Enquanto atividades industriais ligadas a fabricação de peças, máquinas, móveis, calçados e roupas enfrentam dificuldades devido às restrições impostas pela pandemia, a produção alimentícia vive a expectativa de expansão dos negócios.
No mercado interno, há redução no consumo. Por outro lado, a tendência é de mais negócios com o exterior. Ainda assim, o momento é de cautela, alerta o coordenador do curso de Ciências Contábeis da Univates, Adriano Azeredo.
Segundo ele, todos os segmentos são impactados pelas restrições. Em menor escala está o setor de alimentos, principal atividade econômica do Vale. “Em todo o país vemos que a indústria está garantindo mais empregabilidade. Por exemplo, a cooperativa Aurora, de SC, está contratando trabalhadores que foram demitidos do setor têxtil.”
Neste contexto, cita ainda um aumento nos custos de produção devido à reorganização das fábricas, ampliações de turnos, redução no número de trabalhadores por setor. Ainda assim, Azeredo realça que o Vale do Taquari pode ter oportunidades devido às restrições em alguns países. “Empresas com certificações internacionais terão mais possibilidades de exportar.”
Essa análise é reforçada pelo presidente da Cooperativa Languiru, Dirceu Bayer. “Embora exista a saída de funcionários da faixa de risco, isso não tem comprometido a produção. Sentimos uma queda na comercialização pelo fato de restaurantes, lanchonetes e outros comércios estarem fechado. Mas conseguimos a transferência de pontos de venda.”
Apesar da perspectiva positiva para a cadeia alimentícia, a economia nacional irá recuar. Conforme o mercado financeiro, a queda estimada do PIB é de no mínimo 1,9% .
Indústria americana fechada
A Smithfield Foods, maior frigorífico de suínos dos EUA, anunciou a suspensão dos abates devido ao coronavírus. “Isso terá uma grande influência no mercado mundial. Também se traduz em oportunidade para empresas locais e do país”, afirma Bayer.
Junto disso, a Índia e a China registram problemas sanitários devido à peste suína. “Mesmo que a Languiru não atinja esses mercados, há uma tendência de se deslocar produtos para outros países e também para o consumo interno.”
Para atender essas demandas, a cooperativa dobrou a capacidade de abate e abriu vagas de emprego. Serão 150 postos na unidade de frangos e 65 na planta de suínos. A Languiru emprega mais de 3 mil pessoas.
Dificuldade para pequenas empresas
A economista e presidente do Conselho de Desenvolvimento (Codevat), Cintia Agostini, condiciona os movimentos para atender os mercados mundiais às estruturas das empresas. “Sabemos que o consumo de carne no Brasil não cresceu. Dados indicam que há inclusive um decréscimo. As famílias estão comprando menos. Já as empresas de pequeno e médio porte estão com dificuldade para produzir.”
Os motivos vão desde a falta de mão de obra, passando pela dificuldade em conseguir matéria-prima na mesma proporção de antes da pandemia. “Empresas melhor estruturadas, como as nossas cooperativas, atendem uma demanda que outros não conseguem.”
Com isso, organizações de maior porte estão ampliando as produções. Por vezes, até para fazer estoque devido às incertezas sobre os contágios pela covid-19. “Nossa região, por ter uma economia voltada à produção de alimentos, com cadeias diversificadas, nos torna menos suscetíveis a crises, pois tratar e trabalhar esse segmento é bem de subsistência, é o básico às pessoas.”
Ajuda para se reinventar
Para o professor Adriano Azeredo, uma forma de encontrar caminhos é buscar novas formas de fazer negócios. Com isso em mente, a Univates, o Sebrae e o Pro_Move Lajeado oferecem auxílio gratuito para micro e pequenos empreendedores.
Se trata do projeto Teia de Negócios. A iniciativa reúne professores, estudantes e voluntários. A mentoria ofertada aos empreendedores é gratuita.