Arroio do Meio ganhou um novo habitante na terça-feira, 7. Com 54 centímetros e 4,1 quilos, Antônio nascia às 13h23min, segundo filho de Samuel, 35, e Mara Betina, 37. Enquanto os médicos faziam a cesária, isolados no Hospital São José, o Brasil contabilizava mais de 14 mil casos do coronavírus.
Dar à luz em meio a maior pandemia da atual geração preocupou o casal. Desde o início do ano, acompanhavam as notícias sobre o vírus que assolava a China e ameaçava chegar a todos os pontos do mundo.
Os primeiros casos no Brasil e a possibilidade de impacto no sistema de saúde regional fez os pais cogitarem a possibilidade de antecipar o parto. “Nosso medo foi ter médicos e hospitais ocupados em função da pandemia”, lembra Mara Betina.
O parto de Antônio foi mais tranquilo que o imaginado, reconhecem. Entretanto ressaltam as várias medidas de segurança que incluíam o afastamento de familiares do hospital. Até o pequeno Bento, de três anos, não pode ver o irmão recém-nascido. “Foi um protocolo diferente do parto do Bento, mas compreensível.
Percebemos em toda a equipe médica a preocupação necessária para esse momento”, afirma Mara Betina.
O pequeno Antônio chegou em casa ontem, 9. Até o momento, o único contato que teve com os parentes foi por videochamadas no WhatsApp. A situação, conforme Mara Betina, é compreendida por todos. “A videochamada se tornou o encontro das famílias. Podemos conversar e nos ver. Já ajuda”, percebe Samuel.
Trabalhando em homeoffice, o casal de professores pretende se manter isolado com os filhos e ampliar os cuidados com a higiene. A rotina de atividades, combinada com Bento, conta com brincadeiras, televisão e leitura. O contato pessoal com os parentes, só quando os profissionais de saúde autorizarem.
Primogênita em meio à pandemia
A impossibilidade de contato com parentes é a principal apreensão para Fernando Duarte, 31, e Amanda Borges, 26. Eles percebem que a ajuda serie bem-vinda no cuidado da primogênita Antonela. “Somos marinheiros de primeira viagem e não temos presentes pessoas como os avós”, lamenta.
Os casos do coronavírus surgiam no país quando Antonela nasceu, na tarde de 10 de março. Na primeira semana, os padrinhos e avós puderam visitar a bebê. “Foram momentos de muito carinho e felicidade”, resume Duarte.
Tudo mudou após uma consulta de rotina no dia 17 de março. O pediatra recomendou o isolamento em função do avanço da pandemia. A partir dai, o contato passou a ser apenas por telefone e no compartilhamento de fotos e vídeos. “Estamos sentindo bastante, pois somos muito próximos das nossas famílias, mas sabemos que isso é importante para nos proteger e proteger eles”, acrescenta.
Com dois empregos, Duarte ressalta ainda a preocupação de não trazer o vírus para casa. A nova rotina inclui banhos cada vez que retorna do trabalho e a “mania” de lavar as mãos constantemente com o álcool em gel.
Entrevistas
Luiz Fernando Kehl
• O pediatra e professor da Univates cita os cuidados necessários com recém-nascidos e aborda as hipóteses para as crianças não serem tão impactadas pelo vírus.
“O convívio deve ser apenas com o pai e a mãe”
Como explicar o fato das crianças não serem tão impactadas pela doença?
Até hoje só há hipóteses. Uma é que a criança não tem uma estrutura na célula por onde o vírus chega. Outra hipótese é que a criança recebe uma grande quantidade de vacinas e elas, de alguma forma, exercem a defesa. A terceira hipótese é que as crianças fazem uma vacina contra a tuberculose que tem ajudado. Mas repito, são hipóteses. Não temos provas.
É exagero dos pais impedir o contato do bebê com familiares?
É algo prudente nesta fase de pandemia. Recomenda-se como uma forma de proteger o recém-nascido e os outros familiares. O convívio deve ser apenas com o pai e a mãe, evitando outras pessoas.
Quais são os demais cuidados que pais podem ter durante a pandemia?
O pai que está trabalhando e volta para casa precisa se higienizar antes de ter acesso ao recém-nascido. Se for o portador e não tiver os cuidados vai transmitir ao bebê. Também é importante incentivar o uso de máscaras na rua. Ela é a única forma de defesa do vírus, pois ele penetra pelo nariz, olhos ou boca.
Carolina Eckerdt Schroer
• A obstetra especializada em medicina fetal enumera os cuidados necessários para evitar o vírus e a diferença entre a covid-19 e a H1N1 nas gestantes.
“Nascimento é momento social. A restrição se torna sofrida”
A mãe pode passar o vírus para o filho durante a gravidez?
Chamamos isso de transição vertical. Até o momento não há nenhuma evidência. Por isso não mudamos nenhuma conduta em relação aos gestantes de mudar o pré-natal ou alterar data de nascimento.
A gravidez é um período em que a mãe corre mais perigo caso contraia a covid-19?
Toda a gestante tem uma imunidade fragilizada. Mas diferente do que ocorreu com a gripe A (H1N1), com o covid-19 a gestante não é grupo de risco e não tem predisposição maior do que a população normal de contrair a doença.
Por que essa diferença entre os dois vírus?
Ainda não se sabe. Além das gestantes, o vírus afetava diferente as crianças. O que se vê muito são pacientes, até jovens, que são acometidos é que já possuem alguma doença de base, principalmente problemas respiratórios ou diabetes.
Quis os cuidados que a mãe deve ter após o nascimento da criança?
O que estou recomendando para as mães que internam para ganhar o bebê é evitar o contato com outras pessoas. O que aconteceu nos hospitais é que as gestantes não podem receber visita. O nascimento é um momento social. A restrição se torna sofrida.
Sobre a amamentação, como a mãe deve agir caso sinta sintomas ou seja infectada?
Mesmo que a mãe esteja infectada ou tenha os sintomas gripais e febre, ela não deve parar de amamentar. A recomendação é que use máscara e redobre os cuidados com a higiene. Não tem contraindicação a amamentação.