A história de Rômulo Xavier Vier com o empreendedorismo e a moda remonta à infância. Aos três anos ele começou a frequentar a fábrica de confecções e as lojas da família. Aos nove, ajudava nas vendas em feiras e começava a ganhar as primeiras comissões.
Em 2004, assumiu a administração da empresa fundada em 1945 por seu avô, Francisco Xavier Vier. Na época, a empresa contava com apenas duas funcionárias. De lá para cá a marca cresceu e se tornou uma rede com 19 lojas em todo o Rio Grande do Sul.
Qual é a origem das Lojas Prata?
Rômulo Xavier Vier – A Prata nasceu em 1945 por iniciativa do meu avô, Francisco Xavier Vier. Meu pai, Gilberto Vier, deu sequência a tudo isso. Meu avô perdendo a mãe no parto e o pai aos dois anos de idade. Nele está o embrião da empresa, que tem como maior qualidade a resistência e a resiliência. Meu avô foi criado por tios e pela rua. Aprendeu a arte da costura com uma tia e se especializou como alfaiate. Seu ponto de vendas era dentro de um ônibus. Ele vinha de Montenegro para Estrela, onde passava por todo interior em um burrinho. Existem pessoas que ainda vivem no interior e tem relatos sobre essa história. Com o passar do tempo, Estrela virou sede da Prata. Meu avô criou o nome e o slongan “A marca é Prata, mas o cliente é ouro.”
Quais as suas lembranças mais remotas em relação à empresa?
Vier – A lembrança mais antiga é de quando eu tinha três anos. Do meu avô, lembro dele já de cama, com uma bolinha de exercícios em mãos. Meu pai conversava com ele, eu apenas olhava. Cresci dentro de uma fábrica de costura, ao lado de costureiras e de tecidos. A fábrica sempre estava linkada com a moda e com a paixão pelos clientes. Lembro de uma vez em que perguntei para o meu pai sobre porque ele estava estonando as camisas em uma lavanderia e aplicando o estilo. Fui aprendendo tudo com ele.
Como essa experiência de vivenciar o negócio ainda infância colaborou com a tua trajetória enquanto empreendedor?
Vier – Facilita muito. Aprendi com meu pai toda a organização e o carinho que ele sempre teve com as pessoas. Em 75 anos de Prata tivemos duas causas trabalhistas apenas, o que mostra que estamos juntos com nossos funcionários. Tive muitas experiências bacanas. Em 1992, quando tinha 9 anos, participava de feiras pelo Brasil. Lembro que vendia doces feitos pela minha mãe no estande que fizemos na cidade de Camburiú.
No final de cada dia, eu comprava 10, 12 dólares. Passamos três meses lá e voltei das férias com mil dólares. Meu Pai me incentivava muito. Ele pagava minha comissão na hora de venda para eu sentir o sabor do trabalho. Depois, aprendi sobre o controle de qualidade junto com as costureiras, sobre como buscar a costura perfeita. Aprendi a sempre buscar o máximo, nunca estar satisfeito e sempre propor desafios para todos.
Quando a Prata começou a crescer e de que forma a empresa se tornou uma rede com 15 lojas?
Vier – Não tem como fazer isso sem trabalhar 24 horas, 366 dias por ano. A mente não para nunca. De madrugada, acordo para escrever ideias. Abri mão de todo conforto que pude nos últimos 15 anos. Morei por oito anos em um apartamento comprado pelo Minha Casa Minha Vida, com orgulho. Quando nasceu minha filha, achei que era hora de melhorar a condição. Em 2004, no primeiro semestre, eu ainda tentava jogar futebol. Parei e fui ajudar a família para tentar fazer o que eu sempre gostei desde a infância: me relacionar e me envolver com pessoas. Fazer amigos e, se possível, negócios. Quando cheguei na empresa, em 2004, estávamos em um período crítico.
Quais eram as dificuldades e como elas foram superadas?
Vier – Eram dificuldades financeiras, estoques baixos e caixas negativos. Mas tínhamos algo muito especial: as pessoas tinham carinho por nossa marca e queriam comprar de nós. Na época, era eu e mais duas funcionárias. Fizemos uma leitura de dentro para fora e vendemos muito bem até 2009, quando tivemos que repensar toda a empresa. Percebemos que o nicho de mercado que atuávamos estava acabando. Começava ali uma nova etapa onde tivemos que nos inspirar novamente nos clientes. Nascia ali nosso novo slogan: “Sua Vida nos Inspira”. Voltamos a empresa ao maior publico consumidor de confecção calçados e acessório, o mercado de moda para jovens e adulto. Começamos o mix de produtos e acrescentando muito estoque. Abrimos as condições de pagamentos.
