“O cooperativismo é a principal força para tornar o mundo um lugar melhor.” A afirmação parte do presidente do Sistema Ocerg\Sescoop, Vergílio Perius, e traduz também uma esperança da Organização das Nações Unidas (ONU). Estimativas da entidade apontam que esse modelo local aproxima pequenas comunidades, facilita o acesso a mercado, crédito, seguro e tecnologia.
O poder de agir dentro de forma local, como força de desenvolvimento, garante condições de mitigar perdas nesse momento de crise. No Vale do Taquari, estima o representante das cooperativas gaúchas, mais de 80% da população está associada a alguma entidade desse setor.
Uma amostra dessa importância é o repasse de quase R$ 8 milhões da Sicredi Integração RS/MG, dividido entre 52 mil associados. Por meio da política de distribuição de resultado, o montante foi confirmado por meio de assembleia nessa semana.
O dinheiro corresponde ao resultado do ano passado e os valores individuais são depositados de acordo com a movimentação de produtos e serviços durante o ano. “Estamos muito felizes. O vírus nos obrigou a mudar, pois temíamos o cancelamento das assembleias”, conta o presidente da Sicredi Integração RS/MG, Adilson Metz.
Pela primeira vez, a apresentação dos resultados precisou ser pela internet. “Tivemos 100% de participação dos núcleos, inclusive de Minas Gerais.” A unidade com matriz em Lajeado, foi pioneira no RS nesse modelo.
As outras cooperativas do Vale, a Ouro Branco, em Teutônia, e a Região dos Vales, em Encantado, estão com os processos de assembleias em andamento ao longo das próximas semanas.
“Estamos vivendo duas doenças”
Primeiro a pandemia na saúde. Depois as perdas na agricultura em decorrência da estiagem. “Estamos vivendo duas doenças. E agora precisamos agir rápido e juntos para superar esse momento”, afirma Metz.
Na avaliação dele, esse cenário de crise e de temor quanto aos efeitos dessa combinação de dificuldades na economia exige poder de reação e atitude. “Para cada associado há um remédio diferente. Alguns precisam de crédito, outros de renegociação. Dentre da possibilidade, vamos procurar ajudar.”
Com a volta do comércio na região e a necessidade da prevenção para evitar um pico de contágio, Metz acredita na força comunitária do Vale para uma retomada produtiva em breve. “Vamos viver cada dia. Com trabalho, cuidado da saúde, por que essa não tem preço. A comunidade quando trabalha unida ela cresce. Nesse momento o cooperativismo é uma ferramenta importante, pois une o trabalho e a preocupação com a sociedade local.”
Detalhes
A Sicredi Integração RS/MG tem 19 agências em 14 municípios. A cooperativa administra cerca de R$ 1,8 bilhão em ativos e contabiliza um patrimônio líquido de quase R$ 218 milhões.
O resultado em 2019 superou R$ 35 milhões. Deste total, R$ 1,8 milhões já foi creditado aos associados em dezembro na forma de juros ao capital e cerca de R$ 637 mil estão reservados para o Fundo Filantrópico, que será distribuído no segundo semestre deste ano.
Em agosto do ano passado, foram destinados mais de R$ 560 mil para 136 projetos sociais. O valor contemplou ações nas áreas de educação, saúde, segurança, cultura, esporte e inclusão social.
Pelo estatuto da cooperativa, a instituição deve destinar, a cada ano, 2% das sobras líquidas a projetos sociais nos 11 municípios da área de abrangência. A seleção dos projetos passa por uma avaliação das equipes técnicas das 15 agências vinculadas à central regional da Sicredi.
ENTREVISTA
“Temos de valorizar o que é nosso”
Vergílio Perius, presidente do Sistema Ocergs/Sescoop
A Hora – Essa destinação de quase R$ 8 milhões para associados locais representa uma das missões das cooperativas. A partir disso, como avalia a importância dessas organizações?
Vergílio Perius – Se trata de uma decisão do sistema Sicredi em nível estadual. As cooperativas destinam eventuais sobras. No ano passado, para se ter uma ideia, a economia gaúcha recebeu mais de R$ 1 bilhão de volta por meio dessa política. A diferença é que ao invés de devolver o valor agregado ao capital, como outras instituições privadas, o dinheiro vai para o trabalho, para aqueles que fazem a roda girar nas suas comunidades”.
A Hora – Neste momento de crise, como esse olhar local pode mitigar perdas econômicas?
Perius – Se todos colaborarem, isso faz a sociedade crescer. O Vale do Taquari é uma das regiões mais pujantes do estado, muito pela produção de alimentos, pelos resultados das cooperativas do agro, como a Dália e a Languiru. Perdas vão ocorrer, mas talvez na região sejam menores. O momento é da comunidade olhar para si. Temos de valorizar o que é nosso. Assim o dinheiro circula entre a própria população. Como diz a própria ONU, o “cooperativismo faz o mundo melhor”.
Vergílio Perius, presidente do Sistema Ocergs/Sescoop / Crédito: Divulgação
