Em 1996, Maria Bernardete e Vandir Masiero colocaram o filho Vinícius em um ônibus, na rodoviária de Encantado. A condução tinha direção definida: realizar o sonho de um promissor zagueiro em ser atleta profissional. 24 anos depois, recorda dos bons momentos vividos na carreira, entre eles o título Gaúcho com o Caxias em 2000. Na época, o time comandado por Tite encantou o Brasil ao conquistar o Estadual.
A vida no esporte iniciou por meio das escolinhas do Zezinho, em Encantado. Em 1996, fez um teste no Lajeadense e conseguiu disputar a fase final do Estadual Juvenil com a equipe de Lajeado. De lá foi para o Caxias, por meio de um amigo que atuava na equipe. No time da Serra ficou até 2002, depois girou por vários clubes do Rio Grande do Sul. A carreira encerrou em 2014, após disputar a Divisão de Acesso com o Panambi, com 33 anos. Desde então, se dedica as atividades em uma academia em Lajeado, no qual é proprietário. “Não me arrependo de ter passado por tudo isso, amadureci muito cedo. Foi tudo muito bom”, fala avaliando a carreira.
Indagado se faria diferente se pudesse recomeçar do zero, Masiero aponta que tentaria fazer teste em um clube grande. “Esse foi o único sonho que não consegui realizar. Sempre tive muita persistência, nunca desisti. Principalmente quando tive as lesões no joelho. Para minha carreira ter ficado boa, faltou mesmo ter tentado um clube maior.”
Lesões atrapalharam carreira
O zagueiro destacou que se não fosse as lesões a carreira poderia ter sido mais longa. A primeira lesão no joelho foi em 2004. Em 2006, após boa passagem pelo Internacional, de Santa Maria, o técnico Hélio Vieira prometeu que o indicaria para outros clubes. Quando estava em Lajeado, se recuperando de mais uma lesão no joelho, recebeu uma ligação do Vila Nova, de Goiás. “Poderia ter ido muito mais longe se não fosse as lesões.”
Gauchão de 2000
Desde 1997 no Caxias, Masiero atuava nas categorias de base em 2000, mas era constantemente chamado por Tite para compor o elenco e viajar com o grupo nos jogos. Segundo ele, desde o início, o time comprou a ideia do treinador e dificilmente perderia o título. “Mesmo enfrentando times melhores, como o Grêmio de Ronaldinho Gaúcho, nós estávamos encaixados e não perderíamos esse título.”
Ele conta que mesmo com os atrasos de salário, o grupo se fechou em prol da conquista e depois recebeu boas oportunidades em outros clubes.
Trabalhar com Tite
Masiero destaca o Gauchão foi o primeiro trabalho grande de Tite. Para ele, o treinador sempre foi bastante motivador e não diferenciava um jogador do outro. Tratando todos da mesma maneira. “Ele fazia que os atletas jogassem para ele. Foi muito bom poder trabalhar com ele, aprendi muito”
Outro destaque fica por conta do controle do grupo. Masiero comenta que mesmo com os salários atrasados, conseguiu convencer as principais lideranças a ficarem com ele. “O resultado foi esse, ganhamos o título e ele deslanchou na carreira.”
O ex-atleta se recorda das palestras no vestiário e da maneira de Tite lidar com os jogadores. “Nunca vou me esquecer de uma palestra. Ele passava um por um e batia no peito. Na primeira que participei eu tava, o Delmer estava do meu lado e disse para estufar o peito que o tapão ia pegar. Dito e feito e tomei o tapa. Ele fazia isso para motivar os atletas e fazer com que eles entrassem ligado no jogo.
Momentos marcantes da carreira
Após o título de 2000, o elenco do Caxias foi remontado e com isso, o zagueiro foi mais aproveitado. Viajou em quase todas as partidas da Série B do Brasileirão. “Estive junto em praticamente todos os jogos. Fui muito bem contra o Joinville, em Santa Catarina.”
Outros dois momentos que ficaram marcados foi a reclusão no Peru. Em 2004, após jogar no São Luiz, de Ijuí, foi atuar no Peru em um negócio de empresário. A experiência no exterior durou uma semana. “Quase fiquei preso no país. Não existia muita comunicação, não tinha dinheiro para sair do país, ainda bem que um empresário me ajudou.”
Já em 1999, Masiero foi testemunha de um crime. Em uma partida em Santo Ângelo entre Caxias e Santo Ângelo, o zagueiro acompanhou de perto a agressão de Darzone em Régis. “Foi um lance muito triste, fui testemunha de todo o processo na polícia.”
