Quando o futebol retornar haverá mudanças significativas dentro de campo. A IFAB (International Football Association Board) divulgou nessa semana algumas mudanças importantes para as regras do jogo que passam a ser adotadas obrigatoriamente pela arbitragem nas competições e partidas disputadas a partir do próximo dia 1º de junho.
Uma das principais alterações esclarece um detalhe sobre infrações de mão da bola, que passam a ter uma ilustração mostrando o limite entre o que é no braço e no ombro. Junto com a imagem, a partir de agora o texto da regra explica que “para determinar claramente a infração de mão na bola, o limite do braço é estabelecido no ponto inferior da axila”.
Para o árbitro Leandro Vuaden, o tema é polêmico. “Mão na bola, bola na mão é o tema mais polêmico das regras que foram alteradas.” Para ele, todas as mudanças vieram para ajudar a melhorar ainda mais o futebol.
“O VAR veio para ficar”
Em entrevista para o programa A Hora Esportes, da Rádio A Hora, Leandro Vuaden fez um análise sobre as novas regras e também uma avaliação sobre o VAR.
• O International Board divulgou essa semana uma série de mudanças nas regras no quesito à arbitragem. A principal delas é referente ao toque de mão, onde não configurará mais infração o toque for perto do ombro. Tu vê como benéfico essa medida? Tem algo a comentar sobre as outras?
O mais importante falar que esse tema ele é polêmico. Mão na bola, bola na mão é o tema mais polêmico das regras que foram alteradas. Acredito que toda as alterações são discutidas e analisadas. Elas precisam ser efetivamente colocadas em prática para ver como vai funcionar. A CBF já nos repassou algumas orientações para trabalharmos com ela. Todas as alterações que venham para ajudar o futebol, eu como sendo árbitro, vejo com bons olhos. Até porque havia de certa forma um beneficiamento ao defensor em relação ao atacante. Muitas vezes a bola tocava no braço do defensor e não era marcado infração, mas se fosse no atacante aí era. Havia de certa forma um desiquilíbrio e isso foi ajustado.
• Quando ocorrem essas medidas, alterações em regras, há um período de adequação? Elas entram em vigor em junho, o Brasileirão já começará com elas em vigência?
Sempre tem. Dia sim, dia não, estamos realizando atividades online. Estamos fazendo exercícios para nos mantermos ativos. Tanto em questão de regra, como de lance. A cada dois dias recebemos vídeos para análise e questões sobre os lances. Acredito que antes do início da competição teremos encontro para alinhar os últimos detalhes. A CBF sempre teve essa preocupação em reunir os árbitros e passar todas as diretrizes. A partir daí tem que colocar em prática. Além dessa questão teórica, também existe recomendação da parte física. Os exercícios são fundamentais para voltar em alto nível.
• O VAR foi implementado no Brasil e parece que veio para ficar. No início houve uma certa resistência quanto à tecnologia, principalmente pela demora. Mas já no final da temporada, a utilização foi aprimorada. Qual a tua avaliação sobre o VAR no país? O que ainda pode melhorar?
Vejo ele com bons olhos. Ele é uma ferramenta que veio para ficar. Muitas vezes as pessoas julgam a gente pois tem acesso a um recurso que nós não temos. O árbitro é um ser humano e é passível de cometer equivoco. Isso faz parte. Porque não dar ao árbitro de futebol uma ferramenta para ele rever uma decisão? Nesse primeiro momento, se busca sempre algo para tentar manchar a credibilidade do VAR. E a questão da justiça e acerto? Porque não valorizar isso? Passado esse primeiro momento de adaptação, com certeza quando voltar as competições todos os esportistas vão ver a agilidade. Nós não tivemos a oportunidade de treinar “offline”. Nosso treinamento foi valendo, no meio das competições. Mas vejo com bons olhos e acredito que o VAR veio para ficar.
• Em algumas competições o VAR é utilizado, outras não. Como manter uma linha de arbitragem para não depender apenas do VAR?
Nós tivemos muitos problemas ano passado no andamento do VAR justamente por isso. O árbitro no campo do jogo tem que apitar da mesma forma. Com ou sem VAR, ele tem que seguir da mesma forma, com suas convicções. Tem que apitar o jogo como se não tivesse o VAR. Evidentemente que quando tiver o VAR, têm que respeitar os protocolos. É um acréscimo. Quando não tem ele, tem que continuar fazendo um bom trabalho. Procurando um bom ângulo dentro de campo, procurar ajuda dos auxiliares, do quarto árbitro. O árbitro não pode ter medo do VAR. Tem muitos que pensam que se tem o VAR não precisa apitar, que a tecnologia vai dar conta. Muitos árbitros no começo pensaram assim, em deixar o VAR decidir, mas aí fica feio, quem está dentro do futebol percebe isso e isso não pode acontecer.
• Estás na arbitragem a cerca de 20 anos e é um dos árbitros mais experientes do país. O que prevê para o futuro? Está na hora de parar?
Não, muito pelo contrário. Estou com mais gana que antes. Posso apitar mais cinco anos. Tenho algumas metas para atingir. Ano passado consegui passar a marca de 200 jogos na Série A do Brasileiro. Hoje só o Héber Roberto Lopes passou dessa marca. Sou o segundo árbitros com mais números de jogos na Série A em ativa. Enquanto tiver condições físicas quero continuar na ativa, apitando os jogos. E depois disso, o Gaciba está vendo a possibilidade para criar um quadro especifico para continuar trabalhando no VAR. Se parar dentro do campo de jogo, vou continuar colaborando com o futebol fora dele.