• Como foi receber o diagnóstico do câncer e o que mudou na tua vida com o surto da covid-19?
Recebi o diagnóstico no fim do ano passado. Minha mãe faleceu de câncer e resolvi investigar. Minha irmã e eu descobrimos ter essa mutação genética. Em mim foi constatado um nódulo no seio. Comecei o tratamento na metade de janeiro. Agora estou iniciando a segunda etapa, das quimios vermelhas.
Sobre a pandemia, estou em isolamento faz mais de um mês. Há momentos e momentos. Comecei muito animada e depois algumas incertezas começaram a me deixar mais deprimida. Mas já passou.
Continuo trabalhando, mas em casa. Essa foi a principal mudança, pois é uma nova rotina. É algo necessário e o resguardo foi providencial. Procuro manter as coisas dentro da normalidade e continuo envolvida nas publicações do “peito aberto” (página de instagram em que ela escreve sobre câncer, prevenção e tratamento).
• Em janeiro, antes do início das sessões de quimioterapia, o A Hora publicou uma reportagem sobre tua história. Naquele momento, você falou que gostaria de ressignificar a luta contra o câncer, que a experiência fosse diferente do que vivenciou com tua mãe devido ao sofrimento de toda a família por anos. Passados três meses, como é enfrentar as sessões de quimioterapia?
Sempre procuro ver as coisas pelo copo cheio, buscando algo de positivo. Assim também é com a pandemia. Como sociedade, precisamos encontrar as oportunidades, repensar nossa relação, nossas atitudes e o nosso consumo.
No tratamento do câncer sigo esse otimismo. O efeito das substâncias nos deixa mais sensível e por vezes até desanimada. Mas é normal, é um efeito previsto e procuro respeitar essas sensações.
Em relação aos resultados, tive uma consulta hoje (ontem) e o tumor diminuiu bastante. É um ótimo indicativo. Terei mais dois meses de quimioterapia e depois a cirurgia para retirada dos seios. Está dentro do previsto e os efeitos colaterais já eram esperados.
• Você falou que a pandemia também é uma oportunidade. O que espera da sociedade no pós-coronavírus?
Não espero nada dos outros. Isso está neles, não em mim. A mudança de comportamento, de atitude, de visão está nas pessoas. No entanto, tenho um ideal. É algo que trabalho dentro de mim e que gostaria de ver materializado. O primeiro é de sermos mais empáticos, de nos colocarmos no lugar do outro e respeitar a história de cada um.
Teremos de passar por uma grande transformação e tudo começa olhando para o lado. Na economia, vi movimentos para valorizar os negócios locais. Isso é tudo o que precisamos agora. Temos de nos voltar para quem está perto.