Diferenças do início para o fim da carreira
Masiero destaca que a principal diferença de quando iniciou para hoje é a divulgação e a comunicação entre as pessoas. “Para conversar com os treinadores era complicado, fazíamos gato no orelhão para poder ligar para os cara. Os contratos com os clubes eram feitos mais por indicação de conhecidos, do que por empresários.” Outro ponto destacado fica por conta dos jogos gravados, diferente de hoje onde os vários vídeos de atletas chegam nas mãos dos dirigentes dos clubes. para conseguir um contrato.
Outro ponto destacado é o estilo de jogo. Segundo o zagueiro, quando começou a jogar futebol, os dirigentes preferiam zagueiros viris que amedrontavam atacantes, que jogavam duro. “Sempre fui um cara mais técnico, se fosse começar hoje teria uma carreira muito mais fácil, teria ido muito mais longe.”
Encerramento da carreira
Toda carreira profissional tem um fim, a de Masiero foi aos 33 anos. Em 2014, após passagem pelo Panambi, optou por largar o futebol para ficar mais próximo da família. Outro ponto que o fez desistir foram as dores no joelho. “Não sentia mais prazer pra jogar. Tive três cirurgias de joelho. Na pré-temporada sofria muita dor. Após cada jogo, ficava uns três dias para recuperar.”
Dinheiro para receber
Muitos jogadores que atuam no interior do futebol brasileiro ficam sem receber todo o valor e com o ex-atleta não foi diferente. O pior momento foi no início, durante a passagem pelo Caxias, onde ficou muitos meses sem receber e depois que acabou o contrato entrou na justiça para ganhar o valor. “Foi a única vez que entrei na justiça.”
Outra situação marcante foi no Riograndense, de Santa Maria. No primeiro mês de contrato, os atletas receberam certinhos. No mês seguinte não receberam mais. Masiero era o capitão do time e liderou a greve para receber o dinheiro. “Mesmo com toda essa situação, quase subimos para a primeira divisão do Gauchão, ficamos a poucos pontos do acesso.”
Carreira após aposentadoria
Depois de encerrar a carreira, Masiero recebeu vários convites para seguir no esporte. Um deles foi para ser auxiliar técnico de Rodrigo Bandeira. Outro foi para trabalhar no Lajeadense, mas nenhum agradou o ex-atleta. “Fiquei muito tempo longe de casa, então achei que era o momento de ficar com minha família e ter filhos.” O único trabalho que aceitou foi em 2014, quando ficou até 2015 como supervisor da Alaf, clube de futsal de Lajeado. Hoje trabalha em uma empresa que presta assessoria esportiva.
Diferenças entre amador e profissional
O futebol seguiu nas veias de Masiero. Após o término do contrato profissional começou a jogar no amador do Vale do Taquari. Ele lembra de um fato curioso que aconteceu em 2007. “Naquele ano estava parado e o Tomasi me convidou para jogar o interno do CTC, achei que ia me sobressair e vi que não era bem assim, a partir dali comecei a respeitar o amador.”
Segundo ele, o profissional é mais técnico onde o atleta depende dos companheiros para se sobressair. No amador não, o atleta que está bem fisicamente e tem qualidade se sobressai. “São poucos os casos como Bruno Henrique e o Damião que saem do amador e se destacam no profissional.”
Sequência no futebol
Pai de um menino, Masiero conta que incentivará o filho caso queira seguir a mesma carreira. A intenção é de colocar a criança em uma escolinha para desenvolver todos os fundamentos. “Indiferente o esporte que escolher, quero que ele seja bom em todas as funções. Estarei sempre acompanhando ele.”
Masiero conta que não forçará o filho para seguir no mundo do futebol. “Não vou forçar em nada, se não for jogador, que faça uma coisa que se sinta bem.”
Ficha técnica
Nome: Vinicius Pretto Masiero
Idade: 38
Natural de: Encantado
Resido em: Lajeado
Clubes por onde passou: Caxias (1997 a 2002), Ypiranga (2002), Lajeadense (2003 e 2006), São Luiz (2004), Encantado (2005), Inter-SM (2006), Avenida (2008), Rio Branco Americana (2008),
Santa Cruz (2009, 2010 e 2013), Ypiranga (2009), Cerâmica (2010), Goiânia (2010), Brasil de Pelotas (2010 e 2011), Novo Hamburgo (2011), União Frederiquense (2012), Riograndense-SM (2013), Guarani (2013) e Panambi (2014);
Títulos:
Campeão Gaúcho com o Caxias (2000);
Vice-campeão Gaúcho da 2ª Divisão com o Santa Cruz (2008);
Campeão do Interior com o Santa Cruz (2009);