Como foi a sua preparação para assumir a administração da empresa?
Vier – Fui preparado desde os três anos de idade, mesmo sem saberem que estavam me preparando. O maior dos preparos foi a batalha da vida. Em 2002, eu voltava de carona de porto alegre para não gastar em ônibus, por exemplo. Sempre enfrentei os problemas de frente. Meus pais sempre leram muito e eu sempre preferi a leitura em casa, autodidata do que em escolas. Fui por conta e descartando o que não queria aprender.
De que forma a Prata atua para manter a padronização em todas as unidades?
Vier – Amarramos os principais processos em ordem prioritária. Formar uma cultura em que todos hajam muito próximos exige muita dedicação. Nada que vemos pode passar e temos que enfrentar as conversas difíceis. Temos uma equipe que coordena toda a compra já pensada para a exposição: por metros quadrados, estilo de vida, membros e grades de acordo com cada variável. Cada entrada coordenada de mini grupinhos das mercadorias são implementadas pelo grupo e a logística tem que garantir do fornecedor a entrega na data e no local determinado. Nossa equipe é alimentada por uma plataforma de treinamento baseada em games.
Com essa plataforma, nossos funcionários se qualificam e exercitam as habilidades. Temos salas de treinamentos online com as quais conectamos conectamos todas nossas lojas diariamente e nos fortalecemos.
Como é feita a escolha dos trabalhadores e quais as características valorizadas pela empresa?
Vier – Iniciamos um processo de seleção quando ainda não precisamos desse profissional. É dever diário todos os lideres investirem 20 minutos do seu dia para que busquem profissionais para possíveis substituição. As entrevistas tem varias fases. Presencial, por aplicativo, por vídeo e na última fase é uma entrevista comigo. Ninguém entra na família Prata sem passar pela entrevista. Só admitimos os melhores e os que acreditamos que irão incorporar nossa cultura. As palavras chaves quanto ao comportamento de vida do entrevistado são honestidade, comprometimento, resiliência, protagonismo em suas vidas, pessoas que gostam de pessoas.
Como manter o negócio saudável em um setor altamente concorrido e com a enxurrada de produtos vindos da china?
Vier – Estamos apostando em ser autênticos e verdadeiros como marca. Melhoramos a cada dias as nossas coleções e nossas parcerias, sem abrir mão da competitividade de preços. Fabricamos em parcerias com a indústria Nacional mais de 30% das nossas vendas. A ideia é aumentar esse número rumo a autenticidade, na medida que temos mais lojas para poder diluir custos da cadeia e chegar ao ponto de verticalizar todo o negócio. Temos a expertise da indústria porque viemos da indústria.
Nesses 75 anos de história, a Prata passou por diversas crises na economia brasileira. Hoje enfrentamos mais uma crise, provocada pela pandemia de coronavírus. Como superar esses momentos?
Vier – As crises sempre foram ultrapassadas com amor ao negócio. Amor à Prata, que sempre foi o meio de sustento da família. Amor em poder ver os amigos vestindo o que comercializamos. Você não derruba um amor de verdade com facilidade. É sobre quem apanha mais e levanta que estamos falando, e não sobre quem sabe bater mais. O pior cenário possível para um varejista é a deflação e o desemprego. Seu estoque vai valer menos, e a inadimplência aumentara profundamente. Por isso é preciso se antecipar.
Como a empresa enxerga o avanço da tecnologia e as consequências para o varejo?
Vier – A inovação sempre fez parte de nossa empresa. Desde quando o meu avô não pagava aluguel dentro do ônibus para vender suas alfaiatarias até este momento em que treinamos online toda nossa equipe. Estamos assumindo mais riscos e mais projetos, mas com cautela. Estaremos operando de outras formas nos próximos anos. Tanto no mercado que já estamos como ampliando o segmento de atuação. Acredito que o e-commerce não vai substituir o varejo físico. Da mesma forma que o restaurante não vai deixar de existir por causa da tele- entrega. O sabor da experiência de ir numa loja legal, que tem conteúdo e originalidade e de fazer uma boa compra, não vai desaparecer. Os dois viverão juntos.