“Nas semanas que estávamos fechadas, ficamos batendo cabeça, pensando em como pagaríamos as contas. Foram dias de sufoco, sem entender o que iria acontecer. Então a gente precisou se reinventar”. Esse resumo da empresária Ana Laura Munhoz serve como um exemplo para muitos pequenos empresários do país e da região.
Proprietária da Mora Acessórios, especializada em produtos de tecidos, precisou mudar quase tudo. Do atendimento, contato com clientes, formas de pagamento e até na linha de produtos. A volta das atividades comerciais em Lajeado coincidiu com o tempo necessário para absorver a nova realidade e estabelecer novas estratégias.
Com a obrigatoriedade do uso de máscaras, começaram a produzir os itens em mais escala. Estar preparada para o momento exige intensidade, frisa Ana Laura. “Conseguimos nos adaptar. Hoje mais de 80% das nossas vendas são pela internet.”
Por meio dos canais de relacionamento nas redes sociais, a prioridade é atender de forma remota, evitando ao máximo o contato entre as pessoas. Na linha de produção, também houve mudanças. “Dedicamos muito mais tempo à limpeza. Tudo é higienizado e não permitimos a entrada de mais de uma pessoa por vez.”
O processo para se moldar à nova realidade passou pela necessidade de voltar os olhos mais para dentro do negócio. “A Mora desenvolve produtos em tecidos. Isso está dentro da nossa empresa, é a base. Nos perguntamos muito o que precisávamos fazer. Nosso viés sempre foi de produtos úteis às pessoas. Então neste momento, criamos máscaras, fios para álcool gel e um porta máscara, para guardar de forma adequada até lavar.”
Junto com isso, adotaram medidas para contribuir com instituições assistenciais. Por meio de vouchers, os clientes que comprassem R$ 100, ganham vales de R$ 20 para destinar algum produto para doação. Nesta semana, o abrigo São Chico irá receber 50 máscaras. “Foi uma forma que pensamos para ajudar. Tanto a nossa empresa quanto o cliente estão contribuindo”, acredita Ana Laura.
A experiência da Mora é um indicativo de como os pequenos negócios são impactados pela crise epidemiológica. Inclusive o Sebrae criou um monitoramento semanal para esse tipo de negócios.
Na segunda semana de diagnóstico, a pesquisa mostra que 71% dos pequenos negócios sofrem impactos negativos devido ao isolamento. No próximo mês, 31% das empresas entrevistadas afirmam que precisarão reinventar o trabalho. Desse total, 30% são do comércio.
Usar o tempo livre
Diretor do Centro de Gestão Organizacional (CGO) da Univates, Sandro Faleiro, recomenda alguns passos importantes para o micro e pequeno empresário diante da pandemia. “O primeiro é fazer um levantamento do mínimo necessário para se manter no negócio.”
As despesas com folha salarial costumam ser as maiores, diz. Se for um microempreendedor individual, essa análise fica mais fácil. “Este trabalhador tem de levar o dinheiro para casa, à família. Agora quando tem funcionários, é preciso saber o quanto é preciso. A partir disso, se estabelece uma negociação. Muitos estão optando por redução da carga horária e dos salários para evitar demissões”, relata Faleiro.
O consultor é um dos integrantes do programa Teia de Negócios. A iniciativa desenvolvida pela Univates, Sebrae e Pro_Move Lajeado, oferece auxílio gratuito para micro e pequenos empresários que enfrentam dificuldades gerenciais frente ao surto de coronavírus.
“Temos orientado os empreendedores e mostrado direções frente a esse momento de isolamento. Cada negócio tem suas particularidades e para tomar a melhor decisão, é preciso se preparar”.
Conforme Faleiro, uma conduta importante neste momento é aproveitar o tempo livre e buscar formações pela internet. “Há muitos cursos gratuitos neste momento. Empresários fazendo vídeos pelo youtube e aconselhando formas de trabalhar.”