostrar mágoa. “Eu sempre abri meu coração para ele. Ele eu já não sei.” Sobre a atual posição de ambos, fez outra provocação. “Se ele queria a autoridade que eu tenho, poderia vir candidato em 2018.”

O presidente também tentou esclarecer as “denúncias” de interferência na PF. Segundo ele, nunca houve pedido para “blindar” familiares. “Mas, apenas, uma súplica sobre Adélio”, disse ele, se referindo a um pedido para agilizar as investigações sobre o atentado que ele sofreu às vésperas das eleições. Após, jogou Moro contra a parede. “Ele falou que eu poderia trocar o Diretor-Geral da PF, mas só em novembro, ‘depois que o senhor me indicar para o STF’.”

No fim da coletiva, Bolsonaro falou para o seu público mais fiel. E disparou. “É um ministro desarmamentista”. E reforçou. “O senhor disse que tinha uma biografia a zelar, eu tenho um Brasil a zelar. Se preciso for, eu dou minha vida pela pátria.” O resultado disso tudo, dessa disputa entre dois novos populistas, será percebido nas próximas semanas. Eu ainda aposto na manutenção do atual governo. Mas eu nunca gostei de apostas.


Lavajatistas x Bolsonaristas

A popularidade de Jair Bolsonaro desabou nessa sexta-feira. Não bastasse a saída do popular e midiático Sérgio Moro, membros da chamada “República de Curitiba” também detonaram com o chefe da nação. Entre eles, o não menos midiático, Deltan Dallagnol, um dos procuradores-chefes da Força Tarefa da Lava Jato paranaense. Em sua conta no Facebook, ele disparou contra o governo federal.

“É gravíssima a denúncia de tentativa de escolha pelo presidente da República de dirigentes da Polícia para interferir em investigações e ter acesso a informações sigilosas.”, escreveu. “O combate à corrupção exige investigações técnicas, sem pressões externas”, acrescentou. A seleção guiada por interesses pessoais e político-partidários coloca em risco o combate à corrupção no Brasil”, cravou.


Ruídos aumentam no PT II

O pedido de desligamento do presidente do PT de Lajeado, Carlos André Nunes, ainda vai dar o que falar. Ele também pediu exoneração do cargo de Assessor Parlamentar do vereador Sérgio Kniphoff (PT). Ontem, escrevi sobre a coerência de Nunes em relação à ideologia de Esquerda e as disputas internas com correligionários. Reforço o que eu escrevi. Mas preciso reconhecer que o “pedido” de exoneração foi justo.
Membros do partido ficaram bastante incomodados com a relação próxima – e alguns diálogos – entre o ex-presidente do PT e membro do PP lajeadense pelas redes sociais. Soou como traição. As conversas e pedidos caíram como uma bomba no colo de Kniphoff e da Direção Executiva, e o assunto rompeu as fronteiras da cidade. Por uma questão ética partidária, a continuidade na presidência restou insustentável.

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