Quando viu o pai sair da Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Bruno Born, Jennifer Backes senti um alívio. Durante mais de 20 dias, a família viveu a apreensão e a incerteza quanto à saúde de Vilmar Backes, de 57 anos. Ele foi o primeiro caso confirmado de coronavírus em Lajeado.
Na tarde dessa segunda-feira, Jennifer pode finalmente rever o pai, ainda que sem poder tocá-lo. “Foi bem emocionante, toda a equipe se emocionou. Ele não teve muita reação, ainda não está muito lúcido. Bateu palmas, mas sem entender muito o que estava acontecendo”, diz a filha.
Por volta das 15h30min, ele foi transferido da UTI para um quarto de internação, no setor isolado para tratar de pacientes de covid-19. O paciente ainda está sem se alimentar e utiliza oxigênio.
Desde que foi internado, Vilmar chegou a ficar uma semana sedado. Somente na última sexta-feira, foi possível retirar os sedativos e o respirador. O hospital orientou que a família enviasse um telefone para ter contato por meio de vídeo.
Jennifer afirma que os profissionais da equipe do hospital são bastante atenciosos com a família. Duas vezes por dia, eles recebem ligações, atualizando a situação.
“Eles ligaram até para médicos da Itália para saber o que fazer. Se preocuparam muito em poder ajudar. Meu pai estava mais pra lá do que pra cá”, conta.
Ela afirma que o momento de maior tensão foi no domingo, um dia após a internação. “A gente viveu um pesadelo. Estávamos esperando a pior notícia”.
Cinco dias buscando atendimento
Os pais de Jennifer chegaram de um cruzeiro pelo litoral brasileiro na noite do dia 14, um sábado, já com febre. No dia seguinte, a família entrou em contato com a vigilância epidemiológica. A orientação era de ficar em casa e acompanhar os sintomas.
Diariamente, Jennfer acompanhava a piora no quadro dos pais, fazia contato com a vigilância sanitária e obtinha as mesmas respostas.
No dia 17, o casal foi levado à UPA. “Foi a maior negligência que eu já vi, ainda mais em época de pandemia. Essa é a maior indignação que eu tenho. Meu pai disse ‘eu estou morrendo, doutor’ e o médico não fez nenhum exame, nem tirou a febre”, diz.
Jennifer conta que o pai não era grupo de risco e não tem nenhuma doença crônica. Somente no dia 20, uma semana após a chegada, um médico e uma enfermeira foram examinar Vilmar e a esposa. A internação foi imediata.
Apelo à prevenção
Com a experiência de quem acompanha a doença de perto, Jennifer vê de forma crítica o relaxamento das medidas de isolamento visto nos últimos dias em Lajeado.
“Tem muita gente levando na brincadeira, saindo para passear. Ainda estamos no começo da pandemia, ela chegou tarde ao Brasil. Com a chegada do frio, a situação pode se agravar.“