A FALTA

Opinião

Ney Arruda Filho

Ney Arruda Filho

Advogado

Coluna com foco na essência humana, tratando de temas desafiadores, aliada à visão jurídica

A FALTA

Lajeado

Enquanto escrevo este texto, ouço comentários no rádio. Estariam repercutindo o resultado do Gre-Nal, se tivesse acontecido o Gre-Nal. Os lances polêmicos, as faltas, os gols e os não-gols, mais um montão de outras ocorrências que passam despercebidas da maioria dos torcedores, mas que o olhar clínico dos comentaristas não perde. Foi por causa de uma falta – aquela irregularidade ou jogada violenta assinalada pelo árbitro – que começou uma confusão enorme, depois uma briga generalizada, envergonhando a todos no último clássico. Os dois times tiveram jogadores expulsos. Esses mesmos expulsos fariam falta no hipotético Gre-Nal da última quarta-feira. Mas essa já é outra falta, diferente daquela da anterior frase. Ou melhor, com outro sentido. E isso me faz relembrar o sentido das palavras. A palavra é falta.

A falta que faz o futebol. Desculpem se estou sendo fútil, mas o futebol está fazendo muita falta. Não só pra mim, que sou somente torcedor e aos demais torcedores. Os boleiros em geral, amadores, eventuais, de final de semana. Os encontros que o esporte promove, aquela resenha do antes e do depois. Aquela canseirinha boa, a ilusão de não ser sedentário.

A falta que faz encontrar a família e os amigos. Aquela sensação de calor e acolhimento que a gente nem lembrava o quanto era boa. Tá fazendo uma baita falta. Sair de casa sem receio e ir ver a minha mãe. Ela vai completar 90 anos e sentimos saudades um do outro. Visitar filhos e netos. Ver os netos crescerem mais de perto. De longe, parece que não tem tanta graça.

A falta que faz o trabalho e o salário. Acordar e não ter pra onde ir traz uma angústia indescritível. Pensar que a pandemia vai destruir empregos. O comércio paralisado vai refletir na redução da atividade industrial e o ciclo necessário do consumo poderá gerar uma onda de demissões.

A falta que faria o Estado, assim considerado o poder legal, aquele que dita as regras do jogo, se não o tivéssemos. Mas, bem, temos Estado e ele se faz presente. Não apenas em âmbito municipal, mas no estadual e no federal também. Por aqui, bem perto, vemos exemplos concretos de redução dos salários nos poderes Executivo e Legislativo. Falta algum? É do governo federal que vêm as medidas mais contundentes de enfrentamento dos efeitos da pandemia no cenário econômico. São medidas trabalhistas de apoio à manutenção do emprego, os novos prazos para recolhimento de contribuições e impostos, o auxílio emergencial de R$ 600,00, a liberação de parte do FGTS, a possibilidade de suspensão dos contratos de trabalho, redução de jornada e outras. São medidas econômicas, de fomento ao crédito, redução de juros, ampliação de prazos de pagamento.

Talvez ainda falte alguma coisa. O melhor mesmo seria se descobrissem a vacina. Mas enquanto isso, como diz meu amigo Fernando Rohsig, é melhor o feito do que o perfeito.

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