A suspensão das aulas terá impacto inevitável sobre o ano letivo dos estudantes. Ainda assim, não se deve pensar na perda do ano letivo. Esta é a avaliação da especialista em políticas públicas para a educação e coordenadora do curso de Pedagogia na Universidade de Santa Cruz, Suzana Speroni.
Em entrevista ao programa Frente e Verso da Rádio A Hora 102.9 na manhã desta sexta-feira, ela defendeu que uma eventual suspensão do ano letivo na rede estadual faria aumentar a discrepância entre ensino público e privado.
“Não é hora de pensar no término do ano letivo. Até porque, cancelando o ano letivo das escolas públicas, eu pergunto: como ficarão as escolas privadas? Vamos mais uma vez aumenta a diferença entre a rede pública e a privada? Não é hora de pensar nisso”, avaliou.
Na última semana, o secretário estadual de Educação, Faisal Karan afirmou, em entrevista à Rádio ABC, que não está descartada a perda do ano letivo.
A pedagoga percebe, no país, um movimento que tenta acelerar a volta às aulas. Ele afirma que é necessário bom senso por parte dos gestores e destacou o potencial de contágio e disseminação do vírus que as escolas têm. “É um local de interação, as crianças se tocam, brincam. Por mais que elas não sejam tão vulneráveis ao vírus, elas disseminam”.
Criar rotina sem estresse
A suspensão das aulas traz desafios a pais e alunos. Quem tem filhos, tem de se tornar uma espécie de assistente pedagógico. Já as crianças e adolescentes são desafiados a adquirirem mais autonomia na condução dos estudos.
A professora defende que o momento é propício para aproximar pais e filhos, mas sem deixar que a cobrança se converta em estresse.
Para Suzana, o mais importante é lembrar que não se trata de férias e manter a mobilização nos estudos. Os pais devem auxiliar os filhos a organizarem roteiros e criarem uma rotina dentro de suas possibilidades.
“As tarefas não têm uma relação tão profunda com a questão da aprendizagem, mas tem importância extremamente grande para lembrar a criança que ela não está em férias. Está em um ano letivo e precisa fazer um determinado rol de coisas”.
Redução de mensalidades
Tanto em escolas quanto em universidade privadas, gestores são pressionados a reduzir mensalidades durante a pandemia. Suzana afirma que há diversas saídas possíveis no momento e defende a importância do diálogo com a comunidade escolar para buscar uma conciliação entre os diversos impactos da pandemia. “A palavra-chave é bom senso”, resume.
Aprender na dificuldade
Por fim, a pedagoga defende a importância de tirarmos lições do momento de dificuldade.
“Qualquer crise tem alguma coisa a nos ensinar. Essa crise terá que nos ensinar a pensar a escola de uma outra forma, a pensar a família, as relações, a vida, de uma forma multifacetada”.