Bolsonaro sai arranhado com demissão de Moro

Opinião

Adair Weiss

Adair Weiss

Diretor Executivo do Grupo A Hora

Coluna com visão empreendedora, de posicionamento e questionadora sobre as esferas públicas e privadas.

Bolsonaro sai arranhado com demissão de Moro

Lajeado

Com aparente cansaço, o presidente da República Jair Bolsonaro falou ontem em rede nacional de televisão, rádio e internet. Foram mais de 45 minutos de discurso em tom populista, buscando criar uma retórica de traição protagonizada pelo ex-ministro, Sérgio Moro, que anunciara sua demissão pela imprensa, na manhã do mesmo dia.

Visivelmente incomodado, Bolsonaro trouxe à tona várias questões aleatórias sobre episódios envolvendo sua relação com Sérgio Moro, sempre tentando estabelecer a narrativa de que se trata de um ex-ministro desobediente. Chegou a relatar momentos e conversas pessoais com o ex-ministro para desdenhar e reforçar a ideia de que Moro é intolerante e arrogante.

Por vezes, a retórica adotada por Jair Bolsonaro lembrava o ex-presidente Lula. Especialmente, no que diz respeito à vitimização. Não admitiu nenhum ato falho e negou todas as acusações graves que Moro fez pela manhã. Assim como o petista era acostumado, Bolsonaro jogou para o terreno alheio a “irresponsabilidade” ou “culpa” pelo cenário ruim criado.

Na tentativa de estabelecer uma “normalidade”, Bolsonaro garantiu que o governo seguirá em frente. Citou o “trabalho difícil” dos ministros – “levamos bala na cara todos os dias” – e, tentando passar uma imagem de unidade entre todos.

O vice-presidente, Amilton Mourão, ao lado, não foi citado nas frases elogiosas que o presidente teceu aos chefes dos ministérios. Reforçou a autoridade presidencial e a desobediência do ex-ministro Moro, deixando claro mais de uma vez que, a prerrogativa de nomear ou demitir ministros e assessores é do presidente da república.

Uma análise preliminar nos permite afirmar que Bolsonaro sai deste episódio mais fraco do que entrou. Moro era uma espécie de blindagem do Governo no quesito defesa da moral e licitude. Muitos setores torcem o nariz para Bolsonaro, mas mantinham certa simpatia pelo governo em razão da promessa de combate a corrupção, simbolizada pela figura de Sérgio Moro na Justiça.

Moralmente, Bolsonaro sai arranhado. É o segundo ministro com boa aprovação popular que deixa o governo. Depois de Mandeta, Moro reforça o coro daqueles que consideram Bolsonaro um político autoritário, avesso ao trabalho técnico.

Resta o ministro da Economia, Paulo Guedes. No jogo de xadrez, pode-se dizer que ele agora é a torre entre os demais soldados que se submetem ao comando de Bolsonaro. Mourão pode ser a rainha no tabuleiro que, a qualquer momento, pode ocupar o lugar do chefe maior.

A dúvida são os militares. A imprensa nacional noticiou que estes tentaram demover Bolsonaro da saída de Moro. Resta saber se o presidente tem as costas quentes dos homens de farda, ou se estes apenas o observam nesta guinada incessante pelo desgaste.

Com relação a Sérgio Moro fica a expectativa sobre seu futuro, se vai encarar uma candidatura a presidência em 2022. Aliás, provocação nesta linha fez Bolsonaro durante seu discurso.

Enquanto isso, o coronavírus avança e corrói ainda mais a reputação do presidente que insiste em desdenhar o isolamento social.

Os próximos dias prometem…

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